Do DoLaDoDeLá -21/03/2012
Por Marcos Coimbra
O que se espera de quem não gosta do governo e o vê fazendo algo de que discorda?
Que se manifeste, que diga com clareza que é contra. Afinal, não é esse o papel da oposição?
Isso
vale para a oposição partidária e para os veículos de comunicação que
antipatizam com o governo. A existência de ambos é natural nas
sociedades democráticas e não há nada de errado em que tenham opiniões e
as externem.
Mas é possível que as oposições concordem,
circunstancialmente, com uma ação do governo. Que estejam, naquela
oportunidade, de acordo com ele. Que entendam que, por pior que seja,
esteja fazendo, a seus olhos, a coisa certa.
Nesses casos, o mais
comum é que não digam nada. Tudo normal, pois lhes seria estranho
aplaudi-lo, mesmo quando o que faz é algo que, provavelmente, fariam se
estivessem no poder.
Existem, no entanto, situações mais complexas no
plano da ética política. Pode acontecer de o governo tentar fazer a
coisa certa, a oposição - ou parte dela – estar de acordo com a
iniciativa, mas ser difícil viabilizá-la. A concretização das boas
intenções de um, admitidas pelo outro, pode ser complicada.
Agora,
por exemplo. O governo Dilma vive uma “crise política”, em grande
medida causada pela indisposição de aceitar as pressões dos partidos que
formam sua base no Congresso – em particular do PMDB e outras legendas
menores – por mais “espaço” na administração.
Até as pedras da
rua sabem o que isso significa. Que esses partidos querem aumentar a
influência sobre o destino das verbas federais e indicar os titulares de
órgãos governamentais, para que sejam geridos de forma “política”.
A
raiz da crise é o baixo clero. Com a aproximação das eleições
municipais, parlamentares cuja votação é localmente determinada ficam
nervosos quando não conseguem irrigar seus redutos com obras e
nomeações. Temem que a reeleição em 2014 fique comprometida e que
aventureiros venham tomar “seus” municípios.
O risco preocupa as
lideranças. A ameaça de diminuição de tamanho no Congresso assusta, pois
é disso que deriva o “espaço” que ocuparão no futuro governo – e mesmo
na segunda metade do atual, pois o mau desempenho na eleição municipal
costuma trazer consequências imediatas.
Se, por hipótese, o PMDB
sair dela com a imagem de “perdedor”, sua ascendência e sua presença na
Esplanada encolherão. O mesmo vale para os outros partidos da base e é
por isso que brigam por mais “espaço”. Ou seja, por mais dinheiro para
gastar em ações “políticas”.
Se isso for verdade, a crise decorre
de Dilma estar fazendo a coisa certa, recusando-se a concedê-lo. Todos,
inclusive as oposições, sabem que seria pior para o país se essas
pressões tivessem êxito.
Elas são reais. Como agora, na votação
da Lei Geral da Copa e do Código Florestal, em que ameaçam derrotar as
propostas do governo, não por ser ruins, mas para trocar o apoio pelo
“espaço”. Em outras palavras: criam dificuldades para obter facilidades.
Voltamos
à pergunta inicial: qual o papel das oposições em episódios como esses?
Como se comportar no Congresso? Alinhando-se com aqueles que querem
“espaço”, assim mantendo um jogo político que sabem danoso? Ou deveriam
agir como prometem quando dizem que farão “oposição ao governo e não ao
Brasil”?
Qual o papel de suas novas lideranças, que nem razões
têm para manter velhas rixas (do tipo “faço com o PT o que o PT fez
comigo”)? Não seria hora de sinalizar que é possível uma nova oposição,
genuinamente preocupada com o interesse público e desejada pela maioria
do país?
E qual o papel da imprensa oposicionista? Fingir que não conhece o jogo que está sendo jogado?
Ou deveria ser capaz de denunciar o que precisa ser denunciado e apoiar quem faz a coisa certa?
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PITACO DO ContrapontoPIG.
É
angustiante ver a uma Presidenta séria, bem intencionada e eficiente,
sendo acossada por uma base aliada gulosa e chantagista, e por uma
imprensa canalha e golpista.
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