Eliminar a discriminação contra negros
Cotas,
lei do ensino da história afro-brasileira nas escolas e o
reconhecimento de quilombos foram vitórias, mas o racismo ainda impede a
igualdade
Há
52 anos, em 21 de março de 1960, cerca de vinte mil negros protestavam
contra a lei do passe na cidade de Joanesburgo, na África do Sul.
Lutavam contra um sistema que os obrigava a portar cartões de
identificação que especificava os locais por onde podiam circular. Era
uma das lutas contra o apartheid.
No
bairro negro de Shaperville, os manifestantes se defrontaram com tropas
de segurança daquele sistema odioso. O que era para ser uma
manifestação pacífica se transformou em uma tragédia. As forças de
segurança atiraram sobre a multidão, deixando 186 feridos e 69 mortos.
Esse episódio ficou conhecido como o massacre de Shaperville.
Em
memória às vítimas do massacre, em 1976, a ONU (Organização das Nações
Unidas) instituiu o dia 21 de março como o Dia Internacional de Luta
pela Eliminação da Discriminação Racial.
Destacar
esse acontecimento é importante para que nunca esqueçamos dessa face
cruel do racismo, que não hesita em atirar em pessoas indefesas. Assim,
há 36 anos, o dia 21 de março é um marco para a comunidade negra na luta
contra o racismo e as discriminações. Ainda hoje, a influência do
racismo impede que negros vivam em condições de igualdade com os não
negros.
As
ações afirmativas de cotas na universidade para os jovens negros, o
Prouni, o programa de saúde para a população negra, o reconhecimento das
terras dos remanescentes de quilombos, o combate à intolerância
religiosa em face das religiões de matriz africana, entre outras ações,
trazem para ordem do dia um pouco dos desafios que ainda temos de
enfrentar para construir uma sociedade mais igualitária.
Contudo,
podemos nos orgulhar pelos avanços dados nos últimos anos. Um deles foi
a lei 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino sobre história e
cultura afro-brasileira nos ensinos fundamental e médio das escolas
pública e particular de todo o país.
Outro
foi a lei 12.288, que dispõe sobre o Estatuto da Igualdade Racial. Essa
é a primeira lei desde a abolição da escravidão que reúne inúmeras
possibilidades para que o Estado brasileiro repare, de uma vez por
todas, as desigualdades que são resquícios da escravidão.
A
Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu 2011 como o ano
internacional dos povos afrodescendentes. Buscou com isso que os Estados
independentes concentrassem ações para reparar as desigualdades
raciais.
Visto
que foi insuficiente aquele período de tempo, instituiu a década dos
afrodescendentes, que será lançada em dezembro de 2012.
É
a hora do fortalecimento das ações pela igualdade em todos os países
que tenham tido mão de obra escrava como base de seu desenvolvimento
capitalista, algo que originou desigualdades raciais de natureza
histórica.
O
mundo é melhor com as diferenças e diversidades. Vamos continuar
avançando na construção da cidadania e do acesso igualitário aos bens
econômicos e culturais para negros, indígenas, ciganos e todos os
segmentos minoritários da sociedade.
O
massacre dos jovens negros de Shaperville será lembrado para sempre. A
luta deles nos inspira a caminhar pela igualdade de oportunidades e por
sociedades livres do racismo e do preconceito.
Elói Ferreira Araújo, é presidente da Fundação Cultural Palmares, órgão vinculado ao ministério da Cultura
Nenhum comentário:
Postar um comentário