Por Marcelo Migliaccio — Blog Rio Acima
Por uma molecagem do destino, caiu-me nas mãos a edição desta semana daquela revista que pensa que o leitor é cego.
Depois de passar de passagem por páginas e páginas de anúncio, que mostram quem são os verdadeiros donos de qualquer meio de comunicação privado, cheguei ao editorial, que eles chamam de Carta ao Leitor e que, sabendo a imagem que a revista tem de seu público, me surpreendi por não estar escrito em Braille.
Com uma foto da presidente Dilma chorando numa recente cerimônia de troca de ministro, o sempre deliberadamente míope semanário ataca o governo dela, bem como os de Lula, o que não é novidade. Critica a coalizão montada pelo Executivo para ter maioria no Congresso e, assim, aprovar seus projetos. Diz que essa prática, usada em qualquer regime democrático, gera apadrinhamentos e corrupção (como ocorreu nos governos do PSDB, aliás, só que com menos gente sendo presa ou demitida).
Em suma, na primeira metade do texto, a revista para quem somos todos caolhos, surdos, mudos e retardados, prepara o que vem a seguir. E é aí que ela se revela.
Afirma o texto que Dilma deveria usar sua ampla base de apoio para "fazer as reformas pelas quais o Brasil todo clama" (bonito isso...)
E, veja só, a revista começa a enumerar suas prioridades, que, felizmente, não são as de Dilma Rousseff:
"(...) reformar as leis trabalhistas brasileiras dos tempos do fascismo e, assim, baratear o custo da mão de obra" - Ou seja, a revista quer que você, trabalhador, dê menos despesa ao seu patrão, possivelmente deixando de receber adicional de 30% nas férias, aviso prévio de 30 dias, multa de 40% no FGTS em caso de demissão sem justa causa.
"(...) acabar com a injstiça tributária (...)" - Claro, o choro de todo o sovina, que diz que vende caro porque paga impostos demais. Gozado é que, quando cortam os impostos, ele continua vendendo caro e põe no bolso a diferença...
"(...) reduzir o gigantismo do estado" - Aqui a meta é que seja vendido o que resta do patrimônio brasileiro, mas o estado brasileiro somos nós. A Petrobras, uma das maiores empresas do mundo, é minha e sua, no entanto eles querem que seja vendida a preço de banana a um desses megaempresários que guardam a ferrari na sala de jantar. Reduzir a presença do estado é aumentar a concentração de renda nas mãos de uns poucos, é fazer das insensíveis leis de mercado as senhoras da vida e da morte. A iniciativa privada gosta muito é de um subsídio, pergunte aos concessionários das barcas, trens e metrô aqui no Rio.
Ou seja, a revista apenas defende os anseios dos empresários que a sustentam com seus anúncios.
É de chorar, não é mesmo? Não. Ainda há o grand finale, quando o texto se encerra com a defesa do voto distrital, que leva ao bipartidarismo, favorece candidatos com maior poder econômico, dificulta a renovação dos ocupantes de cargos eletivos e vem sendo abandonado por um número de países muito maior do que aqueles que o adotam.
Agora pode chorar.
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