Nada podia ter surtido melhor efeito neste prelúdio de campanha
eleitoral que aquela rodada de bolsa insinuante de Gilberto Kassab se
achando a azeitona da empada. A mídia fez a leitura mais conveniente ao
seu partido. Seus analistas acusando o PT de fazer qualquer coisa pelo
poder, soaram como uma valsa para os virtuais adversários de Fernando
Haddad e muitos eleitores petistas se indignaram e chegaram a “anular”
seu voto. Marta Suplicy sentiu náuseas só de pensar em subir ao palco
“de mãos dadas” com Kassab e a militância petista descobriu seu limite:
uma aliança com o PSD teria sido devastadora e a prefeitura de São Paulo
sairia muito cara. Se tudo correr de acordo com o script e Serra for
confirmado oficialmente candidato do PSDB neste domingo, o saldo será
positivo. Serra é o melhor adversário para Haddad. É o perdedor que todo
adversário sonha em enfrentar. Outra notícia positiva: alguns
intelectuais que se afastaram do PT em 2005, por conta da pirotecnia
midiática batizada de “mensalão” (Roberto Jefferson em 2005) ou rebatizada de “pura retórica” (Roberto Jefferson em 2011), se aproximam de Fernando Haddad
e de sua campanha dispostos a contribuir. É evidente que isso tem a ver
com a gestão do ex-ministro frente ao MEC e a provável enfase na
educação em seu governo, caso eleito.
Como dois e dois são quatro, a campanha de Serra tentará
desqualificar o sucesso retumbante do Enem requentando pequenas falhas
pontuais que não chegaram a atingir 0,02% dos 4 milhões de alunos que
prestaram o exame no ano passado. Ou a “falha” da Plural – gráfica da
Folha – na impressão de uma página de um dos lotes da prova, o que
também significou migalhas por cento em 2010. São argumentos que só
alimentam os mesmos 6% cães raivosos, anti-petistas de carteirinha. De
resto, os números mostram que Enem e ProUni anularam
grande parte do filtro social excludente dos cursinhos
pré-vestibulares. Com isso, o MEC colocou milhões de jovens de baixa
renda na universidade.
Semana passada, Haddad disse que o PSDB de São Paulo é uma bola de
ferro presa ao pé do Brasil. Exagero. São Paulo, por ser todo o bla bla
blá de maior estado, maior economia, maior número de eleitores, maior
isso e aquilo – é importante, mas não é imprescindível. O Brasil cresce e
continuará crescendo em outras regiões acima dos índices paulistas.
Fato é que o governo Lula desamarrou o Brasil e deslocou o eixo do crescimento que sempre esteve cravado no centro-sul do país. Hoje o nordeste cresce em ritmo chinês.
Se a bola de ferro de São Paulo está presa a algum lugar, aprisiona,
isso sim, o próprio estado ao século 20. A última coisa que São Paulo
precisa, é crescer. O que é realmente urgente para esta cidade?
Distribuição de qualidade de vida para TODA a população – coisa que os
tucanos simplesmente não sabem fazer. E não é por opção deles: é de sua
natureza, é seu DNA.
A oposição e sua mídia imprimem às eleições deste ano,
particularmente em São Paulo, a batalha “de vida ou morte para evitar a
hegemonia nacional do PT”. Isso é conversa pra boiada. Não se trata da
hegemonia de um partido. Até porque o PT só consegue vencer e governar
com ampla coalização de partidos – como tem sido em seus três mandatos.
Trata-se da hegemonia de um PROJETO para o país que é o oposto do
neoliberalismo que estagnou nossa economia por uma década. O Brasil é um
continente com 200 milhões de habitantes. Foram 5 séculos de miséria,
analfabetismo e subdesenvolvimento que permaneceram intactos, cercando
uma ilhota de privilegiados. E os governos quase nada fizeram para mudar
essa realidade e nem foram questionados pela imprensa. Mas, assim que
Lula tomou posse em 2002, o oligopólio midiático “lembrou-se” do
conceito que permaneceu adormecido em suas redações por cinco décadas (e
continua dormindo em São Paulo): a “saudável alternância no poder”. De
lá para cá, a expressão virou quase uma oração para o PiG.
No “governo do povo, pelo o povo, para o povo” – que é o conceito
básico da democracia – é necessário, sim, praticar a “saudável
alternância no poder”. Desde que não se transforme no “governo das
elites, pelas elites, para as elites”! Se a “saudável alternância no
poder” torna-se o “desfazer o que foi feito e refazer do nosso jeito”,
então ficaremos andando em círculos. Em plena campanha eleitoral de
2010, por exemplo, Serra já prometia à Chevron modificar a legislação do
Pré-sal de forma a facilitar a criação de um duto de escoamento dessa
riqueza diretamente para os cofres de Wall Street. Em outras palavras:
Privataria Tucana 2! (Ou seria a 3, Amaury?) O petróleo brasileiro,
seria extraído a preço de banana e serviria para socorrer as economias
que afundavam desde a crise de 2008. Estava implícito também, que nesse
embalo, pretendiam desconstruir os 8 anos do governo Lula e redirecionar
o país e o restante da América do Sul à senzala dos EUA! Serra insinuou
tudo isso durante a campanha. Chegou, inclusive, a insultar alguns
governos sul-americanos, chamando-os de traficantes de drogas. Ora!
Serra na presidência não seria “saudável alternância no poder”, seria
voltar à estaca zero; voltar ao ponto pós ditadura dos anos 60-80! Aí
está a equação que polariza o jogo do poder no Brasil.
O PT pode ter mudado, crescido, se adaptado, se aproximado, se
distanciado… Mas ainda é a opção “menos ruim”, mais progressista, pra
dizer o mínimo. Já estamos prestes a ocupar o quinto lugar entre as
maiores economias, ultrapassando a França. Por outro lado, a oposição e
as elites brasileiras continuam ligadas pelo umbigo à Casa Grande do Tio
Sam. Frequentam seus salões de festa e põem-se a falar mal do Brasil
pelo governo que elegeu. Entre goles de champanhe e bocados de caviar, é
claro. Afinal, ninguém é de ferro…
Nenhum comentário:
Postar um comentário