Da Carta Capital
A blogofobia de José Serra
Por Leandro Fortes
A
blogosfera e as redes sociais são o calcanhar de Aquiles de José Serra,
e não é de agora. Na campanha eleitoral de 2010, o tucano experimentou,
pela primeira vez, o gosto amargo da quebra da hegemonia da mídia que o
apóia – toda a velha mídia, incluindo os jornalões, as Organizações
Globo e afins. O marco zero desse processo foi a desconstrução imediata,
on line, da farsa da bolinha de papel na careca do tucano, naquele
mesmo ano, talvez a ação mais vexatória da relação imprensa/política
desde a edição do debate Collor x Lula, em 1989, pela TV Globo. Aliás,
não houvesse a internet, o que restaria do episódio do “atentado” ao
candidato tucano seria a versão risível e jornalisticamente degradante
do ataque do rolo de fita crepe montado às pressas pelo Jornal Nacional,
à custa da inesquecível performance do perito Ricardo Molina.
A
repercussão desse desmonte midiático na rede mundial de computadores
acendeu o sinal amarelo nas campanhas de marketing do PSDB, mas não o
suficiente para se bolar uma solução competente nas hostes tucanas.
Desmascarado em 2010, Serra reagiu mal, chamou os blogueiros que lhe
faziam oposição de “sujos”, o que, como tudo o mais na internet, virou
motivo de piada e gerou um efeito reverso. Ser “sujo” passou a ser um
mérito na blogosfera em contraposição aos blogueiros “limpinhos”
instalados nos conglomerados de mídia, a replicar como papagaios o
discurso e as diatribes dos patrões, todos, aliás, alinhados à campanha
de Serra.
Ainda em 2010, Serra tentou montar uma tropa de trolls
na internet comandada pelo tucano Eduardo Graeff, ex-secretário-geral
do governo Fernando Henrique Cardoso. Este exército de brucutus,
organizado de forma primária na rede, foi facilmente desarticulado,
primeiro, por uma reportagem de CartaCapital, depois, por uma
investigação do “Tijolaço.com”, blog noticioso, atualmente desativado,
do ministro Brizola Neto, do Trabalho.
Desde então, a única
estratégia possível para José Serra foi a de desqualificar a atuação da
blogosfera a partir da acusação, iniciada por alguns acólitos ainda
mantidos por ele nas redações, de que os blogueiros “sujos” são
financiados pelo governo do PT para injuriá-lo. Tenta, assim,
generalizar para todo o movimento de blogs uma realidade de poucos,
pouquíssimos blogueiros que conseguiram montar um esquema comercial
minimamente viável e, é preciso que se diga, absolutamente legítimo.
Nos
encontros nacionais e regionais de blogueiros dos quais participo, há
pelo menos três anos, costumo dar boas risadas com a rapaziada da
blogosfera que enfrenta sozinha coronéis da política e o Poder
Judiciário sobre essa acusação de financiamento estatal. Como 99% dos
chamados blogueiros progressistas (de esquerda, os “sujos”) se bancam
pelo próprio bolso, e com muita dificuldade, essa discussão soa não
somente surreal, mas intelectualmente desonesta. Isso porque nada é mais
financiado por propaganda governamental e estatal do que a velha mídia
nacional, esta mesma que perfila incondicionalmente com Serra e para ele
produz, não raramente, óbvias reportagens manipuladas. Sem a propaganda
oficial do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e da Petrobrás,
todos esses gigantes que se unem para defender a liberdade de imprensa e
expressão nos convescotes do Instituto Millenium estariam mendigando
patrocínio de açougues e padarias de bairro para sobreviver.
Como
nunca conseguiu quebrar a espinha dorsal da blogosfera e é um fiasco
quando atua nas redes sociais, a turma de Serra tenta emplacar, agora, a
pecha de “nazista” naqueles que antes chamou de “sujo”. É uma
estratégia tão primária que às vezes duvido que tenha sido bolada por
adultos.
Um candidato de direita, apoiado pelos setores mais
reacionários, homofóbicos, racistas e conservadores da sociedade
brasileira a chamar seus opositores de nazistas. Antes fosse só uma
piada de mau gosto.
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