JP Morgan & Canalhas Associados: detonando valores humanos
“Enquanto na Europa e nos Estados Unidos a economia real se afunda numa profunda recessão, os bancos subverteram a vontade popular através do lobby”
Márcia Denser
“Enquanto na Europa e nos Estados Unidos a economia real se afunda numa profunda recessão, os bancos subverteram a vontade popular através do lobby”
Márcia Denser
Mesmo após a tremenda crise de 2008 e de ter virado até piada de desenho animado hollywoodiano (em Meu Malvado Favorito,
o JP Morgan é o banco que empresta dinheiro para os bandidos e no qual
se entra sugestivamente pelo banheiro),o capitalismo financeiro de
esgoto continua a mil, detonando o dinheiro do contribuinte – que o
“salvou” do dilúvio há cinco anos – e tome mais ajustes estruturais e
mais “austeridade” (para quem,cara pálida?), mais desregulação, mais
cortes de programas sociais e mais desemprego ou subemprego ou exclusão
de mão-de-obra excedente ou os três. E novamente só pra favorecer o sistema financeiro. (Cruzes! Parece piada. E daquelas que mordem o rabo).
A economia mundial enfrenta o risco de uma nova queda e a crise atual
poderá ser apenas o preâmbulo de novo e monstruoso crash, segundo
Alejandro Nadal de La Jornada. O exemplo mais recente é o da perda de
mais de 2 bilhões de dólares JP Morgan, em maio, em razão de “erros
flagrantes”, segundo declaração de seu arrogante presidente Jamie
Dimon.O fato é que o poder do mercado financeiro continua evitando a
adoção de regras para conter a especulação. Há cinco anos na pior crise
das últimas décadas, o mundo financeiro continua sem mudanças
significativas. Aqui se localiza o epicentro do terremoto: nas reformas
do seu sistema de regulação que deteriam um novo desastre. Mas o poder
do setor financeiro e bancário impede que se apliquem restrições à sua
atividade especulativa.
O mercado mundial de derivados é estimado em 1,2 trilhões de dólares. A
maioria das transações nesse gigantesco mercado, desde swaps [um
contrato de compra ou venda a prazo] de dívida e de taxas de juro até
exóticos veículos sintéticos de investimento, escapam a qualquer sistema
de regulação. Este mercado não cumpre qualquer função social ou
económica. A sua razão de ser é a pura especulação.
A volatilidade, o comportamento de rebanho e as expectativas não
realizadas são traços característicos deste capitalismo de cassino e a
instabilidade é a palavra chave neste terreno de apostas perigosas. Nem
os agentes que participam desse mercado entendem seu funcionamento. Os
seus modelos de valorização de risco são enganadores porque reduzem a
incerteza a um “cálculo de probabilidades”. Aí, o exemplo do JP Morgan
não passa duma tediosa reincidência para pior.
Mas a terminologia oficial serve para ocultar o fato do banco ter feito
apostas insensatas e absurdas que correram mal (assim como quem brinca
com um dinheiro que não é seu, mas cuja fonte é inesgotável). Porém,
este episódio encerra um presságio sinistro: os principais bancos do
mundo têm níveis de exposição muito fortes neste mercado, onde tudo pode
acontecer com graves consequências para a economia real.
No entanto, até agora não se estabeleceu um novo regime de regulação
para mudar este estado de coisas. Em 2010, Obama promulgou a lei
Dodd-Frank. É um documento de 2.300 páginas com regras que já se aplicam
aos riscos que os bancos podem assumir e às atribuições das entidades
reguladoras. Porém, os seus dois componentes mais importantes não
entraram em vigor. Trata-se das restrições ao mercado de derivados e a
chamada regra Volcker.
O artigo VII da lei estabelece que “as operações sobre derivados deverão
levar-se a cabo em mercados públicos, para que os preços sejam
conhecidos e se garanta o cumprimento dos contratos”. Mas muitas regras
desse artigo são obliteradas pelo lobby dos bancos e servis amigos na
Securities Exchange Commission e na Commodities and Futures Trading
Commission. Em especial, as definições sobre os contratos de swaps
constituem terreno fértil para abrir janelas através das quais se pode
contornar a regulamentação.
O outro componente chave é a chamada Regra Volcker, que “proíbe os
bancos de realizarem operações para seu próprio benefício com recursos
dos seus clientes”. Esta peça de regulação é do senso comum, mas para os
bancos é uma grave ameaça: afeta uma das maiores (senão a maior) fontes
de seus lucros especulativos. Razão pela qual não entra em vigor,
porque a sua regulamentação está sendo insistentemente debatida: o
poderoso lobby bancário já acrescentou 300 páginas, das 10 originais, na
Regra Volcker, isto é, uma infinidade de exceções e advertências que
permitirão aos bancos contornar tal proibição.
Segundo a Bloomberg, só no primeiro trimestre deste ano os nove
principais bancos de investimento do mundo obtiveram lucros de 55
bilhões de dólares. É evidente que para estes bancos o mercado de
derivados é um espaço vital ao qual não estão dispostos a renunciar. Um
novo descalabro no mercado de derivados afetaria todos os mercados
financeiros na Europa, começando pelo dos títulos soberanos. Por isso, é
urgente livrarmo-nos da ditadura do capital financeiro.
Enquanto na Europa e nos Estados Unidos a economia real se afunda numa
profunda recessão, os bancos subverteram a vontade popular através do
lobby. Os seus cúmplices são os partidos políticos: nos Estados Unidos, o
Comitê de Serviços Financeiros da Câmara de Representantes é o mais
numeroso, porque se converteu num instrumento para recolher fundos do
complexo financeiro-bancário e financiar campanhas eleitorais. E os
governos em quase todo o mundo continuam se dobrando perante o mercado
financeiro, paralelamente a um eleitorado indiferente e/ou apático, e
uma opinião pública que, influenciada por uma mídia hegemônica,
“normalizou” o estado de crise.
A situação é de impasse, contudo é preciso lembrar que, a longo prazo,
não são apenas valores monetários que estão em jogo, mas sim valores
humanos.E com estes não se negocia. A menos que uma queda geral na
barbárie já não importe à humanidade.

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