Bob Fernandes, Terra Magazine
“Everardo Maciel, pernambucano de 65 anos,
conhece como poucos brasileiros os dutos por onde transita o dinheiro no
Brasil. Ele foi secretário da Receita Federal por oito anos –nos dois governos
Fernando Henrique Cardoso. Por outros oito anos ele foi Secretário da Fazenda;
no Distrito Federal e em
Pernambuco. Postos absolutamente privilegiados para se saber,
por exemplo, quais são, na prática, as raízes, os métodos, formas e motivos que
impulsionam a corrupção.
Nesta conversa, Everardo esmiúça algumas
das principais veredas do assunto que há meses, senão há anos, rola de boca em boca Brasil afora. Com
clareza, o ex-secretário da Receita, o homem do leão, revela toda a dimensão do
problema no Brasil:
- O Brasil tem hoje R$ 1 trilhão em
impostos não pagos, sonegados… O nome disso é corrupção.
Isso, por parte dos cidadãos. Já o Estado
também não deixa por menos:
- O Estado deve aos cidadãos (em
precatórios) uns 10% disso, uns R$ 80
a R$ 100 bilhões… Qual é o respaldo moral que tem o
Estado? Isso é o que se chama torpeza bilateral…
Entre outros problemas, o ex-secretário
descreve as formas como, via orçamento e suas emendas, e numa trança com o
Executivo, tece-se a teia da chantagem e da corrupção no Congresso.
Terra Magazine: Você, por oito anos, foi
secretário da Receita Federal no governo de Fernando Henrique Cardoso. Também
foi secretário da Fazenda em Pernambuco e no Distrito Federal…
Everardo Maciel: Exatamente…
Com oito anos na Fazenda em dois estados
e mais oito anos na Receita, você é um dos raros brasileiros que realmente
conhece os caminhos que o dinheiro percorre no Brasil, que tem o
"pulso" de por onde anda, de qual é o dinheiro "limpo" ou o
"sujo", e como isso se produz e reproduz. São 16 anos não apenas
vivendo, atuando, mas compreendendo e aprendendo os caminhos do dinheiro, seja
o que vai bem ou o dinheiro que vai mal. Comecemos por aí. Quais são as
principais molas da corrupção no Brasil?
É uma combinação de razões. Não tem uma
razão única. Você pode imaginar que uma das razões está associada precisamente
à impunidade. A impunidade decorre de várias razões. Às vezes, à negligência ou
incapacidade dos órgãos de fiscalização, outra vezes à morosidade do Judiciário
decorrente de processos arcaicos…
Excesso de recursos na reta final…
Abusividade nos recursos e de mais a mais a
Justiça frequentemente não conseguir compreender, absorver as novas
tecnologias, o que permitiria dar celeridade aos processos. Só muito
recentemente apareceu o processo digital. Mas os processos dos julgamentos são
processos barrocos, com excessivas citações, repetições, vaidade imperando nos
colegiados, e tudo isso faz com que as coisas demorem. Isso pra pegar do ponto
de vista mais genérico. Por outro lado, também o Executivo, de modo geral,
quando enfrenta, por exemplo, a evasão fiscal.”
Entrevista Completa, ::AQUI::
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