sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Kassab ainda vai enterrar o Serra


Evelson de Freitas/AE
Por Altamiro Borges
A pesquisa Ibope divulgada ontem (16) confirma que a cria pode matar o criador. A popularidade do prefeito Gilberto Kassab está despencando. A sua gestão é considerada ruim ou péssima por 43% dos paulistanos. Apenas 18% dos entrevistados avaliam como ótima ou boa. Como observa o preocupado Estadão, “em relação à pesquisa anterior, feita há duas semanas, o saldo negativo passou de 22 para 25 pontos percentuais”. A notícia explica o “inferno astral” do tucano José Serra, o padrinho do atual prefeito.
Em junho passado, quando oficializou sua candidatura à prefeitura da capital paulista, o eterno candidato até chegou a cogitar um distanciamento do ex-demo Kassab. Serra só recuou porque a mesma tática já havia sido testada e derrotada em 2002, quando ele tentou esconder o rejeitado FHC com o falso slogan da “continuidade sem continuísmo”, mas perdeu a disputa para Lula. “Será difícil o tucano se desvencilhar da sua criatura”, registrou, na época, o jornalista Melchiades Filho, da Folha.
A capital das desigualdades
Agora, a aliança dos tucanos com o impopular Kassab cobra seu preço. O líder do PSD emplacou o vice (Alexandre Schneider) e é o principal operador da campanha de Serra – o que, inclusive, gera ciumeiras no seu comando. Líderes do PSDB até rotularam a sigla de Kassab de “cupim”. E, de fato, os estragos são grandes. A pesquisa Ibope só confirma que a sua gestão é um desastre. São Paulo hoje padece de graves problemas e as promessas de campanha do ex-demo simplesmente não saíram do papel.
Um estudo da ONG Nossa São Paulo constatou no início deste ano que a situação da capital paulista se deteriorou rapidamente. Ele constatou que a maioria dos 96 distritos da capital paulista não contava com equipamentos públicos. “Em 44 distritos não há nem sequer uma biblioteca municipal; 56 distritos não mantém nenhum equipamento esportivo público; e 59 não têm nenhum centro cultural”, relata o empresário Oded Grajew, coordenador da ONG.
Saúde e mobilidade urbana
O estudo revelou que 1,3 milhões de paulistanos vivem em favelas e que a situação da saúde é gravíssima. Em 26 distritos, não há nenhum leito hospitalar. “O tempo médio de marcação de consultas nos serviços de saúde públicos é de 52 dias. Entre a marcação e a realização de exames, gasta-se 65 dias. Entre a marcação e a realização de procedimentos mais complexos, como cirurgias, são necessários 146 dias. Muita gente pobre, que depende do sistema público de saúde, certamente morre no meio do caminho”.
Outro grave problema é da mobilidade urbana. “Para ter acesso ao trabalho, quem ganha até um salário mínimo fica, em média, duas horas ao dia no transporte público. Milhões de paulistanos precisam percorrer enormes distâncias para ter acesso ao trabalho, à saúde, à cultura e aos esportes, entupindo as vias de circulação. Assim, no item morte no trânsito, a diferença entre o melhor (Barra Funda) e o pior distrito (Marsilac) é de 32,2 vezes”.
Uma gestão desastrosa
“Mais de 174 mil crianças, basicamente de famílias pobres, estão sem creche. No item analfabetismo, a diferença entre a melhor e pior subprefeitura é de 2,4 vezes. O abandono e a distorção entre a idade e a série são, respectivamente, 52 e 42 vezes menores no ensino privado do que no ensino público. Educação de qualidade, fundamental para o acesso à cidadania e ao trabalho mais bem remunerado, é, portanto, privilégio da população de maior renda”.
O estudo concluiu que São Paulo, apesar da propaganda ufanista, é a capital da desigualdade. “Do ponto de vista ético, moral, social e econômico, não há nada mais insustentável, danoso, antiético, vergonhoso e degradante em uma sociedade do que a desigualdade. Ela está na origem de todos os problemas que afetam a qualidade de vida da população”, afirma Grajew. Esta triste realidade explica a queda de popularidade de Gilberto Kassab e representa uma baita insônia para o notívago José Serra.

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