quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Só falta a Globo escalar Galvão Bueno para narrar o julgamento do "mensalão"

"Gurgel tropeça na bola e Gilmar apita: penaaaaalidade máxima! E aí, Arnaldo? Olhando o replay não foi pênalti contra o time do PT, mas do ângulo que o juiz Gilmar estava, ele pode ter confundido, ele não viu".

Até aqui o texto foi piada, mas a cobertura dos barões da mídia no julgamento do chamado "mensalão" está mais para o ôba-ôba das promoções de lutas de Vale-tudo (UFC) do que para noticiário político sério.

Requentam os velhos bordões e chavões martelados durante sete anos, sem buscar aprofundar, nem informar a verdade.

Como é o sistema político brasileiro? Permite coligações de partidos? Sim. O financiamento de campanha eleitoral é exclusivamente público? Não. Os partidos são obrigados a passar o chapéu no empresariado, se quiserem concorrer com chances.

É óbvio que partidos coligados também precisam de dinheiro para financiar a campanha de deputados, senadores, prefeitos, vereadores, etc. O empresariado sempre prioriza doações para quem tem poder de mando, ou seja, para o partido cabeça de chapa. Logo é natural que partidos coligados também exijam que o cabeça de chapa repasse parte das doações. E, até prove em contrário, foi apenas isso que Delúbio Soares fez, errando apenas quanto ao chamado caixa-2.
A função de Delúbio era fechar as contas partidárias. Ele buscava doações ou empréstimos e cumpria os acordos partidários entre os partidos para disputarem eleições, e não para a governabilidade. O próprio Delúbio não tinha obrigação e nem como saber o que era feito do dinheiro depois que ia para outros partidos ou candidatos, e nem o que era feito do dinheiro antes de entrar como doação ou empréstimo, afinal como saber o que se passava dentro da gestão das empresas privadas que doavam ou emprestavam?

A lei é assim. É uma porcaria de lei, porque empreiteiras, bancos e até bicheiros financiam campanhas, em geral buscando vantagens futuras nos governos. Os governos eleitos tem que ser muito populares, como foi Lula, para ter como resistir aos ataques de corruptores sem ser derrubado (como tentaram) e ainda ser reeleito. 
Mesmo resistindo, como o estado brasileiro é grande (e tem que ser, para sermos uma grande nação e haver democracia popular), lobistas acabam conseguindo se infiltrar pelas bordas. Mas são casos à parte, são elos fracos da corrente que se rompem, e que órgãos como CGU vivem tendo que expulsar do serviço público, e que a Polícia Federal vive tendo que fazer a faxina.

A lei não prevê caixa-2, é claro, mas também sempre tratou o caixa-2 como uma infração menor, o que acabou se tornando sinônimo de tolerância e uma prática disseminada nas campanhas eleitorais. Basta ver que o mensalão tucano teria passado despercebido e estaria funcionando até hoje, se Lula não tivesse sido eleito. Só quando descobriram o caixa-2 do PT é que desvendaram, por tabela, o mensalão tucano (e mesmo assim, com uma enorme má vontade em aprofundar, com medo de atingir Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin).

O leitor deve perguntar: e a turma que deu dinheiro, fez de graça? As intenções podem ser as mais diversas e escusas possíveis, como pode ser de quem doa oficialmente pelo caixa-1, mas a questão é que, até agora, pelo que se sabe, Delúbio só deu tapinha nas costas de quem doou dinheiro. 
Daniel Dantas investiu fortunas em publicidade nas empresas de Marcos Valério, e acabou sendo preso durante o governo Lula. As próprias empresas em que Valério era sócio, sofreram devassa da Receita Federal e da PF. O Banco Rural também.

Estamos acostumados com políticos demagogos, que dão tapinha nas costas do eleitor pobre, quando ele pede emprego ou bens materiais. Depois de eleito, nem trata mais do assunto. Talvez nunca tenhamos visto gente que faça algo parecido com grande financiadores de campanha, por isso muita gente acha difícil acreditar. Mas então, por que razão o mensalão tucano funcionou tão bem desde a década de 90, e não funcionou no governo Lula? À luz da história, é razoável considerar se os petistas aceitaram doações para campanha via caixa-2, mas recusaram retribuir com dinheiro público. Talvez, justamente por contrariar interesses, é que todo o escândalo veio à tona. Porém, em vez de focar no que houve, o caixa-2 (coisa que comprometeria justamente os corruptores, com interesses contrariados), havia o interesse da oposição e da imprensa demotucana em forjar boatos de que a origem do dinheiro seria público e, em vez de caixa-2, haveria compra de votos parlamentares.

São estas vertentes da história é que são censuradas do noticiário, por interesse eleitoreiro dos barões da mídia em favorecer seus aliados demotucanos.

Se o Procurador-Geral conseguir provar, não por ilações, mas com provas materiais, que alguém meteu a mão em dinheiro público para favorecer os financiadores do chamado "mensalão", teremos que aceitar a condenação de quem tenha sido responsável pelo delito. Mas condenar justamente quem não cumpriu as supostas expectativas de corrupção de financiadores de campanha, será uma completa inversão de valores.

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