segunda-feira, 8 de julho de 2013

William Waack vaiado na Flip

O debate "O Povo e o Poder no Brasil", entre o economista André Lara Resende e o filósofo Marcos Nobre, mediado pelo jornalista da TV Globo William Waack, foi o mais quente da noite de sábado (6) na Flip e um retrato da polarização política que tomou conta do país depois das manifestações. Não tanto pelos debatedores, que travaram um duelo intelectual de alto nível, com opiniões divergentes, porém sempre interessantes, mas pela reação do público, que reagia ora com vaias, ora com aplausos. E o alvo mais constante dos apupos do público foi William Waack.
Quase ao fim do debate, o estudante Gandhi Terra Ayres, 20, morador de Paraty, aproximou-se do palco e gritou: "William Waack não representa a luta popular." Um segurança o interpelou e Gandhi acabou caindo no chão. O rapaz foi retirado do local do debate. Já do lado de fora da tenda, disse: "Estou protestando porque William Waack é pago pela mídia corporativa, que ajuda a escravizar o povo." Ele se disse apartidário: "Nem título de eleitor eu tenho!"
Pouco depois, Waack, que fizera uma mediação muito competente, imprimindo um ritmo acelerado à conversa e arrancando respostas claras e concisas dos debatedores, pediu a palavra e, lembrando sua experiência de cobertura jornalística em países como Argentina e Itália, que também tiveram movimentos de repúdios a políticos e hoje estão em situação econômica e social difícil, disse: "Minha experiência mostra que movimentos sociais sem clara definição política provocam menos mudanças que as esperadas pela população", causando aplausos e vaias do público.
Mesa "O Povo e o Poder no Brasil" com André Lara Resende e Marcos Nobre com intermediação de William Waack
Mesa "O Povo e o Poder no Brasil" com André Lara Resende e Marcos Nobre com intermediação de William Waack
Danilo Verpa/Folhapress
O clima quente ficou claro já no início do debate, quando Waack foi vaiado ao fazer um aparte perfeitamente justificável durante uma resposta de André Lara Resende. Uma pessoa gritou, da platéia: "Olha o monopólio da informação!"
No debate, André Lara Resende, ex-presidente do Banco Central e um dos responsáveis pelo plano Real, e Marcos Nobre, professor de filosofia da Unicamp e autor do livro eletrônico "Choque de Democracia: Razões da Revolta", sobre os recentes protestos, concordaram em alguns pontos - a ineficiência do Estado, a falta de representatividade popular dos partidos políticos, a quase inexistência de uma oposição, de fato, ao governo - e discordaram em outras.
Nobre disse que os protestos mostraram que o povo "retomou o poder". Resende discordou: segundo ele, as manifestações mostraram a discordância popular em relação ao cenário político e social, mas ainda não evidenciaram uma tomada de poder popular. Nobre defendeu uma democracia direta, Resende disse que, sem partidos, se perde a polarização dos debates políticos.
Resende foi aplaudido ao afirmar que o modelo de governo de Lula foi Nacional Desenvolvimentista, retrógrado e muito semelhante, segundo o economista, ao modelo do governo militar. Nobre recebeu muitos aplausos ao afirmar que o momento era de "discutir que tipo de sistema político queremos."
Em entrevista coletiva hoje, o curador da Flip, Miguel Conde, disse que "foi interessante o Waack interagir fora do estúdio com um público não necessariamente simpático à TV Globo ou a ele."
"Quando se fala que há uma crise de representação em jogo nesses protestos, ficou claro que isso passa pela imprensa também", disse Conde.


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