segunda-feira, 8 de julho de 2013

A CRISE DA MPB E A PASMACEIRA INTELECTUAL DE HOJE

Por Alexandre Figueiredo
Há cerca de 35 anos, a Música Popular Brasileira estava em crise. A geração que causou impacto em 1967, seguida de uma outra que veio na cola em 1973, era acusada de abrir mão da criatividade para se estabelecer no mercado com fórmulas tendenciosas e pré-estabelecidas.
Canções com letras de amor mal resolvidas, em ritmo geralmente lento e maçante, discos mal mixados - geralmente com a bateria mixada bem baixo e os teclados e saxofones enfatizados - , arranjos de orquestras gravados em Los Angeles, músicas que homenageiam surfistas, atores, modelos etc, tudo isso virou clichê numa MPB que havia se acomodado.
Isso criou uma reação da crítica e do público que atingiram o ápice no começo da década de 1980. Eu mesmo sou suspeito para escrever isso, porque a MPB me entediava, nada dizia para mim. Preferia ouvir rock, geralmente britânico, que era o que se aproximava de minhas perspectivas na época.
Eu, um rapazinho saindo da infância para a adolescência, com a natural energia juvenil em ebulição, ficava entediado ouvindo baladas românticas de MPB, pachorrentas e melosas. Além disso, não poderia me identificar com letras de amor mal resolvido se eu nem sequer era bem resolvido no amor, porque boa parte das mulheres de quem eu estava a fim estavam comprometidas com outros.
De fato a MPB, depois do breve ímpeto tropicalista, ficou escrava de fórmulas. Boa parte da culpa era dos executivos de gravadoras e dos produtores musicais que estavam presos a normas de hit-parade, uma mentalidade puramente mercantilista que no Brasil ditatorial mergulhado no neoliberalismo, se ascendeu surpreendentemente naqueles idos de 1977-1982.
Nessa crise envolvendo a MPB, os antigos heróis tropicalistas, Caetano Veloso e Gilberto Gil, chegaram aos anos 70 como astros do mainstream e travavam uma batalha verbal com a crítica, que exigia deles uma politização devido ao contexto da época, de gradual redemocratização do país. Os dois, no entanto, esnobavam ou atacavam a mídia, satisfeitos com sua despolitização.
Nesse tempo todo, criou-se uma "tradição" anti-MPB que chegava ao niilismo quase absoluto. Da parte de uma geração de intelectuais e críticos que passaram a dominar o mercado e o establishment acadêmico de hoje, seus heróis, na melhor das hipóteses, são os "malditos" ou os artistas de MPB autêntica que tiveram um papel "secundário" na aparição na grande mídia e seguem a herança pós-tropicalista.
São artistas que de alguma forma antecederam ou derivaram da trilogia apreciada pela intelectualidade dominante de hoje, a tríade Jovem Guarda-Tropicália-Sambalanço, de Marcos Valle a Arrigo Barnabé, de Inezita Barroso a Zezé Motta, de Itamar Assumpção a Wilson Simonal.
Na pior das hipóteses, porém, a intelectualidade dominante, como quem quer juntar o joio com o trigo, quer defender o brega-popularesco e, só para impressionar, recorre a nomes esquecidos e relativamente "fora da mídia": Odair José, Benito di Paula, Leandro Lehart, Luís Caldas, Raça Negra, José Augusto e os finados Wando e Waldick Soriano.
Na verdade, são nomes que nem estão tão fora da mídia assim e que talvez apenas "tiram férias" da grande mídia e do grande mercado, até porque haja paciência para escutar suas músicas o tempo todo, em sucessivos anos. A grande mídia e o grande mercado apenas "abandonam" eles a contragosto, sob pressão de quem não suporta ouvi-los o tempo todo no auge do sucesso deles.
Só que a intelectualidade não quer saber. Os bregas são "injustiçados" e pronto. É a mesma pasmaceira que não resolve o problema da crise da MPB. Só faz piorar essa crise, enquanto a opinião pública se torna escrava dessa "panelinha" de intelectuais e críticos musicais "tarimbados".
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


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