segunda-feira, 28 de junho de 2010

Habitação: Caixa projeta até R$ 60 bi em negócios com imóveis e recursos da poupança terão aumento de 50%

Mercado: Instituição fecha 4,3 mil contratos habitacionais por dia

Anna Carolina Negri/Valor
Foto Destaque
Maria Fernanda Ramos Coelho, da Caixa: “Temos hoje na Caixa um dos processos de concessão de financiamento habitacional mais ágeis do mercado”


Ângela Ferreira, para o Valor, de São Paulo

O setor de crédito imobiliário da Caixa continua fortemente aquecido. O banco encerrou o ano de 2009 com a maior contratação habitacional de sua história e segue este ano em ritmo acelerado. Segundo balanço, os empréstimos em 2009 representaram 71% de todas as concessões.

O volume de financiamentos fechou em R$ 47,05 bilhões, dos quais R$ 14,1 bilhões foram destinados ao Programa Minha Casa, Minha Vida. Foram beneficiadas 896 mil famílias, das quais 275 mil dentro do programa. Esse volume de crédito é 102 % superior ao de 2008 e 9,4 vezes o realizado em 2003.

Até a primeira quinzena de junho, foram concedidos mais de 483 mil financiamentos, no valor total de R$ 29,3 bilhões. São mais de 4,3 mil contratos assinados por dia, o equivalente a financiamentos diários de R$ 263,8 milhões. Depois dos recordes registrados em 2009, 2010 já tem um crescimento de 107% em relação ao mesmo período do ano passado, em valores, e de 66% em quantidade. “Nossa meta é de R$ 55,8 bilhões, o que já é novo recorde. Porém, não nos surpreenderemos se chegarmos ao montante de R$ 60 bilhões aplicados”, entusiasma-se a presidente, Maria Fernanda Ramos Coelho.

Para atender a essa demanda, a Caixa, desde 2003, revisa seus processos e faz um reposicionamento estratégico com vistas a ganhar eficiência. No caso do crédito imobiliário, isso se traduziu em uma redução dos prazos e racionalização do processo de contratação. “Com toda a certeza, temos hoje na Caixa um dos processos de concessão de financiamento habitacional mais ágeis do mercado, sem que isso signifique uma flexibilização nos critérios de avaliação de risco ou da capacidade de pagamento do cliente”, observa Maria Fernanda.

Segundo ela, a Caixa agora investe na revisão do modelo de correspondentes imobiliários, buscando um atendimento semelhante ao usado no financiamento de veículos. “Nosso objetivo é oferecer o crédito no local em que os clientes procuram seu imóvel.”

Para Maria Fernanda, os resultados obtidos são fruto dos avanços institucionais realizados nos últimos seis anos, que redundaram em maior segurança no processo de concessão do crédito imobiliário. Além disso, o setor foi positivamente impactado por políticas públicas que garantiram a inclusão de milhares de famílias ao mercado. Exemplo disso é o próprio Minha Casa Minha Vida, que articula as esferas pública e privada, dando mais subsídios às famílias de baixa renda para acessar um financiamento habitacional.

“Em um ano de programa, a quantidade de imóveis novos contratados foi a maior na década. Hoje, na Caixa, 48% dos contratos realizados se dão com famílias de renda de até seis salários mínimos.”

A perspectiva de um crescimento acentuado da economia brasileira deve colaborar para que o programa atinja o resultado esperado, de contratação de 1 milhão de unidades até dezembro. Os dados do Banco Central confirmam essa percepção, pois, em abril de 2010, o saldo total de crédito imobiliário atingiu R$ 98,9 bilhões, um crescimento de 50,5% em relação ao mesmo período de 2009.

Nem mesmo a expectativa de alta de juros, no curto prazo, afeta esses objetivos, segundo Maria Fernanda. “O recurso aplicado no crédito imobiliário é quase que integralmente originado da caderneta de poupança e FGTS, logo, não diretamente sensível às variações da taxa Selic. Portanto, nossa expectativa é de se manterem inalteradas as taxas de juros dos produtos habitacionais, da mesma maneira que não há previsão de alteração da meta de contratação”, avalia.

Na medida em que os bons fundamentos da economia condicionam um horizonte de crescimento de longo prazo e o governo federal sinaliza a redução do déficit habitacional como uma política de Estado, a Caixa também tem buscado se preparar para este novo ciclo do setor habitacional.

“Além de redimensionar nossos modelos de distribuição, estamos buscando alternativas de funding e parcerias com investidores nacionais e internacionais que possam fazer frente à demanda.”

Recursos da poupança terão aumento de 50%

Adriana Aguilar, para o Valor, de São Paulo

Aproximadamente R$ 50 bilhões, 19% do atual saldo de R$ 262 bilhões do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), serão aplicados no financiamento imobiliário em 2010. O valor é quase 50% superior ao total de recursos financiados em 2009, um total de R$ 34 bilhões. Novas 450 mil unidades serão financiadas neste ano em comparação a 302 mil em 2009.

“Pode até ser que os financiamentos ultrapassem os R$ 50 bilhões. As pessoas estão comprando mais imóveis novos e também usados, incentivadas pelo alongamento do prazo do financiamento até 30 anos”, explica o presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Luiz França.

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O aumento gradual da Selic, que hoje está em 10,25%, ao longo deste ano não deve interferir nas projeções da Abecip, que não incluem imóveis na planta. “Mesmo que a Selic estivesse em 11,5%, não haveria elevação da taxa praticada no financiamento imobiliário. A competição entre taxas para o financiamento imobiliário nos bancos dificulta a elevação”, diz o gerente do ramo imobiliário da Serasa Experian, José Augusto Périgo.

Não é só a competição que estimula a manutenção da taxa para o crédito imobiliário. Ao longo de 2010, os recursos da caderneta de poupança ainda serão suficientes para atender a demanda de todo o setor. E como o custo da poupança ainda é o menor do mercado – 6% ao ano mais a Taxa Referencial (TR) -, ela continua a ser a única fonte usada pelas instituições financeiras, explica França. “Somente a partir de 2012, talvez, seja necessária fonte alternativa para o complemento dos recursos da caderneta de poupança aplicados no financiamento imobiliário.”

A previsão da Caixa é conceder aproximadamente 950 mil financiamentos em 2010. Os empréstimos da instituição representaram 71% do crédito imobiliário em 2009, incluindo recursos da poupança (R$ 19,49 bilhões), do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (R$ 16,85 bilhões), mais R$ 6 bilhões provenientes do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), R$ 3,63 bilhões do Construcard, entre outras fontes de recursos.

O valor médio dos imóveis financiados pela Caixa com recursos do FGTS gira em torno de R$ 70 mil. Quando se trata dos recursos da poupança, o valor médio fica em torno de R$ 170 mil. Segundo a Abecip, em 2006, o preço médio do imóvel financiado era em média de R$ 70,6 mil. Em 2007, evoluiu para R$ 84,1 mil e, em 2008, para R$ 100,5 mil. Em 2009, ficou em R$ 123,0 mil.

Graças a parcerias entre construtoras e bancos, os lançamentos com recursos da poupança ocorrem em todo o Brasil. Entre 2008 e 2009, o financiamento imobiliário aumentou 69,4% no Centro-Oeste, 22,9% no Sul, 20% no Nordeste, 17,9% no Norte e 5,2%, no Sudeste, de acordo com o levantamento do Banco Central e da Abecip.

Chave quase na mão

O desempenho da Caixa no financiamento imobiliário, em que é líder no país, é alavancado pela realização de feirões de imóveis. De janeiro a maio, foram realizados 12 eventos – Belém, São Paulo, Salvador, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Uberlândia, Campinas, Porto Alegre e Florianópolis. Somando com o evento encerrado em 13 de junho, em Belo Horizonte (MG), o Feirão Caixa da Casa Própria movimentou R$ 8,5 bilhões. Desde a abertura do circuito de feirões, em 7 de maio, o evento passou por treze cidades e recebeu 576.194 visitantes. Somados os contratos assinados já no local e os encaminhados para as agências do banco, foram feitos 93.560 negócios. Em relação a 2009, os números representam um aumento de 70% em volume e de 50% em contratos assinados. Até o fim do ano passado, os visitantes da feira encontravam, além de imóveis nas modalidades novos, usados e na planta, a oferta dos chamados imóveis adjudicados – que são confiscados pela Caixa por falta de pagamento das mensalidades. Com a queda na taxa de inadimplência, o produto não tem sido mais encontrado nos feirões. Desde o início deste ano, a Caixa tem oferecido os imóveis adjudicados apenas por intermédio de leilões.

Postado por Luis Favre
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Do Blog do Favre.

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