Oct
Nunca antes na história deste país, nem mesmo nos tempos da Guerra Fria, , quando o fantasma do “comunismo ateu e apátrida” era sacudido como arma política contra as forças progressistas. a questão da fé religiosa tinha sido explorada de maneira tão vil em períodos eleitorais.
Hoje, o que faz a Folha de S. Paulo, ao estampar a foto de José Serra beijando uma imagem de N.S.Abadia ao lado da recomendação papal de que os bispos emitam juízo moral sobre questões como o aborto e a eutanásia transforma o jornal paulista num cartaz de campanha de José Serra na antevéspera das eleições.
Ao que eu me recorde, nunca a Igreja se permitiu usar de forma tão evidente num processo eleitoral.
O Brasil, encontro de etnias e de culturas, nunca foi marcado pela intolerência religiosa. Aliás, a tolerância à diversidade é fundamento da própria religião cristã, ao proclamar a imandade de todos os seres humanos.
A mudança das leis do aborto nunca esteve na ordem do dia das nossas disputas políticas, embora este seja legal nos países de onde ser origina a fé cristã que aportou aqui trazida pelos nossos ancestrais portugueses e europeus, em geral.
Talvez, há 50 anos, isso causasse estragos irreversíveis a uma candidatura.
Agora, lamentavelmente, só faz estragos à própria Igreja, pois seus próprios fiéis, depois de quase dois meses de exploração eleitoral da fé, já perceberam o quanto há de cinismo e hipocrisia na atitude do candidato e da mídia que confundem religião com campanha eleitoral.
Mais ainda, os que usam o sexismo preconceituoso como instrumento de campanha eleitoral, pois nada disso estari acontecendo se o adversário de Serra fosse um homem.
Serra finge-se de carola e procede como um fariseu. Procedem assim, também, os que deixam de ver que as mulheres que se submetem a um aborto devam ser abandonadas, como animais, à morte.
Quem defende a vida – inclusive os que têm uma convicção íntima contrária ao aborto, como eu tenho – não pode defender a morte de milhares de mulheres por intolerância, desumanidade e preconceito.
Criar este clima irracional e impiedoso não pode ser a atitude de alguém que professa a crença na fraternidade humana.
Porque é farisaísmo o que fazem Serra e seus aliados, quando não pestanejam em mercadejar a fé por lucros eleitorais.
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