Oct
As coisas correram tão bem, mas tão bem, no debate da Globo que a gente pode até ser descontraído no registro da única manipulação que conseguiram emplacar.
Refiro-me ao que já está sendo chamado de “O Close do Kamel”.
Se, no debate, Serra afundou no seu próprio despresparo de alinhavar promessas tecnocráticas – não conseguiu nem repetir a demagogia do mínimo de 600 reais, os 10% para os aposentados e o 13º do Bolsa-Família – no encerramento ele seguiu um roteiro que parecia previamente combinado.
Se fosse apenas um texto decorado, nada de mais.
É legítimo e até conveniente que um candidato ensaie o seu discurso de encerramento, a oportunidade final de falar ao eleitor.
Nem é errado que, no debate, com um formato imposto pela Globo, se sirvam das regras para deixar alterado o adversário. Serra, por exemplo, não suporta que lhe passem pelas costas. Lula fez isso em 2002 e deve ter dito a Dilma para não ficar, como ficou nos primeiros momentos do debate, sentadinha quieta no canto enquanto a palavra estava com Serra.
Mas não é legítimo que a emissora mude o enquadramento e os cortes de câmara que deveriam ser, aproximadamente, semelhantes para os dois candidatos.
Serra terminou sua participação com um close duradouro, coisa a que Dilma não teve direito. Muito melhor para passar emoção, fator importante no encerramento, embora a veia saltada na testa lhe denunciasse a insegurança.
Os profissionais de televisão – e o chefe destes profissionais não pode ter deixado de interferir nisso – sabem que aquele close ajudaria.
Um pequeno detalhe, que ficou insignificante com a vantagem de Dilma ao longo de todo o programa, mas que revelou, para quem sabe ler as imagens, a demonstração do “não o abandonamos” que a direção do “jornalismo” da Globo deu a seu candidato.
Resta saber se a direção – e não a de jornalismo – da Globo vai desejar, a partir de domingo, manter estes sinais.
Ou se fará, como oferenda a Dilma, o que Serra costuma exigir:o que Salomé pediu a Herodes, em uma bandeja.
Em close.
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