Manhã
de domingo com céu azul e muito sol em Toque Toque Pequeno, pacata
praia de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo. Como aqui não
chega jornal, meu velho vício, logo que acordo abro o computador e
entro em vários sites e portais para ver se encontro alguma novidade.
Nada. É o de sempre: o resultado da Fórmula-1, a rodada do futebol, a
futricalhada da baixa política em Brasília.
A
maioria dos meus colegas ainda trata do assunto que atravessou a
semana e certamente permanecerá em destaque até o Natal: as crescentes
dificuldades do governo Dilma com a sua indócil base aliada, que reclama
mais carinho, cafezinho, verbas, ministérios e cargos em geral, o de
sempre.
A
bola da vez é a ministra Ideli Salvatti, teoricamente responsável pela
coordenação política do governo, mas apenas uma fiel tarefeira da
própria presidente. Todos querem a sua cabeça, querem jogar pedras na
Ideli, vão se queixar para Lula. Perdem seu tempo.
Quem
colocou a ex-senadora catarinense no Ministério da Articulação
Política, em maio do ano passado, sem consultar ninguém, foi Dilma. Só
quem não conhece a presidente pode imaginar que, menos de um ano depois,
ela vai abrir mão da sua fiel colaboradora, que só cumpre ordens.
Todo
mundo sabia que era uma iniciativa de alto risco colocar nesta
função a companheira Ideli, que não é propriamente uma jeitosa diplomata
de punhos de renda, para lidar com a cacicada toda da variada fauna
aliada dos PMDB, PR, PDT, PP e tal da vida, sem falar nas belicosas
correntes do próprio PT. Dilma, claro, também sabia.
O
problema não é Ideli, mas a ingovernável aliança do presidencialismo
de coalizão, que já está com o prazo de validade vencido há tempos, e
acabou virando nos últimos meses um presidencialismo de colisão.
Em
27 de outubro do ano passado, quando da troca de Orlando Silva por
Aldo Rabelo, ambos do PC do B, no Ministério do Esporte, escrevi aqui
mesmo um post sob o título "Dilma precisa inaugurar um novo ciclo político"
para acabar com as capitanias hereditárias dos ministérios loteados
entre os partidos. Parece que esta semana, finalmente, a ficha caiu.
A
alta aprovação popular do governo Dilma certamente não se dá pela
qualidade do seu volumoso ministério, nem pelos partidos reunidos na
monumental base aliada, mas por sua disposição de mudar este cenário, a
sua atitude de não aceitar o prato feito dos velhos caciques e
ousar enfrentá-los para criar um novo tipo de relação política com o
Congresso Nacional.
É
hora de abandonar o velho varejão do toma-lá-dá-cá, a arte de trocar
seis por meia duzia, a fulanização das crises, como agora acontece com
Ideli Salvatti, e buscar uma aliança mais ampla com a sociedade,
enquanto não vem a sempre decantada reforma política, que, como todos
sabemos, tão cedo não virá, pela simples e boa razão de que depende dos
políticos.
Se
Dilma não ceder aos seus desejos, o que farão os valentes líderes dos
partidos aliados que ameaçam abandonar o governo? Vão se aliar aos
probos Demóstenes Torres e Álvaro Dias nas trincheiras da moribunda
oposição?
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