sábado, 3 de março de 2012

Juros vão cair ainda mais, no Brasil

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Mercado já aposta em corte de 1 ponto nos juros
Analistas põem fim a consenso de baixa de 0,5 ponto na taxa Selic e falam em ousadia maior do Banco Central para enfrentar a guerra cambial que ameaça a indústria e os empregos domésticos

» VICTOR MARTINS
» ROSANA HESSEL



A chanceler Angela Merkel disse entender as queixas da presidente Dilma de que países ricos estão provocando
A chanceler Angela Merkel disse entender as queixas da presidente Dilma de que países ricos estão provocando "tsunami monetário" no Brasil

O mercado acredita que o Banco Central está prestes a usar a sua arma mais poderosa contra o derretimento do dólar: a taxa básica de juros (Selic). Ontem, desfez-se o consenso de que a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na terça e na quarta-feira que vem, derrubará a taxa em mais 0,5 ponto percentual. As apostas migraram fortemente para um recuo de até 1 ponto, devido às sinalizações do governo de insatisfação com a queda da divisa norte-americana ante o real. Na visão do BC, está claro que o país cresce abaixo do potencial há três trimestres e que a inflação acumulada em 12 meses cairá pelo menos até julho, o que abre caminho para movimentos mais ousados na Selic. A dúvida, porém, é se o presidente da casa, Alexandre Tombini, terá disposição suficiente para bancar um ritmo de recuo maior.

Os analistas entendem que o BC testará o afrouxamento monetário até o seu limite para reduzir o diferencial de juros entre o país e o resto do mundo. Tanto nos Estados Unidos quanto no Japão e na Europa, é possível pegar dinheiro emprestado a juros variando entre 0,25% e 1% ao ano. Diante de um custo tão baixo, os investidores se animam a se endividarem para aplicar os recursos no Brasil, onde a remuneração chega a 10,50% anuais. Por isso, a enxurrada de dólares que está inundando o país e, na avaliação do governo, pondo em risco a produção industrial e os empregos domésticos. “Perante à guerra cambial que enfrentamos e os riscos para a nossa economia, podemos, sim, esperar ousadia do Copom”, disse um importante assessor do Palácio do Planalto.

Segundo Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, o BC acredita que a taxa neutra de juros reais, a que permite o país crescer sem descontrole da inflação, é menor do que o mercado acredita. Enquanto a maioria das instituições projeta 5,5% ao ano, “na cabeça do BC” esse índice estaria entre 4% e 4,5% anuais. “O que levaria a uma taxa nominal (Selic) entre 8,5% e 9% ao ano”, calculou Leal. Ele mantém sua projeção de corte de 0,5 ponto percentual nos juros no próximo encontro do Copom, mas não descarta a possibilidade de uma queda maior numa tentativa do BC de estancar o derretimento do dólar.

Para a economista-chefe da Icap Brasil, Inês Filipa, tudo indica que o Copom poderá surpreender e reduzir a Selic em 1 ponto. Ela disse que não teria mudado de opinião se Alexandre Tombini não tivesse ido à audiência pública no Senado, na terça-feira última, às vésperas do Copom, e no G-20 (grupo de reúne as 20 principais economias do mundo) no fim da semana passada. “Ele andou falando muito, o que não é comum. E o fiasco do novo aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), para 6% nos empréstimos externos inferiores a 360 dias, fez o mercado começar a apostar em uma queda mais forte dos juros”, explicou. “O BC não tem uma cartilha a seguir. Não há regras. Por isso, pode surpreender. Apesar do consenso, pode não haver consenso”, ponderou. Ela aposta que até o fim de 2012 a Selic ficará em 9% ou mesmo em 8,75%.

Nos mercados futuros, os investidores endossaram reduções da Selic entre 0,75 e 1 ponto percentual. Eles usaram o discurso da presidente Dilma Rousseff como base para montar suas apostas. Ela afirmou que o Brasil usará todas as armas que dispõe para enfrentar o “tsunami monetário” oriundo dos países ricos, em especial da Europa. As declarações de Dilma mereceram resposta da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que disse entender a posição da líder brasileira. As duas têm encontro marcado para a próxima semana e Dilma já avisou que ratificará a sua posição de que os países europeus precisam conter a injeção recursos na economia — 1 trilhão de euros em menos de dois meses.

Mudança na caderneta de poupança

Diante da possibilidade de o Banco Central derrubar a taxa básica de juros (Selic) para algo entre 8,75% e 9% ao ano em 2012, a equipe econômica voltou a discutir a hipótese de mudanças na rentabilidade da caderneta de poupança, que tende a superar a paga pelos títulos públicos. O tema é considerado espinhoso e algumas alas do governo resistem a qualquer alteração na tradicional aplicação, por receio de relembrar o confisco promovido pelo ex-presidente Fernando Collor de Melo. Está definido no Palácio do Planalto que qualquer proposta nesse sentido só será colocada na mesa da presidente Dilma Rousseff depois das eleições municipais, quando se espera que, finalmente, a Selic esteja em 8,75% anuais. A ideia seria mudar as regras apenas para investidores novos.

Ladeira abaixo

Taxas de juros futuros desabam nos principais contratos
negociados na BMF&Bovespa

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