Teixeira cai. E a questão pertinente ao momento: só a renuncia é suficiente? E os crimes que cometeu, serão investigados e punidos? |
A BBC Brasil elencou uma série de situações em que o cartola mor do futebol brasileiro nos últimos 23 anos estaria envolvido.
A CBF ao longo deste período foi administrada na obscuridade e a
administração do futebol tratada como negócios de família. A divisão de
poder da alta cartolagem mais parecia uma divisão de sesmarias, em que
os mais próximos aliados teriam garantidos seus quinhões mais valiosos.
Falta explicar o favorecimento nas transmissões do futebol que a CBF
outorga a Globo e as investidas contra os interesses dos grandes clubes
brasileiros.
Teixeira cai, mas seus amigos permanecem no comando da entidade máxima do futebol brasileiro.
Ao longo dos 23 anos em que Ricardo Teixeira presidiu a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o ex-dirigente, que apresentou sua renúncia nesta segunda-feira, foi alvo de diversas denúncias e chegou até mesmo a ser condenado na Justiça brasileira em algumas instâncias.
Os pontos altos de sua trajetória à frente da entidade – as conquistas da Seleção brasileira na Copa do Mundo de 1994 e 2002 – foram acompanhados também de diversas polêmicas e supostos casos de corrupção.
Confira alguns dos escândalos nos quais o ex-dirigente teve seu nome envolvido desde que assumiu a CBF, em janeiro de 1989.
"Voo da muamba" de 1994
Em julho de 1994, quando o Brasil ganhou a Copa nos Estados Unidos, jogadores, comissão técnica e convidados da CBF desembarcaram no Rio de Janeiro com 17 toneladas de material, em um voo com cem passageiros.
Teixeira foi acusado de pressionar o auditor fiscal da Receita Ferderal do aeroporto internacional do Rio para liberar o material trazido sem inspeção, caso contrário a Seleção não desfilaria em carro aberto.
Quinze anos depois, em julho de 2009, a juíza Lilea Pires de Medeiros, da 22ª Vara Federal, determinou a suspensão dos diretos políticos de Teixeira pelo episódio que ficou conhecido no Brasil como "voo da muamba". Condenado por improbidade administrativa, ele foi proibido de realizar contratos com o poder público.
Em junho do ano passado, os advogados de Teixeira derrubaram a condenação no Tribunal Regional Federal da 2ª Região.
Máquinas de chope
O episódio do "voo da muamba" deu origem a outro conflito entre Teixeira e a Receita Federal em 1995. Na bagagem do presidente da CBF estariam equipamentos de refrigeração de chope para bares, que permitem que os clientes se sirvam de cerveja gelada na própria mesa. O equipamento foi instalado no bar El Turf, do qual Ricardo Teixeira foi sócio, no Jockey Club do Brasil.
Após a investigação, que envolveu até mesmo auditores disfarçados de apostadores de cavalos para acompanhar a instalação do sistema no bar, a Receita disse que o equipamento de origem neozelandesa entrou ilegalmente no país.
A Justiça chegou a rejeitar a denúncia de Teixeira, que alegava que o equipamento entrou no país legalmente em 1995. O dirigente processou a Receita por danos morais, mas perdeu. Os equipamentos de refrigeração de chope ainda estão sendo disputados na Justiça, já que a Receita não desistiu do processo.
Ingressos para a Copa de 2006
Em 2006, a Justiça do Rio recebeu uma denúncia do Ministério Público contra Ricardo Teixeira e o proprietário de uma empresa de turismo, por crimes contra a ordem econômica.
A empresa Planeta Brasil foi a única autorizada pela CBF a receber e revender ingressos da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. A promotora autora da denúncia disse que a empresa de turismo reajustou os preços e condicionou a venda dos ingressos a pacotes turísticos.
Teixeira foi ouvido em uma audiência da Justiça em agosto de 2006. Ele negou irregularidades e disse que mais de 800 agências de turismo estavam cadastradas junto à Planeta Brasil. Nem o presidente da CBF, nem a empresa foram condenados.
CPI do futebol de 2001
Durante 14 meses, a CBF foi alvo de um inquérito parlamentar. O relatório produzido pela CPI sugere investigações mais profundas e indiciamento de diversas pessoas.
Ricardo Teixeira era o principal foco das investigações. Ele é citado por desvio de recursos através de empréstimos junto ao banco Delta Bank, na realização do Mundial de Clubes da Fifa de 2000, que foi sediado no Brasil, e em operações com a agência de turismo SBTR. Ele também foi citado por evasão de divisas na Copa Ouro de 1998 e na compra de uma casa em Búzios, além de crimes de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.
O presidente da CBF defendeu-se das acusações dizendo que nunca foi provado que qualquer dinheiro público foi parar em suas contas pessoais. Em julho de 2006, a 6ª Vara Criminal do Rio aceitou denúncia contra Teixeira por evasão de divisas com base no relatório da CPI. A CBF tomou empréstimos do Delta Banks com juros muito acima dos praticados pelo mercado, levantando suspeitas de que pessoas físicas tenham sido favorecidas no negócio.
Fifa e ISL
Em novembro de 2010, o programa Panorama da BBC acusou Ricardo Teixeira de ter recebido propinas da empresa esportiva ISL. Em maio de 2011, o Panorama afirmou que o dirigente brasileiro teria sido condenado pela Justiça suíça a devolver o dinheiro da propina.
A Fifa estaria impedindo a divulgação de um documento que revelaria que Teixeira e João Havelange foram condenados na Suíça. Ricardo Teixeira negou as acusações e processou o jornalista da BBC Andrew Jennings na Justiça brasileira, depois de declarações de Jennings ao blog do deputado Romário (PSB-RJ).
Venda de voto na Fifa
Em maio de 2011, o ex-presidente da federação inglesa de futebol David Triesman disse em um inquérito do governo britânico que Ricardo Teixeira teria pedido propina em troca de apoio à candidatura da Inglaterra para sediar a Copa de 2018. A Inglaterra perdeu a disputa para a Rússia.
Segundo o dirigente inglês, Ricardo Teixeira teria dito a ele: "Venha e me diga o que você tem para mim". Triesman entende que Teixeira estava pedindo algo em retorno pelo seu voto.
Uma investigação da Fifa inocentou o brasileiro. Teixeira chegou a dizer que processaria o inglês, mas desistiu.
Amistoso Brasil x Portugal
Em 2008, Brasil e Portugal jogaram um amistoso em Brasília. O jogo foi bancado com R$ 8,5 milhões de dinheiro público. A Polícia Civil de Brasília investiga se houve superfaturamento da empresa Ailanto.
A polícia descobriu cheques de uma das sócias da empresa, Vanessa Precht, a Ricardo Teixeira, pelo arrendamento de uma fazenda em Piraí (RJ). Os pagamentos mensais de R$ 10 mil de Vanessa a Teixeira começaram em março de 2009, quatro meses depois do amistoso.
Outro sócio da empresa Ailanto é o presidente do Barcelona, Sandro Rosell, amigo de Teixeira. Antes de a polícia achar os cheques, Ricardo Teixeira vinha negando qualquer vínculo com a Ailanto.
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