Mauricio Dias
Após embate com o poderoso capital financeiro, a presidenta Dilma forçou
e conseguiu a redução dos juros para um patamar histórico. A taxa de
8,5% ao ano, anunciada nos últimos dias, não só marca o aniversário dos
primeiros 18 meses de administração dela como também consolida, para
decepção dos céticos, a identidade de Dilma.
Fonte: CNI/Ibope |
Ela não é mais tão somente uma invenção de Lula. E, com o perdão das
feministas e para fazer escárnio dos machistas, o feito não é alcançado
pelo fato de uma mulher ser responsável pelo sucesso nem por ela ser
“durona como um homem”, como insistiria o frustrado.
O gênero não define nada. O que vem ocorrendo é resultado de coragem e determinação política.
Após superar a difícil fase de denúncias sobre assessores suspeitos de
corrupção, ou malfeitos, como diz ela, Dilma foi em frente. Afastou
ministros indicados pela base governista e deixou o Congresso
baratinado, soltando grunhidos de insatisfação.
Chegou-se a pensar que ela faria uma faxina capaz de desestabilizar o
governo, ou cederia. Não fez a faxina e não cedeu. Assim começou a
imprimir suas digitais na administração. O Congresso cedeu.
Posteriormente, pressionada pela crise internacional, partiu resoluta
para a queda de braço com os agentes do mundo financeiro. Eles esboçaram
uma reação.
Esperavam o recuo e se surpreenderam com o avanço.
A presidenta exibiu a musculatura do braço estatal – Banco do Brasil e Caixa Econômica – e os agentes privados cederam.
Poucos, além de fanáticos torcedores partidários, acreditavam que a
presidenta pudesse, sem o tutor político dela, ganhar identidade
própria. Pensavam assim os próprios militantes, os órfãos de Lula e,
naturalmente, a oposição, por elementar dever de ofício.
Dilma, neste curto período de ano e meio, contrariou os mais importantes
atores políticos do País ou, quando menos, grupos influentes como os
ambientalistas.
Ruralistas poderosos e ambientalistas influentes foram desagradados por
Dilma a partir das decisões tomadas em relação aos vetos e propostas,
nesse caso por via de medidas provisórias, do polêmico Código Florestal.
Para desespero dos profissionais de uma lógica superada, ela não
desestabilizou a base governista que, contabilizadas as alianças
formais, é formada por cerca de 350 parlamentares.
“Dilma fez tudo isso sem bravata e com a sobriedade que a função
presidencial exige”, constata Carlos Augusto Montenegro, do Ibope.
Mas, sem dúvida, não teria sucesso sem um apoio maciço da população. Os
porcentuais do índice de “Confiança no Presidente” (tabela) sustentam a
estabilidade do governo malgrado os conflitos frequentes com a base
governista no Congresso.
Ela só tem porcentual menor de confiança do que Lula tinha (80%) após
três meses de governo no primeiro mandato. Mas no primeiro trimestre do
segundo ano de governo comparado com Lula, seja no primeiro ou no
segundo mandato, ela já deixou Lula para trás: 72% dela contra 60% de
Lula no primeiro mandato e 68% no segundo.
Dilma contrariou também os militares com a formalização da Comissão da
Verdade e irritou a burocracia ao promulgar a Lei de Acesso à
Informação.
O Brasil está diante de uma importante transformação. E ela projeta uma
mudança fundamental: o ambiente político-eleitoral que elegeu Dilma em
2010 já não será o mesmo. Em 2014, talvez não seja inteiramente outro,
mas certamente será diferente.
Dilma deve, no entanto, a implantação de um novo código para o setor de comunicações. Para isso, no entanto, ainda virá a tempo.
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