segunda-feira, 2 de julho de 2012

Adeus, FHC


Posted by Leandro Fortes under Política [248] Comments

Adeus também foi feito pra se dizer

Fernando Henrique Cardoso foi um presidente da República limítrofe, transformado, quase sem luta, em uma marionete das elites mais violentas e atrasadas do país. Era uma vistosa autoridade entronizada no Palácio do Planalto, cheia de diplomas e títulos honoris causa, mas condenada a ser puxada nos arreios por Antonio Carlos Magalhães e aquela sua entourage sinistra, cruel e sorridente, colocada, bem colocada, nas engrenagens do Estado. Eleito nas asas do Plano Real – idealizado, elaborado e colocado em prática pelo presidente Itamar Franco –, FHC notabilizou-se, no fim das contas, por ter sido co-partícipe do desmonte aleatório e irrecuperável desse mesmo Estado brasileiro, ao qual tratou com desprezo intelectual, para não dizer vilania, a julgá-lo um empecilho aos planos da Nova Ordem, expedida pelos americanos, os patrões de sempre.

Em nome de uma política nebulosa emanada do chamado Consenso de Washington, mas genericamente classificada, simplesmente, de “privatização”, Fernando Henrique promoveu uma ocupação privada no Estado, a tirar do estômago do doente o alimento que ainda lhe restava, em nome de uma eficiência a ser distribuída em enormes lucros, aos quais, por motivos óbvios, o eleitor nunca tem acesso.

Das eleições de 1994 surgiu esse esboço de FHC que ainda vemos no noticiário, um antípoda do mítico “príncipe dos sociólogos” brotado de um ninho de oposição que prometia, para o futuro do Brasil, a voz de um homem formado na adversidade do AI-5 e de outras coturnadas de então. Sobrou-nos, porém, o homem que escolheu o PFL na hora de governar, sigla a quem recorreu, no velho estilo de república de bananas, para controlar a agenda do Congresso Nacional, ora com ACM, no Senado, ora com Luís Eduardo Magalhães, o filho do coronel, na Câmara dos Deputados. Dessa tristeza política resultou um processo de reeleição açodado e oportunista, gerido na bacia das almas dos votos comprados e sustentado numa fraude cambial que resultou na falência do País e no retorno humilhante ao patíbulo do FMI.

Isso tudo já seria um legado e tanto, mas FHC ainda nos fez o favor de, antes de ir embora, designar Gilmar Mendes para o Supremo Tribunal Federal, o que, nas atuais circunstâncias, dispensa qualquer comentário.

Em 1994, rodei uns bons rincões do Brasil atrás do candidato Fernando Henrique, como repórter do Jornal do Brasil. Lembro de ver FHC inaugurando uma bica (isso mesmo, uma bica!) de água em Canudos, na Bahia, ao lado de ACM, por quem tinha os braços levantados para o alto, a saudar a miséria, literalmente, pelas mãos daquele que se sagrou como mestre em perpetuá-la. Numa tarde sufocante, durante uma visita ao sertão pernambucano, ouvi FHC contar a uma platéia de camponeses, que, por causa da ditadura militar, havia sido expulso da USP e, assim, perdido a cátedra. Falou isso para um grupo de agricultores pobres, ignorantes e estupefatos, empurrados pelas lideranças pefelistas locais a um galpão a servir de tribuna ao grande sociólogo do Plano Real. Uns riram, outros se entreolharam, eu gargalhei: “perder a cátedra”, naquele momento, diante daquela gente simples, soou como uma espécie de abuso sexual recorrente nas cadeias brasileiras. Mas FHC não falava para aquela gente, mas para quem se supunha dono dela.

Hoje, FHC virou uma espécie de ressentido profissional, a destilar o fel da inveja que tem do presidente Lula, já sem nenhum pudor, em entrevistas e artigos de jornal, justamente onde ainda encontra gente disposta a lhe dar espaço e ouvidos. Como em 1998, às vésperas da reeleição, quando foi flagrado em um grampo ilegal feito nos telefones do BNDES. Empavonado, comentava, em tom de galhofa, com o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, das Comunicações, da subserviência da mídia que o apoiava acriticamente, em meio a turbilhão de escândalos que se ensaiava durante as privatizações de então:

Mendonça de Barros – A imprensa está muito favorável com editoriais.

FHC – Está demais, né? Estão exagerando, até!

A mesma mídia, capitaneada por um colunismo de viúvas, continua favorável a FHC. Exagerando, até. A diferença é que essa mesma mídia – e, em certos casos, os mesmos colunistas – não tem mais relevância alguma.

Resta-nos este enredo de ópera-bufa no qual, no fim do último ato, o príncipe caído reconhece a existência do filho bastardo, 18 anos depois de tê-lo mandado ao desterro, no bucho da mãe, com a ajuda e a cumplicidade de uma emissora de tevê concessionária do Estado – de quem, portanto, passou dois mandatos presidenciais como refém e serviçal.

Agora, às portas do esquecimento, escondido no quarto dos fundos pelos tucanos, como um parente esclerosado de quem a família passou do orgulho à vergonha, FHC decidiu recorrer à maconha.

A meu ver, um pouco tarde demais.

Do Blog Brasília, eu vi. Blog de Leandro Fortes.

Um comentário:

Anônimo disse...

Se a matéria não teve nenum comentário aqui, teve alguns no Portal do Nassif, que transcrevo:
Comentário de Marco Antônio Nogueira 11 horas atrás
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SARAIVA,
Sugiro uma correção:
"FHC, o doutor honoris CAOSa".
Já que Leandro Fortes citou GILMAR DANTAS,
veja esta que um amigo do
alto jornalismo de Brasília
me contou, e que nos mostra
o caráter de GILMAR DANTAS:
Dona Maria Letícia, a mulher
de Lula, é grande amiga
de Guiomar, a mulher de
Gilmar Dantas. Então, como
entender aquela cafajestice
contra Lula, com aquele
encontro que tiveram
ao lado de Jobim?!

2)
Mais uma:
- Um dos Marinho teve
encontro com DILMA,
pedindo-lhe, suplicando, que impedisse
a convocação de CIVITA
pela CPMI do Cachoeira.
Motivo: Civita está em
fase terminal de Câncer
(Próstata).
Abraço,
Marco Antônio

Comentário de Ariston Álvares Cardoso 9 horas atrás
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Se o Civita estiver realmente com cancer e em estado grave, acho que se deve dispensá-lo do comparecimento à CPMI pois essa é uma medida humana, respeitar um cidadão em seus momentos de dor, mas por outro lado, se isso é verdade, até acho que o Civita vai expontaneamente deixar para a CPI suas declarações por escrito relatando a verdade, somente a verdade, pois não acredito que ele se despeça desta vida terrena carregando tamanho segredo de crimes cometidos contra a pátria e se ele não tiver nada a relatar, pode fazer sua viagem definitiva para o Oriente Eterno

Comentário de Aparecido Barbosa 9 horas atrás
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Pode-se dizer tudo de Lula, menos acusá-lo de falta de solidariedade.
No hospital em que estavam, fez questão de visitar o senador Jarbas Vasconcelos, que seria submetido a um cateterismo, se não me engano. Sabedor disso, Jarbas é que visitou Lula.
Pelo palavreado e pelo tom deste mesmo palavreado, não se pode dizer que Jarbas é um adversário político de Lula, sendo mais coerente dizer que aquele é inimigo deste.
Bem assim fez Lula com Vitor Civita - cuja relação de "amizade" é mais ou menos a mesma de Jarbas.
Não gosto de nenhum dos dois, mas expresso minha solidariedade, principalmente, para seguir o exemplo de Lula.

Comentário de Luiz Antonio 7 horas atrás
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"Resta-nos este enredo de ópera-bufa no qual, no fim do último ato, o príncipe caído reconhece a existência do filho bastardo, 18 anos depois de tê-lo mandado ao desterro, no bucho da mãe,..." Pior, pensou que o filho era dele, mas não era. Era a fábula do chupim na vida real, ou seja, um chupim colocou um ovo no ninho do tucano. Dele mesmo, além dos filhos da D. Ruth, é o hoje rapaz que FHC e a doméstica que atendia a sua residência tiveram. Filho e mãe hoje trabalham no Senado, o rapaz no gabinete de um senador amigo e a mãe servindo café.

Comentário de Luiz Antonio 7 horas atrás
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Vitor Civita já morreu a muito tempo, o atual chama-se Robert(o) Civita.