Documentos apreendidos pela Polícia
Federal (PF) na Operação Monte Carlo, cuja análise foi concluída no
último dia 9 de julho, revelam uma participação direta do
subprocurador-geral da República Geraldo Brindeiro na defesa dos
interesses do grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Entre os papéis
encontrados pela PF em poder de dois dos principais aliados do
contraventor estão tabelas com registros de pagamentos mensais ao
escritório de advocacia de Brindeiro. Os repasses, conforme os
registros, somam R$ 680 mil em 2009 e 2010. O valor é quatro vezes
superior ao montante descoberto até agora pela CPI do Cachoeira. Em
maio, o senador Pedro Taques (PDT-MT) denunciou depósitos de R$ 161 mil
para o escritório do subprocurador.
Conversas telefônicas descritas
num dos relatórios da PF apontam um suposto encontro entre Brindeiro e o
braço direito de Cachoeira, Lenine Araújo de Souza, considerado o
segundo nome na hierarquia da organização criminosa. Num diálogo entre
Lenine e Cachoeira, poucos dias antes de serem presos, o primeiro relata
uma consulta jurídica feita a "Brindeiro" num hotel.
Geraldo Brindeiro exerceu por
quatro vezes o cargo de procurador-geral da República, durante os dois
mandatos de Fernando Henrique Cardoso na Presidência. Os quatro mandatos
sucessivos se estenderam de 1995 a 2003. Ele continua no cargo de
subprocurador-geral da República e, a partir de fevereiro de 2006,
passou a ser sócio - com 18% das cotas da sociedade - no escritório de
advocacia Morais, Castilho & Brindeiro. É este escritório o
destinatário de dinheiro repassado pelo grupo de Cachoeira, segundo a
PF.
Brindeiro já se explicou à CPI
em junho, por meio de um ofício em que sustenta a legalidade do
exercício da advocacia, permitida a membros do Ministério Público que
ingressaram na instituição antes da Constituição Federal de 1988. No
mesmo ofício, o subprocurador nega qualquer tipo de relacionamento com
Cachoeira e com o contador responsável pelos repasses de R$ 161 mil,
Geovani Pereira da Silva, denunciado na Operação Monte Carlo.
Ao elaborar o relatório sobre a
perícia feita no computador de Adriano Aprígio de Souza, considerado o
principal testa de ferro de Cachoeira, a PF cita a existência das
tabelas com registros de pagamentos de R$ 680 mil a "Brindeiro". Os
papéis foram encontrados na Vitapan Indústria Farmacêutica, empresa que
já foi colocada no nome de Aprígio e que seria usada pelo bicheiro para
lavar dinheiro do jogo, conforme investigação da PF. Nas planilhas, os
pagamentos foram contabilizados com três referências: RC, EC e CR. De
acordo com o relatório da PF, as siglas se referem a Roberto Sergio
Coppola, Electro Chance Gaming Suppliers e Carlos Ramos, o Cachoeira.
Conforme os documentos
apreendidos, Aprígio adquiriu 48% das cotas da Electro Chance, mediante
pagamento de R$ 3,3 milhões. O verdadeiro sócio seria Cachoeira, que
usou o ex-cunhado como laranja, segundo a PF. Coppola e a Electro Chance
exploram a jogatina na Argentina. "Os documentos aduzem a possibilidade
de a empresa operar também no Brasil. Isso explicaria os pagamentos
efetuados ao escritório Morais, Castilho & Brindeiro, em razão do
interesse do funcionamento dos jogos no Brasil", cita o relatório da PF
concluído em 9 de julho.
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