segunda-feira, 31 de maio de 2010

Eles não temem o ridículo

O excelente blog do Professor Hariovaldo já me fez rir muito – se você não conhece precisa conhecer; é um dos sites indicados por este blog, aí ao lado. Inclusive, eu mesmo, por duas vezes, já lhe servi de matéria-prima para seus divertidíssimos posts simulando o discurso reacionário. Mas a caricatura que o blogueiro gozador encarna não chega nem aos pés da caricatura viva e real de reacionário que é o blogueiro da Veja Reinaldo Azevedo.

Vejam só que coisa maluca: o blogueiro Ricardo Kotscho escreveu um post interessante especulando sobre quem são os 5% que aparecem nas pesquisas considerando o governo Lula de péssimo para baixo. Estranhou que as ciências sociais ainda não tenham perscrutado esse universo de pessoas que, aconteça o que acontecer, aferram-se a um discurso que não encontra a menor ressonância nos fatos, de que está tudo uma droga no Brasil.

Os blogueiros da Globo Ricardo Noblat e da Veja Reinaldo Azevedo abordaram o post de Kotscho justamente porque entre seus leitorados devem estar 99% dos 5% que odeiam este governo e que acham que está tudo péssimo no país. No blog do Noblat, ficou para o leitorado dizer o que foi dito pelo próprio Azevedo em post, que o petista Kotscho estaria querendo “fichar” os 5% que não apóiam Lula para que o governo persiga essas pessoas (?!).

Em um país em que um jornal ligado à oposição publica ficha policial falsa de membros do governo na primeira página e chama o presidente da República de maníaco sexual e de cachaceiro; em um país em que uma revista semanal publica foto na capa em que o presidente da República aparece de costas com a marca de um pé no traseiro; em um país em que tudo isso não gera um só processo contra esses veículos como ocorreria em qualquer país democrático, será que dá para levar a sério suposição de que este governo pretenderia perseguir quem não o apóia?

Não tenho a mesma dúvida do Kotscho. Sei muito bem quem são e onde estão esses 5% que não apóiam Lula. Sou vizinho deles, no bairro paulistano do Paraíso. Aliás, convivo com boa parte desse setor da sociedade. Essas pessoas são, em média, de classe média alta, têm renda acima de dez salários mínimos e estão no Sul e no Sudeste. São Minoria entre os mais ricos e escolarizados, mas estão concentradas nesse segmento.

São pessoas que, na média – refiro-me à maioria relativa delas, é claro, jamais a todas –, são racistas, querem separar Sul ou Sudeste do resto do Brasil, chamam o Bolsa Família de “esmola”, não aceitam que negros cursem universidades, querem que o Brasil volte a fazer negócios só com a Europa e com os Estados Unidos… Enfim, que têm saudades do tempo em que consumo, oportunidades e esperança eram coisa de rico.

Mas tenho uma dúvida sobre os tais 5%. Como é que pode um contingente de brasileiros desprezível percentualmente, mas que é rico, influente e escolarizado – apesar da ignorância – não ter absolutamente nenhum medo do ridículo? Como é que pode gente que sempre apoiou violência contra adversários políticos tais como tortura, estupro e assassinatos, ter coragem de acusar suas vítimas?

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Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)

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