segunda-feira, 31 de maio de 2010

Que Brasil é este dos 5% do contra?

O tema do Balaio deste domingo vale uma pesquisa em profundidade, uma tese acadêmica ou mesmo uma capa de revista: que Brasil é este dos 5%?

Entra pesquisa, sai pesquisa, eles estão sempre lá do mesmo tamanho. São os que consideram o governo Lula ruim ou péssimo. A aprovação do presidente e do governo pode variar entre 70 e 80%, conforme o instituto, os restantes ficam na categoria regular e, invariavelmente, temos os 5% de insatisfeitos com os rumos do país, tanto faz o que esteja acontecendo naquele momento de bom ou ruim.

Quem são eles, onde vivem, o que fazem, o que pensam? Já que ninguém se atreve a investigá-los, disponho-me aqui a encontrar algumas respostas sobre o perfil deste minoritário, mas sólido contingente de brasileiros que não mudam de opinião, mesmo remando contra a maré.

Mais do que um posicionamento político-partidário ou mesmo ideológico, como à primeira vista indicam as pesquisas, creio que se trata de um fenômeno psíquico, algo mais ligado aos sentimentos do que à razão, ao comportamento humano de um núcleo duro que é do contra porque é do contra, quaisquer que sejam suas motivações.

Em termos absolutos, estes 5% representam mais ou menos 9 milhões de brasileiros, o mesmo universo dos que lêem habitualmente jornais e revistas da grande mídia, o que pode representar uma primeira pista para entendermos seu pensamento.

Noto isto pelos comentários dos leitores publicados aqui no Balaio. Qualquer que seja o assunto, política, futebol, literatura, música, cinema, observações de viagem, mulheres bonitas, praias, botecos ou buracos de rua, sempre aparecem os mesmos comentaristas, escrevendo as mesmas coisas, com os mesmos argumentos: nada funciona, ninguém presta, tudo está ruim, a vida não vale a pena.

Confundem o país com o governo, a vida real com o noticiário do poder, ao reproduzir o que lêem nas manchetes e nos editoriais dos grandes veículos, nos blogs da Veja.com, nas colunas de O Globo ou ouvem dos comentaristas da CBN e da Jovem Pan. Se você fala bem de alguma coisa acontecendo no país, logo te chamam de vendido, chapa-branca, idiota.

Não importa o assunto. Nas viagens pelo Brasil que fiz nas últimas semanas, falei da minha alegria em revisitar as cidades de Teresina e Rio de Janeiro, que me encantaram por algumas características que tornam a vida dos seus moradores mais agradável, mesmo com todos os problemas de qualquer capital, grande ou pequena.

A grande maioria dos leitores destes dois lugares gostou do que escrevi, até me agradeceu por falar bem destas cidades que normalmente só aparecem no noticiário pelo lado negativo, dando-se mais destaque às suas mazelas do que aos seus encantos.

Mas lá estavam também os 5% de sempre, que me esculhambaram por elogiar a cidade onde vivem, dizendo que eu não vi nada, que a vida ali é um inferno, que não existe nada de bom, que só pensam em ir embora de lá.

Teresina é administrada pelo PSDB e, o Rio, pelo PMDB, em aliança com o PT, o que me prova não se tratar de implicância partidária, mas de um estado de espírito.

Como não posso pedir ajuda aos universitários, apelo aos leitores para que juntos encontremos outras respostas capazes de explicar que Brasil é este dos 5%. Ou será que vivemos em países diferentes?

Belas reportagens na

Folha e no Estadão

Fui agradavelmente surpreendido esta manhã por duas reportagens de fôlego, publicadas nos dois grandes jornais paulistas, escritas por colegas da maior competência.

No Estadão, Lourival Sant´Anna viajou quase 13 mil quiômetros para apresentar “Um retrato do eleitor brasileiro”, tema de um alentado caderno especial publicado pelo jornal.

Na Folha, Fernando Canzian deu a manchete do jornal: “Nordeste do país cresce em ritmo de Chináfrica´”, por coincidência mesmo tema da reportagem que estou fazendo para a edição de junho da revista Brasileiros.

Recomendo vivamente aos balaieiros a leitura de ambas. É sempre um alento voltar a encontrar grandes reportagens na nossa imprensa, a melhor forma de diferenciar um jornal do outro e enfrentar a concorrência das novas mídias eletrônicas.

Bom domingo a todos.

Autor: Ricardo Kotscho

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