Do Blog do Kotscho - 12/6/2012
Em
primeira mão, como diziam os jornais de antigamente, posso garantir
aos caros leitores do Balaio: a presidente Dilma Rousseff não vai
deixar barato a malandragem dos bancos que, para compensar a queda nos
juros, resolveram na surdina aumentar as tarifas acima da inflação.
Tenho informações seguras de que Dilma vai agir, e rapidamente, em duas frentes.
Primeiro,
vai conversar com as direções da Caixa Econômica Federal e do Banco do
Brasil para que os dois bancos oficiais deem o exemplo, como já
aconteceu na questão dos juros, e reduzam as tarifas cobradas dos seus
clientes.
Ao mesmo tempo, pedirá ao Banco Central que faça um
levantamento das tarifas cobradas pelos bancos e coloque tudo na
internet, para que os seus clientes possam comparar o que pagam com o
que é cobrado pela concorrência.
É a chamada tática do
constrangimento, que já deu certo quando a presidente anunciou que o
País precisava reduzir os juros. Imagino como tenha sido a conversa com
os banqueiros.
— Posso contar com vocês?
— Ah, sim, claro, senhora presidenta. O nosso banco vai apoiar com o maior prazer a redução das taxas de juros...
Eles
não mentiram. De fato, passaram a cobrar juros um pouco mais baratos,
seguindo o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, até para não
perder a clientela. Em seguida, porém, deram ordens para seus
executivos elevarem as tarifas, já que prometeram à presidente diminuir
os juros, mas não os seus lucros.
Já que nós não estamos
habituados a conferir os nossos extratos bancários nos mínimos
detalhes, muita gente, assim como eu, nem deve ter percebido o golpe,
mas a presidente Dilma estava atenta. A partir do momento em que o
Banco Central divulgar todas as tarifas de todos os bancos, ninguém
mais terá o direito de ser feito de trouxa. É só escolher aquele que
oferece mais e cobra menos.
Ao ver a notícia sobre o aumento das
tarifas bancárias nos telejornais da noite de segunda-feira, até me deu
um certo desânimo. Já tinha até pensado num título para hoje — "Dilma
manda muito, mas quem obedece?" — ao me lembrar dos tempos em que
trabalhei no Palácio do Planalto como secretário de Imprensa e
Divulgação da Presidência da República nos dois primeiros anos do
governo Lula.
"Você está mandando muito...", comentavam os
colegas ao me ver nervoso dando ordens pelo telefone. "É, estou
mandando muito, mas ninguém me obedece...", brincava.
Dilma tem
fama de mandona desde que assumiu a chefia da Casa Civil, em 2005, com
carta branca do presidente Lula para cobrar os demais ministros e
colocar ordem na cozinha do governo. E é claro que, como presidente da
República, ela manda muito mais, embora entre as ordens dadas e o seu
cumprimento haja um abismo e uma eternidade, que tanto a irritam.
Por
isso, achei que mais uma vez o governo seria derrotado na sua cruzada
contra a voracidade dos bancos, mas antes que começasse a escrever
minha coluna diária apurei as informações sobre quais providências
Dilma vai tomar para enquadrar os bancos.
Desde a vinda de D.
João VI com toda a família real e sua corte para o Brasil, em 1808 -
como se pode ler no brilhante livro do mesmo nome, ou melhor, número,
do jornalista Laurentino Gomes, tem sido assim: sempre se procura dar
um jeitinho para driblar as leis e levar vantagem em tudo.
Não
são só os banqueiros, não, que agem desta forma. Os militares, que
deveriam dar o exemplo, formados que são para respeitar a hierarquia e a
disciplina, também tentaram dar uma de espertos para não cumprir a Lei
de Acesso à Informação.
O repórter Rubens Valente informa na
Folha desta terça-feira que, "dias antes de entrar em vigor a Lei de
Acesso à Informação, em maio, o Ministério da Defesa usou brecha na lei
para elevar o sigilo de documentos militares, o que pode prorrogar o
prazo para que eles se tornem públicos".
Trocando em miúdos: os
militares simplesmente transformaram em "secretos" documentos antes
catalogados como "confidenciais", aumentando de 10 para 15 anos o prazo
do sigilo.
Que não percam por esperar. Assim que voltar da
viagem que está fazendo hoje a Minas Gerais, certamente a presidente
Dilma tomará suas providências para que a lei seja respeitada.
A cada dia sua agonia, uma nova cilada. Não deve ser nada fácil ocupar o cargo de presidente da República do Brasil.
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