O factóide de Gilmar Mendes contra Lula significa “elemento” em campanha
01 de junho de 2012 às 14:44 Nenhum Comentário
“Quarto
elemento - Há alguns dias, José Serra ligou para o ex-ministro Nelson
Jobim. Pediu a ele que falasse com a revista “Veja”. Jobim atendeu ao
pedido do amigo – e só então soube da reportagem sobre Lula e o ministro
Gilmar Mendes. Escaldado, Jobim disse não ter presenciado nada
beligerante na conversa entre os dois, que ocorreu em seu escritório, em
Brasília”
A nota acima foi publicada ontem (31/5) na coluna da jornalista Monica
Bergamo, no jornal Folha de S.Paulo. Sem ser direta, joga luz sobre o
quarto elemento que participou do caso Gilmar Mendes x Lula, o
pré-candidato a prefeitura de São Paulo, José Serra. Ele, sempre ele.
Entre marqueteiros e estrategistas de campanha todos sabem que uma coisa
é certa quando Serra está na disputa: não há possibilidade de a eleição
ser tranqüila e limpa.
O episódio narrado por Bergamo ontem merece ser analisado num contexto
maior. Serra quer Lula mais fraco no processo eleitoral deste ano. E
além disso quer muitíssimo que o julgamento do mensalão aconteça entre
agosto e setembro para que o debate sobre as questões municipais seja
diluído do ponto de vista midiático. Ou alguém acha que com o julgamento
do mensalão acontecendo no STF neste período os veículos de comunicação
tradicionais vão tratar de qualquer coisa relacionada à gestão Kassab,
por exemplo? Nas contas que fez não havia nada melhor para embananar o
jogo do que dar publicidade a este factóide de Gilmar Mendes, que também
tem muito interesse em desviar os holofotes midiáticos da CPI do
Cachoeira.
Para quem acha que isso é coisa de blogueiro sujo, que tal relembrar algumas histórias.
Caso Roseana Sarney
O dossiê mais conhecido contra um adversário de Serra teve como alvo a então candidata a presidente da República, Roseana Sarney, em 2002.
O jurista Saulo Ramos, que até onde consta não é um “blogueiro sujo”, no
livro Código da Vida, revela que o dossiê foi motivado pelo crescimento
de Roseana nas pesquisas. “E de repente, sem que estivesse previsto, o
PFL lançou Roseana Sarney. Seu nome foi um impacto. Subiu nas pesquisas,
Serra ficou para trás e, em todas as simulações de segundo turno, era a
única capaz de derrotar Lula”. A partir daí ocorreu a investigação
contra Roseana. “Uma das mais cínicas maroteiras da história
republicana”, na opinião do autor.
O jurista descreve o que aconteceu: “Fernando Henrique Cardoso mandou
montar um grupo especializado e treinado para fazer espionagem. A
justificativa: vigiar o controle dos preços dos remédios, o cartel dos
laboratórios. José Serra, então Ministro da Saúde, havia sido perseguido
pelos militares. Sabia bem como os governos eram poderosos nessa
especialidade. Fernando Henrique o convenceu a aceitar a maquinação
porque dizia ser em favor de sua candidatura a Presidente da República.
Serra caiu na conversa”. Saulo Ramos acrescenta: “O objetivo era montar a
estratégia política da candidatura de Serra à Presidência da República e
desenvolver ações de espionagem e denúncias contra possíveis
opositores. Para tanto, Aloysio Nunes Ferreira, Ministro da Justiça [o
mesmo do dossiê Tasso] mandou instalar uma estação de escuta em São
Luís.
De acordo com Ramos, “essa “estação” foi descoberta, e o Ministro da
Justiça justificou que se destinava a combater o narcotráfico. (…) São
Luís nunca esteve na rota da cocaína. Nem no Rio de Janeiro havia uma
estação como aquela”.
Depois que a revista Época, da editora Globo, publicou edição com o
escândalo que envolvia Roseana, ela desistiu da candidatura à
Presidência, apoiou Lula e candidatou-se ao Senado, sendo eleita.
Caso Tasso Jereissati
No dia 12 de junho de 2010, a jornalista Christiane Samarco revelou, em
reportagem do Estado de S.Paulo, que o então governador Mário Covas, já
adoentado, recebeu em 2000 a visita de Tasso Jereissati, na época
governador do Ceará, comunicando-lhe que estava impedido de ser
candidato a Presidência e o apoiava para o cargo, dizendo que “essa
disputa vai ficar entre você e o Serra. E meu candidato é você”.
Além de Mário Covas, o ex-governador do Ceará tinha também o apoio do
PFL de Antônio Carlos Magalhães, mas mesmo assim desistiu da
candidatura.
A reclamação de Jereissati foi a de que “setores do PSDB no governo”
estariam dificultando a liberação de recursos para o Ceará e
investigando sua vida.
De acordo com a reportagem, ao chegar ao palácio da Alvorada para
comunicar sua desistência a FHC, Tasso se encontrou com o ex-ministro da
Justiça e secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira, a
quem o ex-governador do Ceará atribuía uma operação da Polícia Federal
que colocou agentes em seu encalço numa investigação de lavagem de
dinheiro.
Nesse encontro, segundo o Estado de S. Paulo, houve um bate-boca entre
Jereissati e Aloysio Nunes. Leia o trecho publicado e entenda melhor
como se movimenta o quarto elemento.
“Vocês jogam sujo!”, disse Tasso. (…) “Vocês quem?”, quis saber Aloysio.
(…) “Você…o Serra… Vocês estão jogando sujo e eu estou saindo (da
disputa presidencial) por causa de gente como você que está me fodendo
nesse governo” reagiu Tasso. (…) “Jogando sujo é a puta que o pariu”,
berrou Aloysio, já partindo para cima do governador. Fora do controle e
vermelho de raiva, Tasso chegou a arrancar o paletó e os dois armaram os
punhos para distribuir os socos. Foi preciso que o governador do Pará,
Almir Gabriel, apartasse a briga, enquanto FHC, incrédulo, pedia calma.
Caso Paulo Renato de Souza
Quando Serra era ministro da Saúde e o ex-delegado da Polícia Federal e
deputado, Marcelo Itagiba, cuidava da “inteligência” da pasta, circulou
um dossiê contra Paulo Renato de Souza, então ministro da Educação. À
época, Souza planejava disputar com Serra a indicação do PSDB à
presidência. Serra levou a melhor e foi candidato em 2002.
Ou seja, o elemento está em ação. A campanha de São Paulo vai ser a mais
suja dos últimos tempos, anotem. Serra sabe que se vier a perder, será o
fim de sua carreira política.
A nota de ontem de Mônica Bergamo é um aperitivo do que vem por aí.
(Colaborou: Felipe Rousselet)
Nenhum comentário:
Postar um comentário