Do Viomundo - publicado em 9 de junho de 2012 às 11:22
por Marcos Coimbra, em CartaCapital, sugestão de Julio Cesar Macedo Amorim
A
cobertura de nossa “grande imprensa” da atualidade política gira em
torno de três equívocos. Por isso, mais confunde que esclarece.
Os
três decorrem da implicância com que olha o governo Dilma Rousseff, o
PT e seus dirigentes. A mesma que tinha em relação a Lula quando era
presidente.
Há, nessa mídia, quem ache bonito – e
até heróico – ser contra o governo. E quem o hostilize apenas por
simpatizar com outros partidos. Imagina-se uma espécie de cruzada para
combater o “lulopetismo”, o inimigo que inventaram. Alguns até
sinceramente acreditam que têm a missão de erradicá-lo.
Não
é estranho que exista em jornais, revistas, emissoras de televisão e
rádio, e nos portais de internet, quem pense assim, pois o mundo está
cheio deles. E seria improvável que os empresários que os controlam
fossem procurar funcionários entre quem discorda de suas ideias.
Até
aí, nada demais. Jornalismo ideológico continua a ser jornalismo.
Desde que bem-feito e enquanto preserve a capacidade de compreender o
que acontece e informar o público. O problema da “grande imprensa” é
que suas antipatias costumam levá-la a equívocos. Como os três de
agora. Vejamos:
O Desespero de Lula
Pode haver suposição mais sem sentido do que a de que Lula esteja “desesperado” com o julgamento do mensalão?
Ele
venceu as três últimas eleições presidenciais, tendo tido na última
uma vitória extraordinária. Só ele se proporia um desafio do tamanho de
eleger Dilma Rousseff.
Hoje, em qualquer pesquisa sobre a eleição de 2014, atinge mais de 70% das intenções de voto, independentemente dos adversários.
Seu
governo é considerado o melhor que o Brasil já teve por quase três
quartos do eleitorado, em todos os quesitos: economia, atuação social,
política externa, ecologia etc. (sem excluir o combate à corrupção).
O
mensalão já aconteceu e foi antes que galvanizasse a imagem que
possui. Lula tem, portanto, esse conceito depois de passar pelo
escândalo. O ex-presidente não tem nenhuma razão para se importar
pessoalmente com o julgamento do mensalão. Muito menos para estar
“desesperado”.
O que ele parece estar é
preocupado com alguns companheiros, pois sabe que existe o risco de que
sejam punidos, especialmente se o Supremo Tribunal Federal for
pressionado a condená-los. Solidarizar-se com eles – e fazer o possível
para evitar injustiças – não revela qualquer “desespero”.
A Batalha Paulista
Não
haverá um “enfrentamento decisivo” na eleição para prefeito de São
Paulo. Nada vai mudar, a não ser se a gestão local, se José Serra, ou
Fernando Haddad, ou Gabriel Chalita sair vitorioso.
Como
a “grande imprensa” está convencida de que José Serra vai ganhar – o
que pode ser tudo, menos certo -, a eleição está sendo transformada em
um “teste” para Lula, o PT e o governo Dilma. Ou seja, quem
“nacionaliza”a disputa é a mídia. Apenas porque acha que Haddad vai
perder. Se Serra vencer, o PSDB não aumenta as chances de derrotar
Dilma (ou Lula) em 2014. Caso contrário, terá sua merecida
aposentadoria. O melhor que os tucanos podem tirar da eleição paulista é
a confirmação da candidatura de Aécio Neves.
Quanto
ao PT e ao PMDB, vencendo ou perdendo, saem renovados. No médio e no
longo prazo, ganham. Por enquanto, a mídia está feliz. Cada pesquisa em
que Haddad se sai mal é motivo de júbilo, às vezes escancarado. Quando
subir, veremos o que vai dizer.
É a Economia, Estúpido
Sempre
que pode, essa mídia repete reverentemente a trivialidade que
consagrou James Carville, o marqueteiro que cuidou da campanha à
reeleição de Bill Clinton.
Lá, naquele momento, foi uma frase boa.
Aqui,
não passa de um mantra usado para desmerecer o apoio popular que Lula
teve e Dilma tem. Com ela, pretende-se dizer que “a economia é tudo”.
Que, em outras palavras, a população, especialmente os pobres, pensa
com o bolso. Que gosta de Lula e Dilma por estar de barriga cheia.
Com
base nesse equívoco, torce para que a “crise internacional”ponha tudo a
perder. Mas se engana. É só porque não compreende o País que acha que a
economia é a origem, única ou mais importante, da popularidade dos
governos petistas.
Nos últimos meses, a avaliação
de Dilma tem subido, apesar de aumentarem as preocupações com a
inflação, o emprego e o consumo. E nada indica que cairá se
atravessarmos dificuldade no futuro próximo.
Lula
não está desesperado com o julgamento do mensalão. Se Serra for
prefeito de São Paulo, nada vai mudar na eleição de 2014. As pessoas
gostam de Dilma por muitas e variadas razões, o que permite imaginar
que continuarão a admirá-la mesmo se tiverem de adiar a compra de uma
televisão.
Pode ser chato para quem não simpatiza com o PT, mas é assim que as coisas são.
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