Publicado em 8 de setembro de 2009
Carlos I era o Supremo Soberano e acabou com a cabeça separada do pescoço |
O Direito Divino no STF
Já falei aqui de Ângelo, de Medida por Medida, personagem de Shakespeare
que ao ocupar o cargo de juiz supremo se corrompe apaixonado por uma
bela mulher. Suponhamos que um juiz do STF se corrompa. O que se deve
fazer? Seus pares o expulsarão? A sociedade o enxotará? Ou a Corte deve
permanecer infectada, com membro gangrenado – pois que é um corpo? A
pergunta não é descabida, já que dois juízes do STJ foram expulsos por
seus pares acusados de pesadíssima corrupção. Seria bom que alguém
respondesse essa pergunta. Ou ela não tem resposta? A Corte é realmente
uma figura só, como o Leviatã de Hobbes, que é feito de muitos
homenzinhos. Só que a nossa corte suprema é feita de apenas 11
criaturinhas. Ou seja, existe apenas o STF – o corpo -, não existe mais o
indivíduo. É assim no mundo todo, sabemos. Agora, é possível que um ou
dois membros destoem bastante do resto do corpo, e não cumpram a função
para a qual foram criados! E aí, o que faremos?
Shakespeare provou que o homem é um ser falível, imperfeito; a religião,
a ciência, e o Direito mostram que é essa a condição humana. Assim é
plenamente possível que um ou outro membro dessa Corte possa se afastar
dos caminhos da honra. Faço essas observações, porque vejo no momento a
nação revoltada com o juiz Gilmar, que tem se comportado como se fosse
um Juiz Ungido pelo Senhor, o Justiceiro Supremo. Pois, avocou para si a
teoria do Direito Divino dos Reis, de Jean Bodin e do bispo Bossuet. A
nova teoria criada por seu presidente se chama Teoria do Direito Divino
dos Juízes do STF.
Lá o instituto do Impeachment não é sequer um espectro, funciona pro
Executivo, mas não pro Supremo Tribunal Federal. Precisamos de uma nova
teoria. De uma nova visão. Um novo Montesquieu, já que as três pilastras
de sustentação do Sistema Democrático de Direito não estão funcionando
no Brasil. As últimas decisões do STF contrariam completamente a opinião
dos mais respeitados juristas do país.
Nosso Legislativo padece da mais absoluta degradação, o STF, órgão
máximo do poder Judiciário, funciona com se a sociedade civil não
existisse. Lembro que nos EUA há mais de um século ocorreu o impeachment
de um juiz da Suprema Corte, aqui é sacrilégio falar no assunto. É como
se dissessem: o céu não permite que se destitua um juiz (do STF)
ungido, ele está acima de todos os homens. Parece a Idade das Trevas!
Ora, a Inglaterra cortou a cabeça de Charles I em 1649 porque ele se
achava acima de tudo e de todos. Essa história tem quase quatro séculos,
e Charles I era um Rei!
No entanto, aqui no Brasil, em 2009, temos um Gilmar I no Judiciário.
Claro, a Corte Suprema é para julgar todos os homens! E seus juízes
também são homens! Mas, quem os julgará? E agora que um deles, ocupando a
presidência, um cargo rotatório, se comporta como o dono das leis, a
quem apelaremos? Apelo para Shakespeare: “Quando um juiz não faz
justiça, é legal impedir que seja injusto”!
Theófilo Silva, Presidente da Sociedade Shakespeare de Brasília e Colaborador da Rádio do MorenoNo Rádio do Moreno
Obs.:Título deste post do Conversa Afiada.
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