Serra com PR: a coerência vendida por 1min30s
Josias de Souza
0
comentários Josias de Souza
Dia 5 de julho de 2011. PSDB e DEM protocolam na Procuradoria-Geral da República um pedido de investigação
das denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes. Entre os
alvos, as legendas mencionam o então ministro Alfredo Nascimento, o
diretor afastado do Dnit Luiz Antonio Pagot e o deputado federal
Valdemar Costa Neto. Todos do PR.
Dia 4 de junho de 2012. Passados onze meses, José Serra, candidato do PSDB a prefeito de São Paulo apoiado pelo DEM, recepciona
o PR em sua coligação. Coisa negociada por Valdemar Costa Neto e
formalizada na presença de Alfredo Nascimento. Tudo isso menos de 48
horas depois da veiculação de entrevistas em que Luiz Antonio Pagot
acusou Serra de fazer caixa dois com verbas da obra do Rodoanel.
Antes de associar-se a Serra, o PR negociara com Fernando Haddad, o
candidato de Lula à prefeitura paulistana. A legenda bandeou-se da
caravana do PT para a do PSDB porque Dilma Rousseff negou-se a devolver à
tribo dos peérres o comando do Ministério dos Transportes. Aquela pasta
que tucanos e ‘demos’ exigiam que fosse varejada pela Procuradoria.
Quem compara as duas cenas –a de julho de 2011 e a de junho de 2012—
percebe que, a lógica que guia as decisões políticas tem cara de lógica,
penas de lógica, rabo de lógica, trinado de lógica, mas é oportunismo
puro. Instado a comentar o ilógico, Serra construiu uma lógica própria.
Disse que faz aliança “com partidos, não com pessoas.” Os aliados, disse
ele, ajustam-se ao seu “estilo de governar.”
Não causa incômodo ao candidato tucano nem mesmo o fato de Valdemar
Costa Neto, mandachuva do PR-SP e arquiteto da aliança, ser um dos réus
da ação penal do mensalão. “Se for proibido para partidos que têm
pessoas que estão no processo, o PT não poderia nem disputar eleição,
porque ele que coordenou e que comandou a organização desse chamado
mensalão”, deu de ombros Serra.
A adesão do PR renderá a Serra algo como 1min30s de tempo de televisão.
No balcão das transações eleitorais, é esse o preço do tucanato: um
minuto e 30 segundos de propaganda eleitoral. Um detalhe injeta comédia
na tragédia: chama-se Demóstenes Torres um dos subscritores da petição
em que a oposição pediu à Procuradoria que vasculhasse os negócios do PR
nos Transportes. Nessa época, o senador era um respeitável líder do
DEM.
Agora, fica entendido o seguinte: se a honestidade é um Demóstenes que
ainda não recebeu um telefone Nextel do Cachoeira, a coerência é um
tucano que ainda não descobriu os encantos do Valdemar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário