Ministro se irrita com tentativas de
Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes de pressionar Celso de Mello a
votar contra recursos de réus do mensalão. Dupla ofende recém-chegados
ao STF
Para o "novato", a Carta Magna deve ser a preocupação dos ministros, e não a opinião da mídia Fellipe Sampaio/STF |
São Paulo – O ministro Luís Roberto Barroso ficou irritado hoje (12) com
a tentativa de colegas de Supremo Tribunal Federal (STF) de pressionar o
decano Celso de Mello a votar contra o acolhimento dos embargos
infringentes da Ação Penal 470, o mensalão. O mais recente dos
integrantes da Corte lamentou ainda as declarações de Marco Aurélio
Mello e Gilmar Mendes de que os jornais estampariam a desmoralização do
STF caso fossem aceitos os recursos, que na prática abrem um novo
julgamento para onze réus quanto ao crime de formação de quadrilha.
Mello foi o décimo a votar sobre o tema, e decidiu empatar a disputa em
cinco votos a cinco, deixando para o decano o voto de minerva. “Que
responsabilidade, hein, ministro Celso de Mello?”, ironizou, fazendo em
seguida várias citações ao ministro enquanto expunha seu voto. Ele e
Mendes passaram então a afirmar que aceitar os recursos teria grave
efeito sobre a imagem da Corte, que tem a chance de dar uma resposta à
opinião pública sobre a fama de que o Brasil nunca pune seus políticos.
Foi quando Barroso interrompeu o bate-papo, insinuando que a dupla
visava a pressionar Celso de Mello: “Assumi a posição de não pretender
convencer ninguém do meu ponto de vista”, disse. “Gostaria de dizer, em
defesa do meu ponto de vista e sem demérito para seu ponto de vista, que
eu, em minha vida, faço o que acho certo, independente da repercussão.
Não sou um juiz que me considero pautado pela repercussão do que vou
dizer. Muito menos o que vai dizer o jornal do dia seguinte. Sou um juiz
constitucional.”
Marco Aurélio passou a se referir a Barroso como “novato” e acusou o
ministro de insistir em críticas a decisões do colegiado – Barroso votou
a favor do acolhimento dos embargos infringentes, na mesma linha
defendida por outro recém-chegado à Corte, Teori Zavascki. "Veja que o
novato parte para uma crítica ao próprio colegiado, como partiu em votos
anteriores. Disse, inclusive, que se estivesse a julgar não decidiria
da forma com que decidimos. Não respondi a crítica porque foi para mim
não foi velada, mas crítica direta, porque achei que não era bom”, disse
o ministro, um dos mais antigos da Corte.
Barroso afirmou que não teve a intenção de criticar nenhum integrante do
Supremo. "A minha ressalva é da minha posição e o fato de divergir não
significa que estou certo e nem errado."
Mais cedo, Mendes acusou estar em curso uma “odiosa manipulação da
composição do tribunal” - os dois novos ministros tiveram o mesmo
processo de nomeação dos demais, com indicação da Presidência da
República e sabatina do Senado.
Reagindo à recente declaração de Mendes de que é preciso acabar logo com
o julgamento, cansativo para os integrantes do Supremo, Barroso disse
que também ficará feliz quando a apreciação do caso for encerrada, mas
que isso não o leva a julgar para a multidão. “Gostaria de saber, se
perguntássemos a uma pessoa, e não à multidão, se seu pai, seu irmão,
seu filho estivessem na reta final do julgamento, e na última hora se
estivesse mudando uma regra para desfavorecer a pessoa, gostaria disso?
Não”, disse. “Não estou subordinado à multidão. Estou subordinado à
Constituição.”
Marco Aurélio e Gilmar Mendes proferiram votos longos, que se arrastaram
durante quase toda a tarde. Com isso, encerrou-se a sessão com empate
em cinco votos a cinco, o que deixará sobre Celso de Mello uma forte
pressão até a retomada dos trabalhos, na próxima quarta-feira. Caso ele
vote a favor do acolhimento dos embargos infringentes, onze réus terão
direito a uma reavaliação do caso.
Até agora, além de Marco Aurélio e de Mendes, votaram contra os embargos
Cármen Lúcia, Luiz Fux e Joaquim Barbosa. Posicionaram-se a favor os
ministros Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Rosa Weber, Luís Roberto
Barroso e Teori Zavascki.
No RBA
Um comentário:
Bem vinda esse "nova" preocupação dos senhores Gilmar e Marco Aurélio com a celeridade processual e o "respeito à opinião pública"... Por certo foi isso que moveu o senhor Gilmar ao, junto com o senhor Ayres, de triste memória, a jogar para frente o processo do "mensalão mineiro". Imagino que a opinião pública, a época dos HC's para o Cacciola e Dantas devia estar ávida pela "soltura" desses senhores. Além disso, o HC do Cacciola, de lavra do senhor Marco Aurélio, devia estar atendendo o interesse dos contribuintes. Pergunto ao senhor Marco Aurélio, contribuintes de quem, dele ou da Receita Federal?!
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