Novo surto de vale-tudo
Por Alberto Dines
Na tarde de 12 de abril de 2011, em aula da primeira edição do Curso de
Pós-Graduação em Jornalismo, da ESPM-SP, Eurípedes Alcântara, diretor de
Redação da Veja, na condição de professor-convidado, declarou, para
espanto dos 35 alunos presentes: “Tratamos o governo Lula como um
governo de exceção”. Na capa da última edição do semanário (nº 2365, de
19/3/2014), o jornalista ofereceu trepidante exemplo da sua doutrina.
Para comprovar a ilegalidade das regalias que gozaria o ex-ministro José
Dirceu no Complexo da Papuda, Veja cometeu ilegalidade ainda maior.
Detentos não podem ser fotografados ou constrangidos, o ato configura
abuso de poder, invasão da privacidade e, principalmente, um torpe
atentado ao pudor e à ética jornalística. Um bom advogado poderia até
incriminar os responsáveis por formação de quadrilha ao confirmar-se que
o autor da peça (o editor Rodrigo Rangel) não entrou na penitenciária e
que alguém pagou uma boa grana aos funcionários pelas fotos e as,
digamos, “informações”.
“Exclusivo – José Dirceu, a Vida na Cadeia” não é reportagem, é pura
cascata: altas doses de rancor combinadas a igual quantidade de
velhacaria em oito páginas artificialmente esticadas e marombadas. As
duas únicas fotos de Dirceu (na capa e na abertura), feitas certamente
com microcâmera, não comprovam regalia alguma.
Ao contrário: magro, rosto vincado, fortes olheiras, cabelo aparado, de
branco como exige o regulamento carcerário, não parece um privilegiado.
Se as picanhas, peixadas e hambúrgueres do McDonald’s supostamente
servidos ao detento foram reais, Dirceu estaria reluzente, redondo,
corado. Um preso em regime semiaberto pode frequentar a biblioteca do
presídio, não há crime algum.
...
Num governo de exceção vale tudo. Também no jornalismo de exceção.
Um comentário:
O VALE TUDO JÁ ERA ESPERADO.
Postar um comentário