RIBAMAR FONSECA
Surpreende que homens que se escafederam do país durante o regime militar, como FHC e José Serra, continuam deitando falação contra o governo, enquanto os que ficaram aqui e lutaram, como José Dirceu, estão presos
A hipocrisia, sempre presente na vida da Humanidade, continua presidindo
a ação dos homens, especialmente na atividade política. Muitos
políticos, contando com um espaço garantido na mídia, fazem declarações
sobre os adversários, mesmo conscientes de que o que estão dizendo nem
sempre corresponde à verdade. Ainda recentemente o líder do PSDB na
Câmara Federal, deputado Antonio Imbassahy, acusou a presidenta Dilma
Rousseff de ter praticado "um crime" contra o Brasil por ter a Petrobrás
comprado uma refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos. A compra,
aprovada por unanimidade pelo Conselho Administrativo da empresa, na
época foi considerada um bom negócio, mas hoje está sendo vista pela
oposição como um negócio prejudicial ao país.
Sem entrar nos detalhes da transação e mesmo admitindo-se ter sido um
mau negócio – o que não parece, considerando-se que a refinaria está
dando lucros – pergunta-se ao líder tucano: se a compra de uma indústria
em solo americano foi um "crime", conforme disse, como classificar a
venda da Vale do Rio Doce para o capital estrangeiro, incluindo as
riquezas do subsolo brasileiro? A venda da Vale, a empresa que mais dava
lucros ao país, na verdade foi um crime de lesa-pátria, mas o
parlamentar prefere fazer vista grossa para essa transação – a exemplo
da Grande Mídia, que se beneficia com gordas verbas publicitárias – e
hipocritamente faz acusações à adversária política do seu partido. Isso é
apenas um pálido exemplo do que se tornou rotina no comportamento de
muitos políticos.
Do mesmo modo, um grupo de alienados – muitos dos quais certamente não
vivenciaram os anos de chumbo – decidiu fazer uma manifestação em favor
de um golpe militar, às vésperas do 50º aniversário do golpe de 1964,
aparentemente convencido de que uma ditadura seria a melhor solução para
acabar com a corrupção que supostamente campeia no país. Em primeiro
lugar é preciso lembrar que a corrupção é uma praga que existe no mundo
desde os primórdios da Humanidade e que hoje está mais visível devido à
liberdade de expressão, o que não acontece numa ditadura. Isso não
significa que a corrupção está maior, mas só numa democracia, com a
liberdade de denúncia, é possível combatê-la. Ainda bem que a tal Marcha
com Deus acabou num tremendo fiasco, com cerca de 700 pessoas
desfilando com faixas pelas ruas de São Paulo, o que significa que o
povo está esperto e não dá importância a essas maluquices.
Por sua vez, os dois principais candidatos oposicionistas à Presidência
da República, Aécio Neves e Eduardo Campos, concluíram que a melhor
maneira de atrair votos é batendo na presidenta Dilma Rousseff. Para
ambos, todos os atos do governo federal estão errados e, por isso, o
Brasil vai muito mal. Eles sabem que esse cenário não é verdadeiro, mas
insistem em apenas apontar problemas sem, contudo, indicar as soluções.
Indiretamente estão contribuindo com aqueles que desejam uma intervenção
militar no país, embora sejam netos de homens que lutaram contra a
ditadura quando ainda se encontravam nas fraldas: Tancredo Neves e
Miguel Arraes. Na verdade, graças à estrada democrática aberta com a
participação dos seus avós é que eles estão buscando chegar ao Palácio
do Planalto pelo voto popular. Deviam, portanto, pensar melhor antes de
algumas declarações estapafúrdias.
O que mais surpreende, porém, é que homens que se escafederam do país
durante o regime militar, como Fernando Henrique Cardoso e José Serra,
continuam deitando falação contra o governo mesmo com enormes rabos de
palha, enquanto os que ficaram aqui e lutaram contra a ditadura, como
José Dirceu, estão presos justo pela democracia que ajudaram a
restaurar. O doce exílio de Serra e FHC no Chile, este desfilando pelas
ruas de Santiago em seu Mercedes azul, contrasta com a vida de perigos
de Dirceu e José Genoino, que permaneceram aqui lutando por um Brasil
livre. Condenados sem provas, com base na "teoria do domínio do fato",
ou seja, em rumores veiculados pela chamada Grande Imprensa com foros de
verdade, eles pagam hoje o preço do seu idealismo, o que nem a ditadura
conseguiu.
Parece estranho, por outro lado, o imobilismo diante da afronta à
Constituição de quem tem o dever de defendê-la. O ex-ministro José
Dirceu continua há quatro meses preso em regime fechado, contrariando o
semiaberto para o qual foi condenado, sem que alguma providência
concreta seja tomada para coibir o abuso de poder do ministro Joaquim
Barbosa e do seu pupilo Bruno Ribeiro, juiz de Execuções Penais do DF.
Até hoje Dirceu é o único que não teve decidido o seu pedido para
trabalhar fora do presídio. Tem-se a impressão de que o processo do
mensalão foi montado com o único e exclusivo objetivo de atingi-lo,
deixando os outros como figurantes. Muitos já criticaram a maldade
praticada contra Dirceu, mas ninguém adotou ainda qualquer medida
concreta para defendê-lo, nem mesmo o seu próprio partido.
Enquanto isso, a imprensa do condicional continua fazendo vítimas,
rotulando pessoas de corruptas e destruindo reputações. O jornalismo do
"off", do "teria", do "entreouvido", mais interessado em influenciar do
que informar, prossegue em sua prática deletéria, fazendo a cabeça de
muita gente, até mesmo dentro do Judiciário, onde o senso de justiça vem
sendo substituído pelo partidarismo. O povão, no entanto, felizmente já
demonstrou que não mais se deixa influenciar, conforme atestam as
pesquisas. E provavelmente está convencido, a despeito do noticiário
tendencioso, de que mais cedo ou mais tarde a Justiça prevalecerá. E que
o império da hipocrisia não terá no futuro o espaço que tem hoje, o que
tornará as pessoas melhores e mais confiáveis.
Postado há 9 minutes ago por Blog Justiceira de Esquerda
Do Blog Justiceira de Esquerda.
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