21 de março de 2014 | 19:19 Autor: Fernando Brito
Não posso deixar passar o dia sem me referir a matéria do excelente Chico Otávio n‘O Globo.
Se este país tivesse a dignidade que um dia esperamos que tenha, estaríamos vivendo um escândalo nacional.
O o coronel reformado Paulo Malhães, de 76 anos descreve, sem um grama de arrependimento, a barbárie da qual participou na tortura e no assassinato de presos políticos nos anos 70.
As cenas, descritas pelo próprio autor, são aterrorizantes: dedos decepados e arcadas dentárias arrancadas para evitar a identificação dos corpos, esquartejamento, colocação em sacos com pedras para serem jogados em rios, com o cuidado de abrir talhos no adome para que o cadáver não boiasse, teimosamente tentando revelar o crime.
Malhães, que diz se orgulhar de não ter perdido uma noite de sono com tudo o que faz, descreve o périplo macabro do corpo do ex-deputado Rubem Paiva, a quem ontem homenageamos aqui:
“Rubens Paiva, calculo, morreu por erro. Os caras exageravam naquilo que faziam, sem necessidade. Ficavam satisfeitos e sorridentes ao tirar sangue e dar porrada. Isso aconteceu com Rubens Paiva. Deram tanta porrada nele que, quando foram ver, já estava morto. Ai ficou o abacaxi, o que fazer? Se faz o que com o morto? Se enterra e se conta este negócio do sequestro. Só que o cara, primeiro, enterrou na estrada que vai para o Alto da Boa Vista. Aí, estavam fazendo a beirada da estrada, cimentando, e o cara viu que eles iam passar por cima do corpo. Foi lá e tirou.”
“Enterrar, queimar, botar no ácido, que desaparece. Tudo isso passou pela minha cabeça. Mas as dificuldades encontradas para fazer isso, já eram outras. Então, disse: ‘vamos resolver esse problema de modo que não deixe rastro’. Aí surgiu essa ideia. Discutimos a ideia e achamos que era a ideia mais viável.”
E o que ainda existia daquele corajoso brasileiro foi atirado em alto mar.
Verdade ou não, ele diz que tudo era do conhecimento do gabinete do então Ministro do Exército, general Ernesto Geisel.
O que Malhães descreve é digno apenas de um monstro.
O pior, porém, é que não havia um monstro, mas um sistema monstruoso, que transformava entre centros policiais-militares em açougues de carne humana, como a “Casa da Morte”, em Petrópolis, de onde só uma pessoa – Ines Etiene Romeu – conseguiu sair com vida.
Controle sua repugnância e leia.
E pense como nos nossos mais altos magistrados, que se incomodam com uma embalagem de lanche do Mc Donad’s , podem olhar para isso e dizer: “ah, isso é apenas passado…deixem de lado…”
Quem age assim, será que tem coragem de olhar nos olhos de quem sobreviveu à nossa Gestapo sem Nuremberg?
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