Toda semana compro um pedaço de dez reais do bolão da Mega-Sena na loteria aqui perto de onde moro. Deixo nome e telefone. A japonesa que me atende até já sabe o que quero, nem preciso falar. É uma relação de confiança. Jamais me passou pela cabeça que a loja pudesse não registrar o jogo na Caixa Economica Federal.
Além do bolão, faço mais cinco jogos numa aposta individual, pego os bilhetes e entrego para a minha mulher. E esqueço o assunto. Nunca me ligaram da loteria, pois, do contrário, não estaria mais aqui escrevendo…
No dia seguinte ao sorteio, invariavelmente, a Mara. depois de conferir os números do sorteio, vem me avisar logo cedo: “Não deu nada”. E ela já sabe o que vou responder: “Vamos ter que continuar trabalhando…”. Toda semana é assim, tudo sempre igual, como nos versos do Chico.
Deve ser esta a mesma rotina de milhões de brasileiros que trabalham para pagar suas contas no fim do mes e sabem que a loteria é a única esperança de poder ter uma vida tranquila em que não precisem mais se preocupar com o tal do dinheiro.
Não costumo sonhar e fazer planos para o dia em que ganhar a sorte grande. Jogo por jogar, mais por hábito do que por ganância. Nem gostaria de ganhar sozinho um premio fabuloso como o deste sábado, que deve passar dos 70 milhões de reais. Dinheiro demais dá problema, como já vimos em tantos outros casos de novos milionários.
Pior do que não ganhar, eu sei, é ganhar e não receber, como aconteceu esta semana com os 40 apostadores da cidade gaúcha de Novo Hamburgo, que acertaram o bolão de sábado passado, mas vão ter que continuar trabalhando porque o jogo não foi registrado pela lotérica. O prêmio estava acumulado em 53 milhões de reais e já dava um bom dinheiro para cada um levar uma vida mais tranquila, mas o destino não quis assim.
Logo entraram em cena os apostadores inconformados, delegados, advogados e todo mundo deve ter pensado, claro, numa maracutaia dos donos da lotérica: eles pegavam o dinheiro do bolão e simplesmente não faziam o jogo, embolsando a grana. No Brasil, infelizmente, é assim: todo mundo é culpado até prova em contrário.
Pois as cenas que vi na televisão na noite desta quinta-feira me deram a certeza de que o dono da lotérica, José Paulo Abend, tinha razão ao falar que foi uma “falha humana”. As imagens do circuito interno da lotérica mostram o momento em que a moça encarregada de fazer o jogo volta à “cena do crime” no sábado à noite, abre a gaveta sob a máquina, desespera-se, põe a mão na cabeça e cai no choro.
Quando ficou sabendo que mais uma vez ninguém tinha acertado as seis dezenas e o premio acumulara de novo, ela estranhou porque aqueles números estavam no comprovante do bolão, que seu pai também tinha comprado. Quer dizer, a bela jovem Diane Samar da Silva, 21 anos, azarou a vida da sua própria família, além dos outros 40, que foram dormir ricos e acordaram pobres ou remediados do mesmo jeito de sempre.
Agora não adianta advogado colocar a roupa mais bonita para ir à televisão dizendo que vai processar a lotérica, a Caixa Economica Federal, o diabo a quatro. Aconteceu. Por tudo que vi e li, não houve má-fé, estelionato, nada disso. Foi mesmo uma falha humana a que todos estamos sujeitos e posso imaginar o drama que a moça Diane está vivendo neste momento sozinha em sua casa, sem poder andar nas ruas da bonita cidade de Novo Hamburgo. São coisas que acontecem, fazer o que? Jogar mais uma vez…
Autor: Ricardo Kotscho - Categoria(s): Blog
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Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)
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Há uma hora
Um comentário:
Saraiva, eu também jogo como você, na esperança de um dia, quem sabe, melhorar meus rendimentos.
Mas nunca gostei de jogar em "bolões", nem sabia o porquê, mas os atuais fatos mostraram que eu estava certo...
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