Para não afrontar o grupo político oriundo da centro-esquerda que poucos anos após a democratização (1985) virou expressão hegemônica do conservadorismo nacional, o único tipo de pesquisa eleitoral que esclarece o que é provável que aconteça na eleição presidencial é preterido em favor de cenários nebulosos.
A única pesquisa do tipo que realmente interessa foi feita discretamente pelo Ibope sob encomenda da Confederação Nacional da Indústria (CNI) entre os dias 6 e 10 de março e teve divulgação pífia. Apurou-se, então, que 53% do eleitorado prefere votar em um candidato a presidente que tenha o aval de Lula.
Qualquer outra sondagem feita sem esse dado (o candidato de Lula na disputa) só serve para esconder o que acontecerá na campanha eleitoral que se avizinha, o que certamente é feito na esperança de que o quadro mude mais adiante.
A despeito disso, o script de 2006 vem se cumprindo de forma impressionante. Dilma Rousseff, hoje, tem quase a mesma posição em relação a Serra que Lula tinha na última pesquisa Datafolha feita naquele ano nesta época, pouco antes de o tucano desistir da corrida presidencial e sair candidato a governador de São Paulo.
Em fevereiro de 2006, segundo o Datafolha, no cenário mais provável do primeiro turno Serra tinha 36% e Lula, 34% - hoje, na média das pesquisas, Serra tem 35% e Dilma, 30%. Contudo, alguns institutos chegaram a apontar empate técnico entre os dois principais candidatos a presidente.
No sábado passado, o Datafolha apontou que a diferença entre Serra e Dilma num hipotético segundo turno também seria quase igual à disputa que o mesmo instituto anunciava entre Serra e Lula há quatro anos. Hoje, 48% dos votos iriam para o tucano e 39% para a petista; em 2006, Serra tinha 49% e Lula, 41%.
Pesquisa Vox Populi foi a campo esta semana e será divulgada no sábado no Jornal da Band. Mesmo se confirmar o Datafolha – e, se não confirmar, o circo vai pegar fogo –, Dilma ainda terá perspectivas melhores contra Serra do que Lula tinha em 2006 a esta altura do campeonato.
Lula, naquele ano, sofria o desgaste pleno do mensalão e do caso Palocci versus aquele “pobre e humilde caseiro” que recebia depósitos de dezenas de milhares de reais enquanto acusava o então ministro da Fazenda. Resgate que fiz do noticiário político de 2006 mostrou que era ainda mais pesado contra Lula do que é hoje contra Dilma.
Além disso, há quatro anos Lula não tinha a grande perspectiva que Dilma tem hoje de crescer conforme for se tornando mais conhecida. Na pesquisa Ibope do mês passado, dos 39% que não sabiam ser Dilma a candidata de Lula e que declararam que votariam preferencialmente no candidato dele, a maior parte declarou voto em Serra.
O cenário político está sendo distorcido, pois as pesquisas insistem em não revelar ao pesquisado um dado que todo o eleitorado fatalmente terá, ou seja, de que a disputa de Serra não será contra a desconhecida Dilma, mas contra a candidata de Lula e da continuidade de sua obra. Pesquisas que não informem esse dado, são inúteis.
Escrito por Eduardo Guimarães às 09h41Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)
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