O jovem José Serra, presidente da UNE, que subiu ao palanque do comício da Central do Brasil, no dia 13 de março de 1964, não existe mais.
Foi morto, impiedosamente, por um senhor que hoje é candidato a presidente da República com o apoio das elites, das multinacionais e dos latifundios.
O senhor José Serra.
Ao seu lado, nos palanques, já não estão Jango, Brizola, Arraes, Julião.
Estão Bornhausen, Kátia Abreu, Fernando Henrique, Caiado, Bolsonaro, a direita brasileira.
Hoje, o homem que destruiu o rapaz que defendia a reforma agrária “na lei ou na marra” diz que o MST não é um movimento legítimo e que a questão agrária é com o Judiciário.
Eu já disse aqui que a traição às próprias ideias é algo como o assassinato de si mesmo.
Serra não é o primeiro. O caso mais notório é o de Carlos Lacerda que, de seguidor de Luís Carlos Prestes, se auto-abduziu para o mundo da direita mais feroz.
O traidor é o homem mais perigoso do mundo. Ele carrega em si a culpa, o remorso, o ódio. Quer mostrar aos senhores de suas novas idéias que é, de fato, um convertido. Quer esconder de seus antigos amigos que já não é a sombra do que foi.
O traidor é a fraude em si mesmo. Dele, portanto, não brota uma verdade, mas apenas dissumulação, mentiras, distorções. Mesmo sob uma aparência plácida, é um homem feroz e impiedoso: afinal, suas mãos já estão sujas de seu próprio sangue.
Mas daquele jovem Serra, que você vai ver nestas imagens, uma coisa sobrou. Sobreviveram as palavras que, mesmo que não tenham sido gravadas no vídeo, todos podemos ler nos olhos, no sorriso, no aplauso do povo humilde que ali estava.
Porque elas continham uma esperança, uma luta, um sonho que nem mesmo o José Serra de hoje será capaz de matar.
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