Mais
um texto na seção “opinião” do jornal Folha de São Paulo e o senador
Aécio Neves investe em temas diversificados, sob o guarda-chuva da
sustentabilidade.
Ele discorre
sobre problemas de saneamento no Brasil, salta para os desafios mundiais
em termos de acesso à água tratada, ao consumo consciente, ao combate
ao desperdício. E repete coisas que qualquer criança de sete anos sabe:
se permanecer o padrão de consumo e desperdício atuais, para atender a
toda a população da Terra, precisaríamos de vários planetas. Como
sempre, tudo blá-blá-blá.
É um
artigo vacina. É que o portal “Último Segundo” trouxe a seguinte
manchete na semana passada: “Com 23% de tratamento de esgoto, Minas
derruba média do Sudeste”. Na matéria, que pode ser acessada via
qualquer sistema de busca na internet, fica claro que o ex-governador de
Minas Gerais pouco, ou nada, fez em termos de suas recentes
preocupações com sustentabilidade ambiental, acesso à água tratada e
combate ao desperdício.
Como ele
não pode acusar o governo Lula de não ter investido o suficiente para
superar os desafios postos, para o tema, ele fala como se fosse um líder
mundial e cita, aleatoriamente, dados da Agência Nacional de Águas
(ANA). O Governo Lula, de fato, não investiu o suficiente para dar conta
das demandas postas. O problema é que a crítica ao petista traria
imediatamente três comparações: com o governo FHC, com sua passagem pela
Câmara e com o governo de Minas Gerais, sob seu comando. Se o BNDES não
tivesse reaberto os financiamentos às companhias estaduais, por oito
anos barrados no governo FHC, sem qualquer contestação do deputado
Aécio, Minas não teria investido quase nada.
Resta,
então, um texto confuso, assistemático e sem norte. E sua incursão
pelos dramas ambientais do planeta Terra só adquire sentido como álibi:
se o problema é mundial, seus déficits como governante se explicam nesse
quadro.
Mas, vejamos algumas pérolas:
“Na aritmética civilizatória, que cresce em proporção e velocidade alucinantes, a realidade é dramática.”
“O dado de acesso à água é concreto, mas também simbólico e só pode ser compreendido dentro de um contexto de desafios maiores.”
A
primeira frase é desconexa: a tal aritmética civilizatória (lembra-se
da “eletricidade emocional, de um texto anterior?) bem que poderia ser
crescimento exponencial, agravada pelo cálculo de fractal, ou quem sabe
pelo integral e pelo tró-ló-ló...
A
segunda, diz que além de concreto, o dado, também é simbólico. Toda
coisa concreta e toda abstrata sempre terão uma simbologia. Platitudes
pleonásticas.
E dizer que tudo
isso só pode ser compreendido num contexto mais amplo é tão novo quanto a
reflexão posta por Hegel, há mais de duzentos anos, quanto ao
universal, ao particular e ao singular. Três dimensões que integram a
noção de totalidade dos fenômenos. Simplificando: tudo será sempre
compreendido em seu contexto mais amplo.
Finalmente,
vamos chamá-lo a botar os pés no chão. Por Minas Gerais vai passar um
mineroduto do Eike Batista, seu amigo. Discutido e operado em seu
governo. A água que vai empurrar o minério para o Espírito Santo sairá
das sub bacias do São Francisco, já debilitado por mais de um século de
mau uso. E Aecim Malvadeza desconsiderou os dramas planetários ao
anunciar o “grande empreendimento”.
Tenha dó, senador!
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