quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Aécio e a “aritmética civilizatória”

Mais um texto na seção “opinião” do jornal Folha de São Paulo e o senador Aécio Neves investe em temas diversificados, sob o guarda-chuva da sustentabilidade.
Ele discorre sobre problemas de saneamento no Brasil, salta para os desafios mundiais em termos de acesso à água tratada, ao consumo consciente, ao combate ao desperdício. E repete coisas que qualquer criança de sete anos sabe: se permanecer o padrão de consumo e desperdício atuais, para atender a toda a população da Terra, precisaríamos de vários planetas. Como sempre, tudo blá-blá-blá.
É um artigo vacina. É que o portal “Último Segundo” trouxe a seguinte manchete na semana passada: “Com 23% de tratamento de esgoto, Minas derruba média do Sudeste”. Na matéria, que pode ser acessada via qualquer sistema de busca na internet, fica claro que o ex-governador de Minas Gerais pouco, ou nada, fez em termos de suas recentes preocupações com sustentabilidade ambiental, acesso à água tratada e combate ao desperdício.
Como ele não pode acusar o governo Lula de não ter investido o suficiente para superar os desafios postos, para o tema, ele fala como se fosse um líder mundial e cita, aleatoriamente, dados da Agência Nacional de Águas (ANA). O Governo Lula, de fato, não investiu o suficiente para dar conta das demandas postas. O problema é que a crítica ao petista traria imediatamente três comparações: com o governo FHC, com sua passagem pela Câmara e com o governo de Minas Gerais, sob seu comando. Se o BNDES não tivesse reaberto os financiamentos às companhias estaduais, por oito anos barrados no governo FHC, sem qualquer contestação do deputado Aécio, Minas não teria investido quase nada.
Resta, então, um texto confuso, assistemático e sem norte. E sua incursão pelos dramas ambientais do planeta Terra só adquire sentido como álibi: se o problema é mundial, seus déficits como governante se explicam nesse quadro.
Mas, vejamos algumas pérolas:
“Na aritmética civilizatória, que cresce em proporção e velocidade alucinantes, a realidade é dramática.”
“O dado de acesso à água é concreto, mas também simbólico e só pode ser compreendido dentro de um contexto de desafios maiores.”
A primeira frase é desconexa: a tal aritmética civilizatória (lembra-se da “eletricidade emocional, de um texto anterior?) bem que poderia ser crescimento exponencial, agravada pelo cálculo de fractal, ou quem sabe pelo integral e pelo tró-ló-ló...
A segunda, diz que além de concreto, o dado, também é simbólico. Toda coisa concreta e toda abstrata sempre terão uma simbologia. Platitudes pleonásticas.
E dizer que tudo isso só pode ser compreendido num contexto mais amplo é tão novo quanto a reflexão posta por Hegel, há mais de duzentos anos, quanto ao universal, ao particular e ao singular. Três dimensões que integram a noção de totalidade dos fenômenos. Simplificando: tudo será sempre compreendido em seu contexto mais amplo.
Finalmente, vamos chamá-lo a botar os pés no chão. Por Minas Gerais vai passar um mineroduto do Eike Batista, seu amigo. Discutido e operado em seu governo. A água que vai empurrar o minério para o Espírito Santo sairá das sub bacias do São Francisco, já debilitado por mais de um século de mau uso. E Aecim Malvadeza desconsiderou os dramas planetários ao anunciar o “grande empreendimento”.
Tenha dó, senador!

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