O caso da recente divulgação pelo site de documentos sigilosos Wikileaks de que o jornalista Wiliam Waack atuava como uma espécie de consultor informal do Departamento de Estado norte-americano
coloca de imediato a seguinte indagação: como um jornalista chega ao
ponto de colocar-se em contato com autoridades internacionais ou
círculos de poder que estariam muito aquém da possibilidade de um
profissional comum?
A princípio,
para os mais desavisados, o acesso a grupos socialmente influentes por
parte de jornalistas poderia ser interpretado como refletindo a
competência profissional ou talento de quem o alcança. Algo como o caso
do ex-presidente do Bradesco, Amador Aguiar, que havendo ingressado num
banco como office boy chegou à presidência da Instituição.
Mas
o profissional de imprensa não mexe com dinheiro nem com saberes de
algum modo especializado que lhe permita diferenciar-se dos seus pares a
ponto de chegar ao pináculo do mercado de trabalho em que atua apenas
por mérito próprio.
Lidam com
informação, algo que nem eu nem você fazemos leitor, no esforço
cotidiano de ganharmos o pão. Porque ocupamo-nos com atividades
produtivas, não nos é dado chegar antes que qualquer outro mortal à
gênese de acontecimentos que influenciarão o destino de milhares senão
milhões de pessoas.
Mas o
jornalista tem essa oportunidade. E a cria à partir do contato, num
primeiro momento, e a associação, logo em seguida, com um outro tipo de
agente que tanto quanto ele tem na informação o recurso fundamental para
a ascensão social e o enriquecimento rápido. Esse agente é o político,
parceiro e verdadeiro sócio de negócios informais no tráfico da
informação.
Eis o primeiro fator
que faz um jornalista ascender dentro da emissora em que atua: o bom
trânsito com políticos. E todos que chegam à posição que Waack chegou,
começaram suas prestigiosas carreiras atuando como assessores de
imprensa de algum político ou figurão do meio, para depois projetarem-se
escada acima nas posições de maior visibilidade da empresa responsável
pela telinha.
Lembre-se à
propósito que Waack ele mesmo foi assessor de figuras influenciais do
PSDB antes que chegasse, na voragem do governo FHC, à bancada de
comentaristas da Rede Globo.
O
segundo passo para se dar bem, uma vez articulado com políticos, é
vender os frutos dos bons contatos que se tem no mundo da política
dentro da emissora. Não apenas para alimentar o noticiário, como poderia
pensar algum ingênuo, mas para conduzir dentro dela a ação de lobbies
econômicos que cedo permita traduzir em polpudas contas publicitárias as
amizades seladas em gabinetes e corredores do legislativo.
Imagine
então que você leitor tenha contato com dado figurão da cena política e
encontre-se na chamada zona do agrião (beirada do perímetro donde
jogadores fazem cestas) de uma emissora de televisão.Naturalmente lá
colocado talvez pelas mãos pouco desinteressadas desse mesmo político,
pelas quais também passaram muitos temas de interesse do grupo de
comunicação que o contratou.
Não
devemos nos esquecer de que o objeto de exploração comercial desse tipo
de negócio, a comunicação, é uma concessão pública e, portanto,
altamente dependente de regulações controladas por políticos.
Pois
bem, como o mesmo político negocia de modo contumaz com grandes
empresas que estão sempre interessadas em descobrir formas de interferir
em decisões de governo que as favoreça ou que no mínimo não as
prejudique, fica fácil para ele político encaminhar os dirigentes dessas
empresas para o departamento comercial da emissora, com o propósito de
acertar uma boa campanha publicitária.
O
diretor comercial da emissora, por sua vez, grato pelo faturamento,
haverá de recomendar você ao diretor de jornalismo que se esforçará por
gratificá-lo por cada anunciante carreado à área comercial. Sim, uma
espiral ascensional de felicidade com a qual, por infelicidade, você
apenas poderá sonhar.
Nesse toma
lá dá cá, chegamos ao último elo da cadeia de tráfico de influência de
que se alimenta o inicialmente humilde jornalista, agora já bem sucedido
apresentador, até que veja sua influência na emissora de TV crescer na
exata proporção da remuneração e dos espaços que consegue abrir à
fortiori (e por causa disso) em instituições governamentais nacionais e
internacionais.
Afinal, não se
deve deixar escapar que quando no estágio mais avançado da carreira é
ele apresentador que decide quem irá participar dos programas
televisivos, quais temas serão enfocados e como serão abordados.
É
desse modo que não há como deixar de concluir que se valem de práticas
excusas aqueles que gritam contra a corrupção todos os dias nas bancadas
de telejornais noturnos. Vendem por preço módico aquilo que informam a
você ao mesmo tempo em que intermedeiam os interesses do político em
busca de ganho fácil, do empresário sequioso por lucro e da direção da
emissora pronta a faturar com novos anúncios.
Somos
nós os bobalhões desse noticiário de mau gosto. Ou acha que os Waack,
Sardemberg, Leitão, Merval e “tutti quanti “vivem de salários como
vivemos eu e você?
No Brasil que Vai
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