Ex-ministro da defesa foi anfitrião do encontro em que ex-presidente teria tentado adiar julgamento no STF
Anfitrião do encontro entre o ex-presidente Lula e o ministro Gilmar Mendes, o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim negou a Zero Hora que em algum momento o petista tenha pedido o adiamento do julgamento do mensalão.
Segundo Jobim, a conversa entre eles durou cerca de uma hora, na manhã
do dia 26 de abril, em seu escritório em Brasília. O ex-ministro foi
enfático ao afirmar que o ex-presidente jamais fez qualquer proposta a
Mendes envolvendo o mensalão e disse que negou à revista Veja que esse
tenha sido o teor da conversa.
Jobim falou com ZH no domingo à tarde, por telefone, enquanto se dirigia ao aeroporto, no Rio, de onde regressaria a Brasília.
Zero Hora — Lula pediu ao ministro Gilmar Mendes o adiamento do julgamento do mensalão?
Nelson Jobim — Não. Não houve nenhuma conversa nesse sentido. Eu estava
junto, foi no meu escritório, e não houve nenhum diálogo nesse sentido.
ZH — Sobre o que foi a conversa?
Jobim — Foi uma conversa institucional. Lula queria me visitar porque eu
havia saído do governo e ele queria conversar comigo. Ele também tem
muita consideração com o Gilmar, pelo desempenho dele no Supremo. Foi
uma conversa institucional, não teve nada nesses termos que a Veja está
se referindo.
ZH — Por quanto tempo vocês conversaram?
Jobim — Em torno de uma hora. Ele (Lula) foi ao meu escritório, que fica perto do aeroporto.
ZH — Em algum momento, Lula e Mendes ficaram a sós?
Jobim — Não, não, não. Foi na minha sala, no meu escritório. Gilmar
chegou antes, depois chegou Lula. Aí, saiu Lula e Gilmar continuou.
Ficamos discutindo sobre uma pesquisa que está sendo feita pelo
Instituto de Direito Público, do Gilmar. Foi isso.
ZH — Depois que Lula saiu, o ministro fez algum comentário com o senhor sobre o teor da conversa?
Jobim — Não. Não disse nada. Só conversamos sobre a pesquisa, para marcar as datas de uma pesquisa sobre a Constituinte.
ZH — Lula pediu para o senhor marcar um encontro com Mendes?
Jobim — Sim. Ele queria me visitar há muito tempo. E aí pediu que eu
chamasse o Gilmar, porque gostava muito dele e porque o ministro sempre o
havia tratado muito bem. Queria agradecer a gentileza do Gilmar. Aí,
virou essa celeuma toda.
ZH — Há quanto tempo o encontro estava marcado?
Jobim — Foi Clara Ant, secretária do Lula, quem marcou. Lula tinha me
dito que queria me visitar há um tempo atrás. Um dia me liga a
secretária, dizendo que ele iria a Brasília numa quarta-feira (25 de
abril) e que, na quinta, queria me visitar e ao ministro Gilmar. Ele
apareceu lá por volta das 9h30min, 10h. Foi isso.
ZH — Se não houve esse pedido de Lula ao ministro, como se criou toda essa história?
Jobim — Isso você tem de perguntar a ele (Gilmar), e não a mim.
ZH — O senhor acha que Mendes pode estar mentindo?
Jobim — Não. Não tenho nenhum juízo sobre o assunto. Estou fora disso. Estou te dizendo o que eu assisti.
ZH — Veja disse que o senhor não negou o teor da suposta conversa. Por que o senhor não negou antes?
Jobim — Como não neguei? Me ligaram e eu disse que não. Eu disse para a Veja que não houve conversa nenhuma.
Fábio SchaffnerNo Zero Hora
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