Em mais um caso de denuncismo explícito e carente de maior fundamentação, a revista Veja
desta semana (lançada no sábado (26) relata que o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva teria se encontrado com o ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e lhe oferecido “proteção” na CPMI
do Cachoeira, de maioria governista, em troca do comprometimento deste
em adiar para 2013 o julgamento do chamado "mensalão". O encontro teria
ocorrido, segundo a semanal, no escritório de advocacia do ex-ministro
da Defesa Nelson Jobim, em Brasília.
A reportagem foi reproduzida durante todo o sábado na maioria das
homepages dos sites da mídia tradicional, mas já no fim do dia começou a
ser desmentida pela blogosfera, em grande parte reunida em Salvador,
para o 3° Encontro de Blogueiros Progressistas.“Primeiro, Lula conhece
melhor do que ninguém esses dois ministros (...) nomeados por Fernando
Henrique. Sabe o que lhes cai na alma. Por exemplo, que 'Johnbim' não
tem segredos para o Cerra. Lula teria que ser muito ingênuo
para“chantagear” um dos personagens do grampo sem áudio (...)”, lembrou
Paulo Henrique Amorim, com seu estilo peculiar.
Foi Luis Nassif que teceu considerações a partir da aparentemente
consentida participação de Gilmar Mendes na reportagem, na qual se
declara “perplexo com o comportamento e as insinuações do presidente
Lula.”
“Para se expor dessa maneira, só há uma explicação para a atitude do
ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal): tem culpa no
cartório”, escreveu o jornalista e blogueiro Nassif. Ele lembra que o
magistrado já participou de duas “armações” com a Veja – o caso do
grampo sem áudio e o falso grampo no Supremo, ambos relatados em seu post.
“Àquela altura”, prossegue Nassif, “Veja mostrava seu enorme despreparo
para entender as novas mídias. Não se deu conta de que a blogosfera
tinha se convertido em uma alternativa eficaz contra pactos de silêncio.
E a denúncia da armação foi difundida.”
Agora, novamente Gilmar Mendes se une à semanal, para lançar uma
denúncia contra o ex-presidente e reacender as luzes sobre o caso
Mensalão. Os sucessivos desmentidos na blogosfera apontam para uma
evidência: o ministro pode estar com receio de sair no mínimo chamuscado
da CPMI do Cachoeira.
A reportagem adianta que Mendes pode ser comprometido com Cachoeira,
pelo fato de ter feito uma viagem à Alemanha que teria sido paga pelo
bicheiro. O ministro afirma, ainda na Veja, que pode comprovar que sua
ida àquele país (onde encontrou o amigo Demóstenes Torres) foi paga por
ele mesmo, embora não mostre os comprovantes que ele diz ter.
“O que o levou a essa provável armação é óbvio: medo da CPI”,conclui
Nassif. Tudo indica que seja isso mesmo. A sociedade ainda espera
explicações de Mendes sobre o grampo do Supremo, que comprovadamente
nunca existiu, mas cujo factóide foi suficiente para desmoralizar a
Operação Satiagraha, da Polícia Federal, e livrar a cara do banqueiro
Daniel Dantas. Isso, entre várias peripécias jurídicas em que o ministro
é personagem.
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