Quem disse que o resultado do Datafolha não pode ser bom
Renato Rovai
Renato Rovai
A pesquisa Datafolha divulgada hoje pelo jornal dos Frias parece estar
forçando a mão na margem de erro. O resultado (Russomano, 35; Serra, 21;
Haddad, 15; Chalita, 8; Soninha, 4) é bem diferente dos trackings dos
candidatos e das pesquisas que empresas utilizam para definir onde
aplicam seus tostões. Em nenhum desses levantamentos Serra tem vantagem
de seis pontos. Em alguns casos, chegava a dois, mais isso há duas
semanas.
No entanto, essa não é a primeira nem a última vez que o Datafolha solta
uma pesquisa que depois vai sendo corrigida com a proximidade das
eleições.
Alguns costumam perguntar, mas por que o instituto faz isso se o
resultado da eleição não vai mudar? Mais do que o efeito psicológico que
um resultado adverso neste momento acarreta a uma candidatura, pior
efeito é na arrecadação. Este pode ser devastador.
E no caso de Serra, seria a pá de cal que falta para enterrar de vez sua
candidatura. Afinal seu índice de rejeição já afastou muitos doadores.
Esse é o nó da questão. Pesquisa neste momento é mais importante para
arrecadar do que para ajudar na definição do resultado final. E ao mesmo
tempo se um instituto forçar na margem de erro, ele tem espaço
suficiente para corrigir o resultado até o dia da eleição.
Dito isto, é importante refletir sobre o estancamento dos índices de
Haddad. E isso é um dado real. Haddad cresceu bastante no começo do
horário eleitoral, mas depois seus números se mantiveram próximos a 18
pontos nos treckings. Não oscilaram nada.
Já escrevi neste espaço que o programa eleitoral costuma influenciar os
eleitores nos primeiros e últimos dias. Isso foi fundamental para Haddad
na primeira fase. Se tiver o mesmo efeito nos últimos dias, certamente
ele irá bem para a disputa final. Pois, tem condições de crescer de sete
a dez pontos, atingindo assim uma votação suficiente para levá-lo ao
segundo turno.
Mas para que isso aconteça, é preciso, por um lado, que o programa
surpreenda. E por outro, que segmentos importantes da cidade
(intelectuais, lideranças sindicais e comunitárias, artistas etc.) criem
uma mobilização que debata os riscos de um segundo turno entre o Nhô
Ruim e o Nhô Pior.
Depois de 8 anos de Serra/Kassab, se São Paulo se permitir um segundo
turno entre Serra e Russomanno, é que as coisas não vão apenas mal na
cidade. Vão péssimas.
Mas não será batendo nos adversários que Haddad vai crescer. É colocando
a cidade viva para pulsar nas telas de TV e de computadores e ao mesmo
tempo levando esse debate a todos os cantos.
O debate precisa ser feito da periferia para o Centro. E não ao
contrário. Mano Brown e Emicida, por exemplo, são a São Paulo que brilha
e resiste. Ela precisa falar e precisa olhar no olho de Haddad. Ela
precisa conhecer melhor o candidato e suas propostas. Essa São Paulo não
é militante de partido político, mas luta. E pulsa. É viva. É essa
cidade viva que também se pode perceber nas palavras de Marilena Chauí e
que permite comparar projetos.
O momento é esse, o da comparação. Até o momento da campanha, Haddad
apresentou suas propostas. Agora precisa compará-las à dos outros
candidatos. Por exemplo, Haddad defende moradia no centro e emprego na
periferia. O que isso significa? É preciso deixar claro que, entre
outras coisas, é o de não tratar como bandidos os moradores pobres da
região central. É não buscar expulsá-los dos prédios ocupados e nem
permitir que suas favelas sejam vítimas de incêndios constantes.
Também é importante dizer que no projeto de cidade de Haddad, o Estado
vai ser forte e central na definição de políticas públicas que terão por
objetivo melhorar a vida dos paulistanos das zonas mais pobres. O que
isso significa: bilhete único mensal, creches, CÉUs etc. Mas mais do que
isso é preciso apontar que no plano de governo das outras duas
candidaturas isso não está contemplado. Que no governo Serra/Kassab as
políticas públicas são gerenciadas por coronéis que tornaram as
subprefeituras quartéis generais de um sistema de castração de direitos.
Enfim, o momento da eleição é de comparação. Não só de propostas, mas
como de história política, de apoios, de currículo etc. Se isso for bem
feito, Russomanno vai cair, Haddad vai subir e Serra vai ficar neste
patamar atual, que parece ser seu teto. E o segundo turno será outra
eleição.
Se isso vier a acontecer, o Datafolha terá dado um tiro no pé. Terá
mobilizado setores fundamentais da cidade para disputar seu destino.
Quando os projetos são comparados de forma clara, a campanha ganha
ritmo. E pulsa.
Quando pulsa, candidaturas com projeto popular têm mais chances de vitória.
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