sábado, 29 de setembro de 2012

Cadê as fitas, Civita?

Mais uma semana passa e Veja não apresenta as fitas da “entrevista” com Marcos Valério; reportagem sobre a Ação Penal 470 pede a condenação da “viga mestra” do esquema, que seria o núcleo político; fraude jornalística contra Lula é uma das maiores da história recente, mas não é inédita; em caso anterior, envolvendo Erenice Guerra, a revista de Roberto Civita também não tinha as gravações que dizia possuir; golpe paraguaio!
A suposta “entrevista” de Marcos Valério à revista Veja, publicada duas semanas atrás, entrará para a história como uma das maiores fraudes da história do jornalismo brasileiro. Tão ou mais grave do que a história contada pelo escritor Fernando Morais em seu artigo “Um espectro ronda o jornalismo: Chatô”, lembrando o caso da encomenda feita por Assis Chateaubriand contra o arcebispo de Belo Horizonte, Dom Cabral. Chatô queria provar que Dom Cabral havia estuprado a irmã, ainda que fosse filho único. Roberto Civita gostaria de ver Lula na cadeia ou, pelo menos, fora do jogo político.
Duas semanas já se passaram e Veja não apresentou qualquer indício de que tenha gravações de Marcos Valério incriminando o ex-presidente Lula - na “entrevista”, o ex-presidente era apontado como o “chefe do mensalão” pelo publicitário e comandaria ainda um caixa dois de R$ 350 milhões. Na edição seguinte, Veja saiu com capa falando sobre sexo. Nesta, fala sobre o esforço de Ronaldo para emagrecer, numa reportagem dedicada ao tema “força de vontade” – algo que seria necessário para crer na existência das gravações de Veja.
Quando se debruça sobre o mensalão, na reportagem chamada “A hora da verdade”, Veja afirma que “falta apenas a viga mestra legal no edifício que vem sendo construído pelo Supremo Tribunal Federal”, ou seja, a condenação do núcleo político, formado por José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Mas isso talvez não seja suficiente para excluir Lula da vida política brasileira, como aponta o jornalista Otávio Cabral, na coluna Holofote. “Eu não vou deixar que o último capítulo da minha biografia seja escrito pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Quem vai escrevê-lo é o povo”, teria dito o ex-presidente, segundo a revista, a um ex-ministro. Sendo verdadeira ou não a declaração, fica claro que Lula não irá se dedicar apenas a fazer churrascos em São Bernardo, como defende o historiador Marco Antonio Villa.
Como tem sido colocado aqui deste o início, a “entrevista” com Marcos Valério foi apenas uma fraude jornalística que visava impedir a eventual volta de Lula ao poder, seja em 2014, seja em 2018, ameaçando-o com um processo judicial. Uma tentativa de golpe paraguaio. Na reportagem sobre o mensalão, Veja tenta rebater o argumento, ao dizer que “golpe em ex-presidente é uma contradição em termos”. Ocorre que existem também os golpes e as guerras preventivas. Exemplo: ataque-se o Irã antes que o país tenha sua bomba atômica. Ataque-se Lula antes que ele cogite a hipótese de voltar.
Comprovada a fraude de duas semanas atrás, descobre-se agora que ela não é inédita. Na reportagem “Caraca, que dinheiro é esse?”, que falava da entrega pacotes de dinheiro dentro da Casa Civil, às vésperas da disputa de 2010 entre Dilma Rousseff e José Serra, Veja sustentou, com nítidas intenções eleitorais, que as confissões da propina haviam sido feitas a Veja “em depoimentos gravados”. Erenice foi à Justiça, pediu que a revista apresentasse as gravações – que jamais apareceram – e foi inocentada.
Quinze dias depois da entrevista que seria tão devastadora quanto a de Pedro Collor, segundo anunciado por Veja, só o ET de Varginha e o jornalista Ricardo Noblat ainda acreditam nas gravações. Haja força de vontade!

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