quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O mantra de Zé de Abreu


Luciano Amorim
Brasil 247

José de Abreu é um dos mais talentosos e polivalentes artistas de sua geração. Em sua carreira como ator, já participou de inúmeros trabalhos para a TV e também cinema e teatro. É do tipo que não se contenta em fazer o óbvio: em novelas, além do atual catador de lixo que interpreta no horário nobre da Rede Globo, já foi guru indiano, professor e homem traído, só pra citar os mais recentes.

Abreu não é um homem convencional também em sua vida pessoal. Enquanto os novos globais de primeira linha fazem sua primeira visita a New York City, Tóquio ou Paris, nas últimas férias ele visitou, dentre outros destinos, Jordânia e Irã. Enquanto os mesmo novatos estão quebrando a cabeça decorando textos ou dormindo na madrugada, Zé está interagindo com seus seguidores nas redes sociais – quase de forma onipresente, diga-se.

O principal assunto do ator nas redes? Política. Abreu foi um dos maiores entusiastas da campanha de Lula à presidência, e defendeu com firmeza seu governo durante os oito anos de mandato. Ato contínuo, estava na linha de frente da campanha de Dilma, comemorando bastante sua vitória, nas mesmas redes sociais. Repete aos críticos, quase sempre, que não é filiado ao PT ou tem cargo público, milita apenas pelos seus sonhos e convicções.

A mais emblemática frase de Zé nas redes é a seguinte: "Dilma é Lula, Lula é Dilma". Quase como um mantra, escreve esses dizeres no twitter sempre que algum opositor de Dilma ou Lula lhe solta o veneno, insinuando que a presidenta segue uma linha diferente da de seu antecessor e padrinho político. Por mais que algumas vezes o fato pareça mesmo aos olhos de todos a ruptura da atual com o antigo, lá está Abreu a escrever quantas vezes forem necessárias: "Dilma é Lula, Lula é Dilma".

Esta semana, de forma absoluta, a presidenta confirmou a veracidade da frase-mantra de Zé. De forma matadora, Dilma respondeu ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que em artigos estampados em grandes jornais, afirmou, de forma categórica, que Dilma recebera de Lula uma "herança pesada", resultado da crise ética que se instalou no partido da presidente, a partir do julgamento do chamado "mensalão".

Para defender e mostrar seu respeito por Lula, a presidenta poupou elogios; numa nota curta e objetiva, desferiu uma saraivada de adjetivos nunca antes proferidas com tanta propriedade a FHC. Sobre o Brasil, Dilma afirmou que "Não recebeu um país sob intervenção do FMI ou ameaça de apagão" – referência direta aos quase 700 bilhões de dívida deixados pelo tucano, bem como à sobrecarga energética pela qual passou o país no fim dos anos 90.

Sobre Lula, a presidenta não poderia ter sido mais enfática: "Um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse". FHC, ao final de seu primeiro mandato, recorreu a uma emenda constitucional muito criticada na época, que garantiu a ele próprio mais quatro anos de governo. Há denúncias comprovadas de que houve um super-esquema de compra de votos nesse processo, que gerou, dentre outros documentos, o livro "A Privataria Tucana", do jornalista Amaury Ribeiro Junior.

Por fim, Dilma arremata: "não reconhecer os avanços que o país obteve nos últimos dez anos é uma tentativa menor de reescrever a história", redimensionando a números reais o tamanho de FHC na história. Um presidente cujo maior legado foi quebrar e endividar o país por duas vezes, aprofundando um modelo neoliberal moribundo e fracassado, dando ao Brasil a face de um dependente terceiro mundo.

Depois de sucessivas trocas de ministros e crise junto a alguns partidos da base aliada, houve quem acreditasse que Dilma imprimia um novo modelo de governar, rompendo a parceria com Lula e seu modus operandi, dando o seu rosto a essa nova fase. A presidenta, com essa pequena e simbólica nota, vai mostrando que apesar da cara e atores diferentes, o projeto de país que quer construir foi idealizado com os mesmos sonhos do sindicalista que mudou a história, reconhecido mundialmente como um dos grandes homens do século 21.

Parafraseando o grande José de Abreu, polivalente artista brasileiro, "Dilma é Lula, Lula é Dilma". Para que os brasileiros e um desmoralizado FHC nunca mais duvidem.

Luciano Amorim é jornalista, foi dirigente político e militante do movimento estudantil. É colunista dos portais alagoanos Cada Minuto, Repórter Alagoas e AlagoasWeb

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