Marcos Coimbra
É
cedo para dizer o que vai acontecer na eleição de prefeito em São
Paulo, mas de uma coisa podemos estar certos: é a mais extraordinária do
ano.
Não pela falsa razão de ela funcionar como “ante-sala” da próxima
eleição presidencial. A experiência nos ensina que, por mais importante
que seja – em função do tamanho da cidade e de seu papel na economia
brasileira – saber quem é seu prefeito em nada nos ajuda a prever o rumo
que tomará a sucessão no Planalto.
O que ela tem de mais relevante este ano é que exemplifica o modo como
funcionam atualmente nossos dois principais partidos. Na eleição de São
Paulo, PT e PSDB deixam claras suas diferenças.
Nada indica que Lula tenha pensado na candidatura de Fernando Haddad
depois de consultar pesquisas de opinião que mostrassem que era
preponderante a vontade de renovação no eleitorado paulistano.
Ao contrário, o que elas indicavam em 2011 era o bom desempenho dos
candidatos conhecidos. Como sempre acontece nas pesquisas feitas a
grande distância da eleição, lideravam nomes que já haviam disputado
outras vezes e eram lembrados pelos entrevistados.
Marta Suplicy e Serra estavam na frente, com a senadora sempre acima do ex-prefeito.
Não foi, portanto, em função de resultados de pesquisa que o
ex-presidente optou por Haddad. No máximo, olhou os números da rejeição e
avaliou que Marta teria dificuldade para crescer e atrair a maioria
necessária a vencer no segundo turno.
Algo que um candidato inteiramente novo poderia conseguir, mesmo se começasse de baixo nas intenções de voto.
Quando se decidiu e levou o PT a apoiá-lo, Lula fez um lance arriscado.
Que todos seus desafetos nas oposições, especialmente os observadores
políticos na mídia conservadora, consideraram equivocado – para dizer o
mínimo.
Montado o tabuleiro do lado petista, os tucanos recuaram da disposição
de fazer algo semelhante – que, aliás, estava em curso, no processo já
iniciado de prévias partidárias. Não quiseram fazer como os
adversários.
Optaram por uma jogada “segura”: achando que davam um xeque mate, foram
correndo atrás de Serra – que desejava ardentemente a missão.
Na cabeça dos estrategistas peessedebistas, seria um passeio. De um
lado, o inexperiente candidato que Lula tirou da algibeira, do outro, um
“campeão de votos”, o líder de todas as pesquisas.
Hoje, passadas as duas primeiras semanas da propaganda eleitoral,
parece que a intuição de Lula estava correta. Que a maioria da cidade
anseia por renovação.
A expressiva vantagem de Celso Russomano é evidência do sentimento.
Nas pesquisas mais recentes, se somarmos as intenções que tem com as de
Haddad e Chalita, vamos a 52% e a 65% dos “votos válidos” (descontando
brancos, nulos e indecisos).
Serra não está mal por razões específicas de sua campanha, como alguns
afirmam. Sua comunicação não é pior que em eleições passadas.
É igual. E esse é o problema.
Assim como ele é igual. Lamentavelmente igual àquilo em que se tornou.
De onde vem a surpresa de que até eleitores que simpatizam com o PSDB
não acreditam na promessa de que, se vencer, governará a cidade por
quatro anos? Será de não ter honrado a palavra antes? Ou de ele nunca
esconder que só pensa em mais uma candidatura presidencial?
A esta altura, só resta especular sobre qual seria o destino do PT se
tivesse feito como os tucanos. Se também tivesse se agarrado ao passado.
Mas falta um mês para a eleição. Quem sabe, até lá, as preces de Serra -
às quais se dedica com tanta devoção - o livrem do vexame.
Nenhum comentário:
Postar um comentário