sábado, 23 de fevereiro de 2013

Mil dias de cadeia sem julgamento: “Yoani denuncia Cuba e está livre. Bradley Manning denunciou atrocidades dos EUA e pode ser condenado à morte”


“Yoani denuncia Cuba e está livre. Bradley Manning denunciou atrocidades dos EUA e pode ser condenado à morte”
Roberto Locatelli


O calvário de Bradley Manning, o recruta acusado de ter vazado documentos para o Wikileaks.
1000 dias preso sem julgamento
1000 dias preso sem julgamento
A Personalidade do Ano, segundo os leitores do Guardian, foi Bradley Manning.
Clap, clap, clap. De pé.
Só que Manning está na cadeia há mil dias, completados hoje, sob a acusação de ter vazado os célebres documentos com os quais o Wikileaks mostrou ao mundo a natureza da Guerra do Iraque.
Sem julgamento, além de tudo.
Um leitor do Guardian expressou assim sua escolha por Manning: “Ele se manteve firme em sua batalha pelo uso democrático da informação, a despeito da imensa pressão física, moral e psicológica posta sobre ele por seus superiores bas Forças Armadas, incluído o presidente dos Estados Unidos.” Palavras do editor do Guardian que coordenou o projeto: “Aprendemos um bocado sobre nossos leitores e sobre nossos herois “.
Manning, se fez mesmo o vazamento, o que é provável, combateu o bom combate. Não é à toa que muitas pessoas o indicaram para o Nobel da Paz. Mas o que ele ganhou mesmo foi um regime de prisão solitária capaz de destruir a sanidade rapidamente. Manning só saiu da solitária por pressão de ativistas, entre os quais se destaca o jornalista americano Glenn Greenwald. Greenwald foi a primeira voz a denunciar as condições desumanas em que vivia Manning.
Graças ao vídeo vazado, o mundo pôde ver o que era a Guerra do Iraque. Pôde ver, também, o caráter das guerras movidas no Oriente Médio pelos Estados Unidos em nome da civilização e da democracia. Pôde ver, ainda, o terror da Guerra ao Terror.
Os iraquianos viviam melhor sob Saddam Hussein do que sob os americanos. Da mesma forma, os afegãos viviam melhor sob o Talibã do que sob os americanos.
Manning contribuiu para que todos pudéssemos entender melhor as coisas.  Você não resolve um problema se não consegue enxergá-lo. Manning nos ajudou a todos a enxergar o problema.
Pessoas nas ruas comemoram a
chegada das tropas americanas
A humanidade como que acordou depois dos vazamentos atribuídos a Manning. A Primavera Árabe é, em boa parte, fruto dos documentos que foram publicados. A corrupção e a violência de governos de países como o Egito e a Tunísia ficaram dramaticamente expostas. E isso foi essencial para que as pessoas tomassem as ruas e varressem administrações predadoras — apoiadas, aliás, pelos Estados Unidos.
A Primavera Árabe acabou contagiando até os americanos. O movimento Ocupe Wall St foi inspirado nela.
Com tudo isso, a agenda planetária mudou. Foi numa atmosfera internacional de protesto e inconformismo que emergiram estatísticas que mostram a espetacular concentração de renda ocorrida nos países ricos nos últimos trinta anos. Bradley Manning está na origem dessa mudança formidável que vai se operando no mundo.
Por isso é um herói, como reconheceram os leitores do Guardian. Leia mais: ‘Estava certo de que ia morrer naquela cela animalesca’ Leia mais: “Peço ao presidente Obama para fazer a coisa certa”
Paulo Nogueira
No Diário do Centro do Mundo

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