Os tucanos não captaram o espírito do tempo. Por isso caíram no desprezo dos eleitores.
Alguma surpresa com o esfacelamento do prestígio do PSDB dramaticamente exposto numa pesquisa do Ibope?
No sudeste do Brasil, sua maior base, o número de pessoas que
disseram votar no PSDB caiu pela metade entre 1995 e 2012. Situa-se hoje
na esquálida faixa de 7%. É uma marcha rumo à insignificância.
Basta o PSDB olhar para o espelho para identificar a culpa da
derrocada: ele próprio. A inércia de FHC pós-presidência permitiu que
Serra tomasse o comando tucano e conduzisse o partido para uma direita
predatória que vai completamente contra o zeitgeist — o espírito do
tempo.
O PSDB, transformado numa mistura de UDN e Arena, ganhou um
estrepitoso apoio da mídia, mas perdeu votos, influência e sentido.
Hoje, o PSDB é basicamente apenas contra Lula e o PT. Foi patético, na
última campanha municipal em São Paulo, ver Serra tentar atacar Haddad
ao vinculá-lo a Dirceu como se este fosse satã. Ele repetiu Mônica Serra
quando disse a eleitores pobres, sem saber que um repórter a ouvia, que
Dilma era a favor da morte de criancinhas por sua posição diante do
aborto.
O espírito do tempo é a luta contra a iniquidade social que varreu o mundo nos últimos anos.
Acaba de ser divulgado um relatório da Oxfam,
uma prestigiosa organização filantrópica baseda na Inglaterra e
presente em dezenas de países. O estudo foi destaque em toda parte. Seu
título é autoexplicativo: “O Custo da Desigualdade: Como a Riqueza e a
Renda Extremas Fazem Mal a Todos”.
Segundo a Oxfam, o patrimônio somado das 100 pessoas mais ricas do
mundo — 240 bilhões de dólares — seria capaz de acabar quatro vezes com a
pobreza global.
“Não podemos mais fingir que a criação da riqueza para poucos
beneficiará inevitavelmente a todos”, diz Jeremy Hobbs, diretor
executivo da Oxfam. “Frequentemente o contrário acontece. A concentração
dos recursos nas mãos de uma minoria deprecia a atividade econômica e
dificulta a vida de todo o resto, particularmente dos que estão na parte
de baixo da pirâmide social. Em um mundo em que até mesmo os recursos
básicos como terra e água estão se tornando escassos, não podemos
permitir que a riqueza se concentre nas mãos de poucos, enquanto muitos
lutam pelas sobras.”
Continuemos com Hobbs.
“Dos paraísos fiscais às leis frágeis trabalhistas, os ricos se
beneficiam de um sistema econômico global que é regido em seu favor. É
hora de os líderes políticos reformarem este sistema e fazerem com que
ele trabalhe para os interesses de toda a humanidade, e não apenas da
elite global.”
(Atenção: a menção às “leis frágeis trabalhistas” se aplica exemplarmente ao caso Dornelles x Globo, relatado por este Diário.)
Apenas para registro, a Oxfam citou o Brasil como um exemplo de país
que conseguiu conciliar crescimento e combate à pobreza. Não sei se o
estudo será divulgado no Brasil, mas é quase certo que, caso algum
jornal o divulgue, o elogio ao país seja simplesmente obliterado.
O PSDB, nos últimos anos, falou em justiça social? Propôs alguma coisa relevante? Alguém do partido parece incomodado com os extremos de riqueza e pobreza nacionais?
Não, não, sempre não.
Sendo assim, como imaginar que a pesquisa do Ibope pudesse ter resultado diferente?
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