NAZIJORNALISMO
Leandro Fortes, no Facebook
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A violência do CQC contra o deputado José Genoíno alcançou, essa semana,
um grau de bestialidade que não pode ser dimensionado à luz do
humorismo, muito menos no campo do jornalismo. Isso porque o programa
apresentado por Marcelo Tas, no comando de uma mesa onde se perfilam
três patetas da tristeza a estrebuchar moralismos infantis, não é uma
coisa nem outra.
Não é um programa de humor, porque as risadas que eventualmente desperta
nos telespectadores não vem do conforto e da alegria da alma, mas dos
demônios que cada um esconde em si, do esgoto de bílis negra por onde
fluem preconceitos, ódios de classe e sentimentos incompatíveis com o
conceito de vida social compartilhada.
Não é jornalismo, porque a missão do jornalista é decodificar o drama
humano com nobreza e respeito ao próximo. É da nobre missão do
jornalismo equilibrar os fatos de tal maneira que o cidadão comum possa
interpretá-los por si só, sem a contaminação perversa da demência
alheia, no caso do CQC, manipulada a partir dos interesses de quem vê na
execração da política uma forma cínica de garantir audiência.
A utilização de uma criança para esse fim, com a aquiescência do próprio
pai, revela o grau de insanidade que esse expediente encerra. O que se
viu ali não foi apenas a atuação de um farsante travestido de jornalista
a fazer graça com a desgraça alheia, mas a perpetuação de um crime
contra a dignidade humana, um atentado aos direitos humanos que nos
coloca, a todos, reféns de um processo de degradação social liderado por
idiotas com um microfone na mão.
A inclusão de um “repórter-mirim” é, talvez, o elemento mais emblemático
dessa circunstância, revelador do desrespeito ao ofício do jornalismo,
embora seja um expediente comum na imprensa brasileira. Por razões de
nicho e de mercado, diversos veículos de comunicação brasileiros têm
lançado, ao longo do tempo, mão dessa baboseira imprestável, como se
fosse possível a uma criança ser repórter, ainda que por brincadeira.
Jornalismo é uma profissão de uma vida toda, a começar da formação
acadêmica, a ser percorrida com dificuldade e perseverança. Dar um
microfone a uma criança, ou usá-la como instrumento pérfido de
manipulação, como fez o CQC com José Genoíno, não faz dela um repórter –
e, provavelmente, não irá ajudá-la a construir um bom caráter. É um
crime e espero, sinceramente, que alguma medida judicial seja tomada a
respeito.
Não existem repórteres-mirins, como não existem médicos-mirins, advogados-mirins e engenheiros-mirins.
Existem, sim, cretinos adultos.
E, a estes, dedico o meu desprezo e a minha repulsa, como cidadão e como jornalista.
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