Ir contra as conquistas trabalhistas das empregadas domésticas desafia qualquer lógica.
Danuza mais uma vez vacilou.
Não havia um editor na Folha para conversar com ela antes que o texto das empregadas domésticas fosse publicado?
Em certo momento, ela fala que não existe país com direitos
trabalhistas iguais aos do Brasil. Ora, onde ela foi arrumar uma
informação tão descabida?
Os direitos trabalhistas brasileiros, comparados aos da Escandinávia,
por exemplo, são primitivos. Na Noruega, as mulheres têm um ano de
licença maternidade, e os pais têm dez semanas de folga remunerada para
ajudar a cuidar dos bebês.
Na Suécia, creches governamentais que parecem hotéis cuidam durante a noite de crianças cujas mãe tenham trabalho noturno.
E a economia escandinava é florescente. Mídia nenhuma se atreve lá a fazer campanhas contra o “Custo Escandinávia”.
Mas o pior do artigo de Danusa não está na informação errada, e sim na lógica tortuosa.
Se a seguíssemos, os trabalhadores teriam jornadas de sete dias por
semanas e de 16 horas, como foi nos primórdios da era industrial.
Não haveria férias, não haveria aposentadoria, e as crianças de
famílias pobres iriam direto não para a escola mas para o trabalho.
Foi a Alemanha de Bismarck, na segunda metade do século 19, que criou
proteção aos trabalhadores. Não por espírito filantrópico, mas porque
havia uma intensa pressão dos sindicatos dos trabalhadores, e também
porque o governo temia uma revolução de esquerda.
Mais direitos para as empregadas domésticas é uma excelente notícia para elas e para a sociedade.
Quem não puder pagar vai aprender a cuidar das próprias coisas, e encontrará saídas alternativas. Em Londres, o recurso às cleaners, diaristas, é um fato da vida da classe média.
Você acerta com uma cleaner uma ou duas visitas por semana de duas ou três horas cada, e paga cerca de 35 reais a hora.
Fora disso, você mesmo lava a roupa, passa o aspirador e faz a louça. Há máquinas boas e baratas.
As inglesas que no passado já remoto trabalhavam como domésticas têm
hoje ocupações mais sofisticadas e mais bem pagas. Ninguém ficou ao
relento, como parece temer Danusa.
Assim como, na Alemanha bismarquiana, a indústria não se destruiu –
longe disso, como se vê hoje – porque os trabalhadores conquistaram
direitos.
Já é mais que hora de a classe média brasileira lavar a própria roupa suja. É fácil, como aprendi em Londres.
Paulo NogueiraNo Diário do Centro do Mundo
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