Da Carta Maior - 30/05/2013
Emir Sader
Trata-se de uma nova Aliança, que atualiza a infeliz iniciativa norte-americana da Aliança para o Progresso, dos anos 1960. Elas têm em comum a tentativa de criar um dique de contenção ao avanço de governos progressistas na América Latina. Na sua primeira versão, buscava prevenir que outros processos revolucionários não se seguissem ao de Cuba. Agora, se trata da tentativa de frear a incorporação de novos países ao poderoso movimento de integração de governos pós-neoliberais. Fracassou na primeira vez, vai fracassar desta vez também.
O projeto inicial dos EUA era ampliar a Nafta
para o conjunto do continente. O México, o melhor aluno do Império, foi o
primeiro contemplado com esse privilegio. O Chile correu se candidatar
como o próximo da fila, exibindo suas cartas de economia do livre
comércio.
A crise de 1994 no México – e a sublevação zapatista concomitante – fizeram os EUA alterar sua tática. Se deram conta que era demais que os países latino-americanos simplesmente se agregassem ao acordo já estabelecido – ainda mais se o primeiro país que havia aderido vivia a primeira crise específica do modelo neoliberal.
A proposta foi modificada para a Alca – Área de Livre Comércio das Américas –, que Bush propôs no Canadá, em 2000, e só teve um voto contra: o de Hugo Chávez. Todos os outros – FHC, Menem, Fujimori et caterva – a favor.
A fase final da negociação da Alca pegou o Brasil já não mais com a dupla FHC-Celso Lafer, mas com Lula-Celso Amorim, e o Brasil inviabilizou a Alca, abrindo caminho para a priorização dos projetos de integração regional.
Os EUA tiveram que readequar sua estratégia, passando a centrar-se nos Tratados bilaterais de livre comercio. Retomou a prioridade do Chile, depois países da América Central – a começar pelo Panamá e pela Costa Rica –, depois com o Peru e a Colômbia.
Porém esse processo foi afetado diretamente pela emergência dos governos progressistas em alguns dos países mais importantes do continente, assim como pelo enfraquecimento do México – ponta de lança dos EUA no continente –, assim como pela recessão internacional, que tem na economia norte-americana um dos seus epicentros. Ao isolamento político dos EUA diante de novos organismos regionais – como Unasul, o Banco do Sul, o Conselho Sul-americano de Defesa, a Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe, se somou o isolamento econômico, porque os EUA não têm o que propor aos países da região, com sua economia em recessão.
Assim, mesmo países que assinaram Tratados de Livre Comércio com os EUA – como o Peru e a Colômbia – desenvolvem comércio crescente com os países do Mercosul – em particular com o Brasil. O Peru, por exemplo, tem na China e no Brasil seus principais parceiros comerciais, apesar do TLC com os EUA.
Mais recentemente os EUA incentivaram a formação da Aliança do Pacífico, buscando agrupar o México, o Chile, a Colômbia e o Peru. Uma aliança débil, não apenas pela recessão dos EUA, como também porque – como foi dito – dois desses países tem fluido comercio com países da região fora dessa Aliança. Da mesma forma, o Chile está prestes a derrotar a um dos mais entusiastas promotores dessa Aliança – Sebastien Piñera –, substituído provavelmente por Michele Bachelet, de Partido Socialista.
Os órgãos da mídia vinculados aos EUA – dentre os quais especialmente El Pais – buscam projetar um falso dinamismo dessa Aliança, comparado com uma estagnação do Mercosul. (O mesmo jornal que publicou recentemente um ridículo articulo dizendo que o México disputa com o Brasil a liderança continental).
Isto se dá justamente quando o Mercosul se amplia – com o ingresso da Venezuela, do Equador e da Bolívia – e se dota de condições de formular projetos de integração regional consistentes, de caráter industrial, tecnológica, educacional, entre outras esferas, possibilidade totalmente vedada aos países da Aliança, baseados no livre comercio e não na integração regional.
A crise de 1994 no México – e a sublevação zapatista concomitante – fizeram os EUA alterar sua tática. Se deram conta que era demais que os países latino-americanos simplesmente se agregassem ao acordo já estabelecido – ainda mais se o primeiro país que havia aderido vivia a primeira crise específica do modelo neoliberal.
A proposta foi modificada para a Alca – Área de Livre Comércio das Américas –, que Bush propôs no Canadá, em 2000, e só teve um voto contra: o de Hugo Chávez. Todos os outros – FHC, Menem, Fujimori et caterva – a favor.
A fase final da negociação da Alca pegou o Brasil já não mais com a dupla FHC-Celso Lafer, mas com Lula-Celso Amorim, e o Brasil inviabilizou a Alca, abrindo caminho para a priorização dos projetos de integração regional.
Os EUA tiveram que readequar sua estratégia, passando a centrar-se nos Tratados bilaterais de livre comercio. Retomou a prioridade do Chile, depois países da América Central – a começar pelo Panamá e pela Costa Rica –, depois com o Peru e a Colômbia.
Porém esse processo foi afetado diretamente pela emergência dos governos progressistas em alguns dos países mais importantes do continente, assim como pelo enfraquecimento do México – ponta de lança dos EUA no continente –, assim como pela recessão internacional, que tem na economia norte-americana um dos seus epicentros. Ao isolamento político dos EUA diante de novos organismos regionais – como Unasul, o Banco do Sul, o Conselho Sul-americano de Defesa, a Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe, se somou o isolamento econômico, porque os EUA não têm o que propor aos países da região, com sua economia em recessão.
Assim, mesmo países que assinaram Tratados de Livre Comércio com os EUA – como o Peru e a Colômbia – desenvolvem comércio crescente com os países do Mercosul – em particular com o Brasil. O Peru, por exemplo, tem na China e no Brasil seus principais parceiros comerciais, apesar do TLC com os EUA.
Mais recentemente os EUA incentivaram a formação da Aliança do Pacífico, buscando agrupar o México, o Chile, a Colômbia e o Peru. Uma aliança débil, não apenas pela recessão dos EUA, como também porque – como foi dito – dois desses países tem fluido comercio com países da região fora dessa Aliança. Da mesma forma, o Chile está prestes a derrotar a um dos mais entusiastas promotores dessa Aliança – Sebastien Piñera –, substituído provavelmente por Michele Bachelet, de Partido Socialista.
Os órgãos da mídia vinculados aos EUA – dentre os quais especialmente El Pais – buscam projetar um falso dinamismo dessa Aliança, comparado com uma estagnação do Mercosul. (O mesmo jornal que publicou recentemente um ridículo articulo dizendo que o México disputa com o Brasil a liderança continental).
Isto se dá justamente quando o Mercosul se amplia – com o ingresso da Venezuela, do Equador e da Bolívia – e se dota de condições de formular projetos de integração regional consistentes, de caráter industrial, tecnológica, educacional, entre outras esferas, possibilidade totalmente vedada aos países da Aliança, baseados no livre comercio e não na integração regional.
Trata-se de uma nova Aliança, que atualiza a infeliz iniciativa norte-americana da Aliança para o Progresso, dos anos 1960. Elas têm em comum a tentativa de criar um dique de contenção ao avanço de governos progressistas na América Latina. Na sua primeira versão, buscava prevenir que outros processos revolucionários não se seguissem ao de Cuba. Agora, se trata da tentativa de frear a incorporação de novos países ao poderoso movimento de integração de governos pós-neoliberais. Fracassou na primeira vez, vai fracassar desta vez também.
Emir Sader. Sociólogo e cientista político
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