A morte era esperada, apesar da autocensura a que se impuseram os
veículos parceiros. Por aqui pela rede, já sabíamos que o câncer tinha,
para usar uma metáfora bem batida, vencido a batalha. A reflexão a ser
feita, no entanto, não é sobre o homem. Mas sobre sua atuação
profissional ou empresarial. E, podemos dizer, sem medo de errar, que
suas decisões editoriais dos últimos 13 anos foram uma catástrofe.
O padrão Veja já tinha começado a degringolar nos anos 90. Mas ainda era
uma revista confiável, com boas reportagens. Lembro-me da ótima
reportagem sobre os 100 anos de Canudos do ainda excelente Roberto
Pompeu e de um especial sobre, acreditem, Che Guevara.
Mas aí Civita tomou duas decisões absolutamente erradas: "murdoquizou" a
revista e a levou para a ultradireita editorial. O que quis fazer foi
tentar antecipar tendências, principalmente, com a fuga de leitores para
a rede. Antecipou a desqualificação do seu principal produto.
A admiração de Roberto por Murdoch era manifesta. Ele chegou a declarar
que era um "exemplo a ser seguido". Mas o exemplo a ser seguido logo
ficaria conhecido como o baluarte de um "jornalismo sem escrúpulos". A
partidarização e a radicalização vieram neste rastro, mas não se
explicam somente pela imitação do australiano. Civita percebeu que a
rede estava arrastando seus leitores mais progressistas. Optou por ficar
com o que havia de mais reacionário da população brasileira.
Mas suas atitudes murdochianas não tiveram qualquer resultado positivo.
Ano passado o faturamento da Abril foi de R$ 60 milhões. Uma ninharia
para um grupo que tem dezenas de revistas e que já ostentou mais de R$
200 mi em faturamento.
Grande parte do prejuízo pode ser creditada ao seu carro-chefe. Ler a
Veja hoje é motivo de vergonha para seus leitores. Como disse um
engraçado aluno meu, leitor da Veja sofre bullying. Não, não sofre.
Sofre de cegueira editorial mesmo...
Abaixo, dois momentos da Veja. De um lado, a boa matéria sobre Che
Guevara nos anos 90. Embora a capa fosse aparentemente elogiosa, a
reportagem foi crítica, no sentido nobre do termo. Do outro, o panfleto
que mereceu a repreensão do jornalista americano Jon Anderson, o maior
biógrafo do personagem histórico, que advertiu ter sido citado
incorretamente. Um mico internacional.
Em tempo: observem que a Veja pôs uma estrela do PT na foto da edição mais recente.
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Do Blog O Esquerdopata.
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