terça-feira, 28 de maio de 2013

Civita morreu agora, mas matou a Veja primeiro

A morte era esperada, apesar da autocensura a que se impuseram os veículos parceiros. Por aqui pela rede, já sabíamos que o câncer tinha, para usar uma metáfora bem batida, vencido a batalha. A reflexão a ser feita, no entanto, não é sobre o homem. Mas sobre sua atuação profissional ou empresarial. E, podemos dizer, sem medo de errar, que suas decisões editoriais dos últimos 13 anos foram uma catástrofe.
O padrão Veja já tinha começado a degringolar nos anos 90. Mas ainda era uma revista confiável, com boas reportagens. Lembro-me da ótima reportagem sobre os 100 anos de Canudos do ainda excelente Roberto Pompeu e de um especial sobre, acreditem, Che Guevara.
Mas aí Civita tomou duas decisões absolutamente erradas: "murdoquizou" a revista e a levou para a ultradireita editorial. O que quis fazer foi tentar antecipar tendências, principalmente, com a fuga de leitores para a rede. Antecipou a desqualificação do seu principal produto.
A admiração de Roberto por Murdoch era manifesta. Ele chegou a declarar que era um "exemplo a ser seguido". Mas o exemplo a ser seguido logo ficaria conhecido como o baluarte de um "jornalismo sem escrúpulos". A partidarização e a radicalização vieram neste rastro, mas não se explicam somente pela imitação do australiano. Civita percebeu que a rede estava arrastando seus leitores mais progressistas. Optou por ficar com o que havia de mais reacionário da população brasileira. 
Mas suas atitudes murdochianas não tiveram qualquer resultado positivo. Ano passado o faturamento da Abril foi de R$ 60 milhões. Uma ninharia para um grupo que tem dezenas de revistas e que já ostentou mais de R$ 200 mi em faturamento. 
Grande parte do prejuízo pode ser creditada ao seu carro-chefe. Ler a Veja hoje é motivo de vergonha para seus leitores. Como disse um engraçado aluno meu, leitor da Veja sofre bullying. Não, não sofre. Sofre de cegueira editorial mesmo...
Abaixo, dois momentos da Veja. De um lado, a boa matéria sobre Che Guevara nos anos 90. Embora a capa fosse aparentemente elogiosa, a reportagem foi crítica, no sentido nobre do termo. Do outro, o panfleto que mereceu a repreensão do jornalista americano Jon Anderson, o maior biógrafo do personagem histórico, que advertiu ter sido citado incorretamente. Um mico internacional.

Em tempo: observem que a Veja pôs uma estrela do PT na foto da edição mais recente.



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Do Blog O Esquerdopata.

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