Para deputado, gastos do STF com viagens de mulheres de ministros para o exterior precisam ser investigados
O ministro do STF, Gilmar Mendes, participa do 3º Seminário Internacional de Direito Administrativo e Administração Pública Foto: Fábio Rodrigo Pozzebom-Ag.Brasil |
O Supremo Tribunal
Federal (STF) gastou 608 mil reais com passagens para esposas de
ministros acompanharem os maridos em viagens ao exterior entre 2009 e
2012. A corte apontou uma norma interna como amparo legal para as
despesas. Auditor-fiscal, o deputado Amauri Teixeira (PT-BA) acredita
que um ato interno não serve como justificativa. Por isso, pedirá ao
Tribunal de Contas da União (TCU) que investigue o assunto e, no
limite, cobre a devolução do dinheiro.
“Imagine
o STF diante de resoluções internas de tribunais menores ou das cinco
mil câmaras de vereadores autorizando pagar passagens para esposas de
agentes públicos. Não dá para aceitar um ato interno desse”, diz.
Segundo
ele, o Supremo recorreu a uma resolução interna legal porque não
existe na legislação uma lei a amparar despesa com viagens de mulheres
de servidores públicos.
Na
ausência de um respaldo mais geral, e diante da autonomia orçamentária
do STF, o gasto com as passagens passa a ser uma decisão tomada com
base em princípios.
“Na Câmara,
estamos em um esforço para ter um mínimo de moralidade, cortando
salários extras, cortando gastos. O STF deveria dar o exemplo, mas
continua com essas regalias”, diz Teixeira.
“O Judiciário é hoje a verdadeira caixa-preta da República. Precisamos abri-la à sociedade.”
Dos
608 mil reais gastos com as mulheres dos ministros do STF, 437 mil
custearam viagens de Guiomar Feitosa de Albuquerque Ferreira Mendes,
esposa do ministro Gilmar Mendes. Entre 2009 e 2011, ela acompanhou o
marido 20 vezes ao exterior, gasto médio de quase 22 mil reais por
viagem – em 2012, não há registro de viagens dela. O ato interno citado
pelo STF como fundamento legal para o gasto com as passagens também
respalda que elas sejam de primeira classe.
Os gastos com passagens de esposas de ministros foram objeto de reportagem do jornal O Estado de S. Paulo na segunda-feira 20. Estão divulgados na página oficial do tribunal na internet (http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=transparenciaPassagens)
As
passagens mais caras foram emitidas em nome de Guiomar Mendes: 48 mil
reais para uma viagem descrita como “China e França”, em setembro de
2009. No caso de destino único, as mais caras também foram dela: 46 mil
reais em viagem ao Egito, em março de 2009.
Nas
duas ocasiões, Gilmar Mendes presidia o STF e teve agendas oficiais no
exterior. Dos 437 mil reais em passagens para a esposa, 350 mil
referem-se a deslocamentos durante a administração de Gilmar, que
comandou a corte entre abril de 2008 e abril de 2010. Foi na gestão dele
que, em 2009, o Supremo concluiu o julgamento de um processo
administrativo cuja decisão deu origem a uma resolução de setembro 2010
que disciplinou o gasto com passagens para as mulheres de ministros.
Até
esta resolução ser editada, a despesa com passagens para esposas de
ministros tinha amparo em outras duas normas internas do STF, uma dos
anos 70, outra dos anos 80.
Para
Amauri Teixeira, esse tipo de gasto é mordomia e deveria merecer o
questionamento da mídia e dos demais poderes da República. Mas, diz
ele, “todo mundo tem medo do Judiciário” porque se trata de uma
instituição com um poder único: o de condenar. “Há receio de
arbitrariedade nos julgamentos. Mas a imprensa livre não pode ter medo.”
André BarrocalNo CartaCapital
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