Aos 50 anos, ela alimenta uma
indústria milionária de processos contra quem mostre o que ela fez
(que, aliás, não tem nada de mais).
Xuxa é a rainha dos processos: processou o Google (perdeu), a Record
(ganhou as duas vezes), a Folha Universal (ganhou), o produtor do filme Amor, Estranho Amor (levou), e a TV Bandeirantes (idem). Cada um à sua maneira, todos faziam referência a seu passado.
Ela acaba de dar uma festa para 600 pessoas para comemorar seus 50
anos. Os mestres de cerimônias eram Roberto Justus e Deborah Secco. O
show previsível de bajulação chegou ao auge quando Deborah disse o
seguinte: “Hoje estou aqui e posso dizer que levei para minha vida uma
lição que você deixou quando disse: ‘O cara lá de cima vai me dar’”.
Imagino que o cara lá de cima seja Deus (Deborah Secco é evangélica,
acredite), e você pode pensar nos indicadores dela apontando para o
alto, mas eu não queria me apegar à interpretação da declaração. Xuxa
deveria ouvir a máxima do poeta grego Agatão: “Só uma coisa é negada aos
deuses: o poder de desfazer o passado”.
Xuxa fez uma bela carreira, mas sofre com o que considera – ou finge
considerar – erros da juventude. Como Roberto Carlos, quer controlar
tudo o que lhe diz respeito. A constituição favorece esse tipo de coisa –
criando, em contrapartida, uma indústria milionária de ações
judiciais.
É uma forma de censura. Assim como é “proibido” falar do acidente em
que Roberto teve de amputar a perna direita na altura da canela, não é
permitido mostrar fotos de Xuxa pelada – ou sequer escrever sobre elas
(a apresentadora posava de topless até para revistas generalistas cabeça
oca como Manchete). A cada vez que três pessoas falam Amor, Estranho Amor,
uma sirene toca em sua mansão: “Opa, lá vem a cena em que eu faço sexo
com um menino”. Esse zelo excessivo levou à retirada de um post do
jornalista André Forastieri do portal R7 (ele está aqui).
Sua filha Sasha, de 14 anos, virou agora um pretexto para os vetos. “Foi uma grande decepção para ela (saber que Xuxa fez fotos nua).
Além de ser mãe, eu sou o ídolo dela; ela tem orgulho do meu
trabalho”, disse em depoimento à Justiça. “Tenho que provar quase
diariamente que o que eu faço hoje não tem nada ver com o meu passado”.
Como assim, nada a ver? O fato de ter sido capa de revistas masculinas
certamente a ajudou a ser reconhecida e, afinal, trabalhar na Globo. O
programa infantil que apresentou (não que o de hoje não seja infantil,
mas o de ontem tinha crianças) foi acusado de “sexualizado”, entre
outras coisas. Ela costumava se apresentar de minissaia para seus
baixinhos. A acusação era moralista – mas é de se pensar se Xuxa não
concordaria, atualmente, com a patrulha. Do que Sasha se envergonharia?
Das músicas retardadas que a mãe cantava? Nesse caso, seria
compreensível.
A dureza é que se trata de uma luta inglória. As imagens estão na
internet, bem como o filme (não vou dar o link). Onanistas do Brasil
guardam as edições (se não as venderam por uma boa grana) e escaneiam as
páginas.
Há alguns anos, o escritor americano Hart Williams cunhou uma
expressão: Síndrome de Linda. Era uma alusão às atrizes pornôs que se
arrependiam e passavam a se autoflagelar ou atacar seus supostos
exploradores. Linda era Linda Lovelace, a estrela do clássico Garganta Profunda,
de 1972. Ela se tornou, na maturidade, uma ativista antipornografia.
Deu palestras, escreveu livros, o diabo. O diretor, seu marido à época,
um homem violento, a teria forçado a fazer as cenas. “Quando você
assiste o filme, você está me vendo ser estuprada. Havia uma arma
apontada para minha cabeça o tempo todo”.
Com tudo isso, Linda nunca tentou tirar Garganta Profunda de
circulação (aliás, está disponível em DVD). Não se ouviu falar de que
Pelé, a ex-empresária Marlene Mattos ou algum outro cara lá de cima a
tenha obrigado a tirar a roupa. A vitimização de Xuxa é uma
mistificação. Ao contrário de Linda Lovelace, Xuxa só tem a si mesma
para “culpar” pelo que fez nos anos 80.
Kiko NogueiraNo DCM
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